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Entrevista

A empresa que não faz um piloto de IA começa a ficar para trás

Para o executivo Cleber Morais, da AWS, a inteligência artificial será o grande diferencial competitivo este ano

24/03/2024 20h00

Foto: Divulgação

Com mais de 30 anos na indústria de TI, o diretor-geral de vendas da AWS América Latina, Cleber Morais, tem um recado para empresas de todos os setores: quem não investir em tecnologia vai dançar. Morais atuou na Schneider Electric, Bematech, Avaya e Sun Microsystems. Em 2021 e 2022 foi eleito um dos 50 líderes de TI mais influentes na Ibero-América. Ele não entrega a expectativa de crescimento local da Amazon Web Services para 2024. Assim como não diz quantos clientes tem no Brasil. Nem o volume de crédito que a empresa disponibilizou em 13 anos no País. Faz parte do jogo, disputado num mercado que mal chega a 10% de sua potencialidade, e que deve ter em 2024 seu ano de explosão. A bomba? Inteligência Artificial (IA). “Nosso objetivo global é treinar 29 milhões de pessoas em nuvem, que é a infraestrutura necessária para Inteligência Artificial”, disse.

Nos próximos dois anos, segundo a Gartner, as aplicações nativas em nuvem estarão no centro de 95% das iniciativas digitais. A AWS diz estar preparada para esse tsunami tecnológico que deve arrastar para a nuvem uma gigantesca carga de trabalho de centenas de corporações — grande parte vinda de IA. A empresa oferece 240 serviços, como armazenamento, bancos de dados, redes, análises, aprendizado de máquina e Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT), dispositivos móveis, segurança, desenvolvimento, implantação e gerenciamento de mídia e aplicativos.

A AWS diz ser o maior serviço de computação em nuvem desde 2006, quando foi inaugurada. O que fez a divisão ganhar mercado e manter a liderança?

Uma expressão diz que “não existe algoritmo de compressão para experiência”. Como pioneiros, ganhamos muita experiência. Começamos levando capacidade computacional através da internet [o cliente paga conforme consome]. Esse movimento partiu da necessidade das startups, segmento no qual temos hoje 80% de share no Brasil. No mundo, a AWS está com startups como Uber, Netflix, Airbnb; no Brasil, estamos com Vetex, Quinto Andar e outras. E, claro, começamos a treinar o mercado. E fomentar com créditos: a AWS deu mais de US$ 3,5 bilhões de créditos para startups iniciarem negócios. Nubank e iFood usaram crédito da AWS.

Depois de startups, qual setor veio a seguir no consumo desse serviço?

A segunda indústria foi a das fintechs. Elas perceberam que era possível inovar no segmento financeiro operando um mercado que demanda inovação. PicPay, PagSeguro e o próprio Nubank começaram a oferecer um modelo de negócio e acessibilidade aos clientes, e o mercado passou a sofrer transformação através da inovação. A partir desse momento, os grandes clientes, como BTG, Inter e Itaú, entenderam que precisavam mais agilidade e flexibilidade. No Itaú, 70% dos workloads [processamento da ponta do cliente] rodam na nuvem. Natura, Embraer e Petrobras vieram praticamente nessa mesma fase.

Qual é o momento atual dos negócios baseados na nuvem?

É o das pequenas e médias empresas. Os mesmos serviços de segurança que fornecemos para um grande banco eu levo para uma empresa média e pequena ao custo do que elas forem usando.

Pequenas e médias são estratégicas para a AWS ou uma obrigação?

Essas empresas são core da nossa estratégia. Temos desde os grandes clientes, como bancos, até pequenos que utilizam solução via integrador ou da própria AWS, como segurança, armazenamento… Essas pequenas empresas estão com seu legado muito antigo, têm sofrido problemas de segurança ­— e a AWS tem parceiros e conhecimento interno para ajudá-las.

Colocá-las em um ambiente contemporâneo representa mais custo, certo?

A AWS precisa entender, convencer e educar a pequena empresa. Para isso temos milhares de parceiros que conhecem nossa estrutura e levam suporte. Como a Vetex, a Creditas… Esse é um diferencial competitivo.

Quantas empresas já estão na nuvem no Brasil?

Menos de 10%. A gente até tem a sensação de que está todo mundo na nuvem quando usamos Alexa, Uber ou Netflix. Ou mesmo o Pix. O tamanho ainda é pequeno.

Desses 90% restantes, quais setores devem liderar a demanda por nuvem nos próximos anos?

Setor financeiro no Brasil sempre andou na frente da utilização tecnológica. Brasil é referência global. Nubank esteve conosco num evento para 60 mil pessoas apresentando seu case. O agro tem capacidade financeira para usar tecnologia como diferencial competitivo. Dois setores que vêm expandindo muito são insurance tech [seguros] e saúde, que depende de dados, monitoramento, histórico.

Além de telemedicina, como o segmento de saúde pode puxar a demanda por nuvem e outros serviços da AWS?

Desde o hospital, que pode ter o benefício da nuvem e da IA (Inova HC); de um laboratório de análises clínicas (Fleury e Dasa) ou de um laboratório de pesquisas, como a Merck ou a Pfizer, que durante a pandemia encurtou um ciclo de produção de vacina de oito para dois anos. Sem capacidade computacional isso não seria possível. As farmácias também entram nessa.

