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Sustentabilidade

Corredores ecológicos reduzem acidentes com animais nas estradas

Algumas concessionárias de rodovias apostam em ações para reduzir atropelamentos de animais

10/08/2020 10h25

Foto: Divulgação

Entre as medidas com potencial de reduzir em quase 40% as ocorrências de acidentes envolvendo animais na pista estão corredores ecológicos, passagens de fauna e sinalização adequada. Dentro dos processos de licenciamento são definidas algumas providências, nem sempre cumpridas e alvo de ações judiciais. Porém, os exemplos positivos, embora minoria, existem e algumas concessionárias de rodovias brasileiras vão muito além do que é exigido por lei.

Na Concessionária Auto Raposo Tavares (Cart), que tem 444 km de corredor principal no estado de São Paulo, várias ações são desenvolvidas e muitas já deram resultados significativos, explica a coordenadora de meio ambiente da empresa, Thaís Pagotto. Na região, vivem espécies como jaguatirica, onça-parda, mão-pelada, cervo-do-pantanal, capivara e anta. “Nós fizemos 150 pontos de travessia e 93km têm telamento que conduz os animais a passarem pelas passagens subterrâneas. Isso tem sido um sucesso. Entre 2018 e 2019, as medidas trouxeram redução de 38% nas ocorrências com animais silvestres. Especificamente no município de Caiuá, a queda foi de 54%”, conta.

Em 2019, foi possível observar 10.539 registros de animais silvestres utilizando as passagens. Durante a pandemia do novo coronavírus, lembra Thaís, por conta da redução do número de veículos, os animais estão mais à vontade para se deslocar. “Dados da concessionária mostram que a presença de animais nas passagens de fauna também aumentou. Na região de Presidente Prudente, nos meses de janeiro até a primeira quinzena de abril deste ano, foram registradas 4.118 passagens, o que representa 30% de aumento em relação ao mesmo período do ano anterior”, ressalta.

Monitoramento

As ações incluem monitoramento constante e conscientização dos motoristas e das comunidades com foco na prevenção de acidentes. “Monitorar permite ações pontuais. Recentemente, instalamos cerquetes em uma área onde havia incidência de travessia de capivaras.” Além disso, a concessionária incentiva a pesquisa científica, ao instalar, em parceria com o Zoológico Municipal de Bauru, a primeira câmara fria do país para o armazenamento de material biológico de animais mortos. “Quando o animal é ferido, levamos para centros especializados. Quando, infelizmente, ocorre o óbito, a câmara fria permite estudos, evitando capturas”, diz Thaís.

O local serve de banco para a pesquisa de exemplares da fauna silvestre, para análises genéticas mais detalhadas e estudos sobre hábitos alimentare sem interferência no ambiente natural, sem interferência no ambiente natural.

A Rodovia do Sol (RodoSOL), concessionária da ES-060, no trecho entre Vitória e Guarapari, no Espírito Santo, também adotou medidas além das obrigatórias por lei. A estrada é considerada ecológica por ter sido concebida e projetada de forma a causar o menor impacto possível ao meio ambiente. “A preocupação com a preservação da natureza, da vida animal é, ao mesmo tempo, a prevenção de acidentes gerados pela eventual presença de animais na pista”, diz o diretor-presidente da concessionária, Geraldo Dadalto.

A rodovia tem sete sistemas de passagens de fauna ao longo dos 67km de extensão. “Essas estruturas agem como uma eficiente medida mitigatória, que visa reduzir o atropelamento de fauna e garantir a segurança dos motoristas. Nas entradas, em pontos estratégicos, próximos às áreas de mata, habitat natural de diversas espécies, a empresa instalou caixas de pegadas que registram travessia do animal pelo local”, explica a bióloga Franciane Almeida, que atua no programa ambiental da empresa.

Vidas salvas

Os faunodutos têm dimensões distintas e são acompanhados de estruturas complementares como telas de direcionamento que “induzem” o animal a utilizar o túnel como um caminho seguro para atravessar a rodovia. As passagens são vistoriadas periodicamente a fim de registrar as travessias e, também, gerar dados para os relatórios anuais. De novembro de 2003 a dezembro 2019, foram registradas 13.215 travessias de animais silvestres.

Entre as espécies que mais circulam pela Rodovia do Sol e utilizam os faunodutos estão os guaxinim mão-pelada, com 2.814 travessias, iraras (fuinha), com 1.896 registros, gambás (1.637), lagartos teiú (1.444) e cachorros-do-mato (879). Além desses, mais comuns, não são raras as presenças de animais como paca, capivara, tatu, cuícas, tamanduá-mirim e lontras.

“É fundamental dirigir com atenção, respeitando os limites de velocidade. Também é importante não alimentar animais silvestres como forma de evitar o desequilíbrio ecológico e levá-los a buscar alimentação fora do seu habitat, gerando risco para a própria sobrevivência do bicho”, diz Franciane. Além dos faunodutos, o programa incluiu a criação de passagem aérea para os animais terem mais uma opção de travessia.

Imprudência gera perdas em dobro

Todos os meses, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registra casos de pessoas feridas ou que foram a óbito após se envolverem em acidentes envolvendo animais nas rodovias do país. Dados levantados pela corporação, a pedido do Correio, revelam que, no ano passado, 94 pessoas morreram em ocorrências dessa natureza no país. O número de feridos também impressiona. De acordo com o levantamento, 1.269 pessoas precisaram de atendimento médico ou foram hospitalizadas nos 12 meses de 2019, após se envolverem em atropelamentos próximos das áreas de vegetação.

Neste ano, o número de casos apresentou leve baixa no primeiro semestre, em razão da redução de circulação por conta do isolamento social. No entanto, o número de registros continua elevado. Nos primeiros sete meses de 2020, foram registrados 684 acidentes envolvendo animais, que resultaram em 41 mortes e 687 pessoas feridas. No mesmo período do ano passado, foram 59 óbitos e 723 feridos. A maioria dos casos ocorre por conta do excesso de velocidade, falta de atenção à sinalização, que indica quando existe o risco da presença de animais na pista, ou até mesmo pela ausência de indicativos de que se trata de uma área com grande circulação da vida selvagem.

Perigos

Atualmente, no Brasil, apenas 12% das estradas estão pavimentadas, o que representa outro perigo. Nestes locais, os animais circulam com maior facilidade na via, que, muitas vezes, fica próxima das matas e permite acesso fácil. A ausência de iluminação nas estradas também é outro fator de risco. Nestes casos, a luz do veículo ofusca ainda mais a visão do animal, que, desorientado, encontra-se mais vulnerável para acidentes. A instalação de passagens subterrâneas e aéreas de fauna é a solução encontrada por muitos países que priorizam a preservação do meio ambiente. No Brasil, iniciativas do tipo ainda são modestas.

No Distrito Federal, a Estação Ecológica de Águas Emendadas recebeu dois corredores, com passagem de fauna na altura da BR-020. No mesmo dia em que os túneis foram instalados, já foi registrada a passagem de animais, como veados campestres. Para que não ocorra problemas, uma tela de proteção é instalada nas imediações, fazendo com que os animais se direcionem às regiões de travessia mais segura. No entanto, as telas têm sido alvo de vandalismo e de ações criminosas.

Fonte: Correio Braziliense