Ou seja, quem se atrasar no uso de TI vai perder competitividade, é isso?

Não tem mais como você não utilizar tecnologia como diferencial competitivo. As empresas que não migrarem para este modelo estão fora. O ponto importante é que, quando olhamos para o futuro, a nuvem é a base da Inteligência Artificial. Não existe IA sem a nuvem. E você usa grandes volumes de dados a um custo adequado. IA sempre esteve no nosso core a agora estamos mergulhados neste serviço.

Podemos prever uma demanda exponencial de IA. O Brasil está capacitado?

Sim. Desde que apostamos no Brasil há 13 anos como nossa 8ª região do mundo — uma região significa cluster de datacenters, para permitir baixa latência, alta disponibilidade e segurança —, investimos US$ 3,8 bilhões no crescimento dessa estrutura. Isso impactou o ecossistema de fornecedores em mais US$ 4,8 bilhões.

O Magazine Luiza entrou no segmento de serviço de nuvem com a Magalu Cloud. Eles advogam ter os equipamentos todos no Brasil e que isso torna mais fácil trabalhar e entender o processo e o cliente…

Nós temos isso há 13 anos aqui. Temos 33 regiões no mundo, onde você pode ter um serviço que roda fora do Brasil. Temos coisas para garantir uma baixa latência e os dados concentrados aqui; e existem coisas que podem rodar em outras regiões. A AWS é uma das mais bem preparadas para receber esse boom.

Qual vai ser o impacto da IA nos negócios nos próximos anos?

O JP Morgan calcula que o impacto nos negócios nos próximos 10 anos será de US$ 7 trilhões. Isso mostra a exponencialidade que você está falando. Não se diz ‘se’ os clientes devem migrar para a nuvem, mas quando e como. O cliente que não está fazendo um piloto de IA começa a ficar muito para trás.

A AWS é mais o I ou o A do IA?

Eu diria que a AWS é mais o A. Temos três pilares de onde olhamos o futuro de forma a ajudar esses clientes. O primeiro é relativo à fundação. Você precisa ter processadores. Na IA, é preciso treinar os modelos. Nós temos nosso próprio processador que faz training e inferência. Isso sem contar outros em parceria com a Nvidia. Esse recurso já reflete no custo mais baixo para o cliente. Tem um segundo pilar que é o conceito de segurança e guard-rails. Ou seja, como eu posso usar um dado de maneira segura, sem que ele dê uma resposta diferente do que está no escopo da pergunta. A resposta tem que ser politicamente correta. O Bedrock [serviço da AWS] gerencia milhares de LLMs [Large Lenguage Model, um modelo de machine learning treinado para aprender a partir de enormes bases de dados], como ChatGPT, AI21… O terceiro é a aplicação: temos o CodeWhisperer, um software que acelera o desenvolvimento e traz IA para ajudar os programadores. Esses três layers nos preparam para a exponencialidade da demanda.

Nesse cenário de incremento da demanda, como a AWS lida com o crescimento da concorrência?

Como falei, se a quantidade de utilização de nuvem se resume a 10% do mercado, temos 90% para desenvolver. E não só pela AWS. O crescimento desse ambiente é bom para todo mundo. Aí entra a experiência de levar cada vez mais inovação para o cliente. No ano passado, desenvolvemos mais de cinco inovações de serviço por dia. O cliente sempre precisa mais agilidade e menor tempo de resposta. A concorrência é sadia para o mercado.

Qual a maior conquista desde que vocês começaram?

Democratizar a tecnologia. Temos cliente que gasta US$ 1 e outros que gastam milhões de dólares. No ano passado trabalhamos com mais de 600 clientes para entrar no ambiente deles, fazer consultoria praticamente de graça e ensinar esse potencial comprador dos nossos serviços a reduzir seus custos. Em alguns casos o cliente conseguiu obter redução de até 30% no gasto. Também ajudamos no entendimento da necessidade de inovação para aumentar sua produtividade e a satisfação do cliente dele. Desde o lançamento da AWS, em 2006, já reduzimos o preço do serviço 134 vezes.

Qual o segredo para baixar o preço?

Apostar em inovação o tempo todo. Temos processadores lançados quase anualmente. O cliente pode migrar de uma infraestrutura que vinha usando para uma mais atualizada, mais eficiente e tem benefício, em alguns casos, de até 40% no price performance. Mais que isso: ter volume maior de clientes traz benefício, que é repassado para o próprio usuário. E cada vez que o cliente trabalha de maneira mais eficiente ele trabalha para levar mais cargas de trabalho para aquele ambiente. Ou seja, eu dou benefício financeiro para ele, levo mais serviços a ele, ele utiliza de melhor forma e traz mais workloads ou traz mais serviços. E assim os dois crescem ao mesmo tempo.

Qual, na sua opinião, é a maior contribuição da AWS no Brasil?

Os unicórnios: 90% estão com a AWS. Não só fomentamos essas startups por meio de crédito, mas também com arquitetura, capacitação e treinamento. Capacitamos muitas pessoas em parcerias com universidades. Nosso objetivo global é treinar 29 milhões de pessoas em nuvem, que é a infraestrutura para Inteligência Artificial.

Fonte: Isto É Dinheiro