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Sustentabilidade

Cresce desmatamento da Mata Atlântica em quase 30%

Isso significa que foram 14.502 hectares a menos de vegetação nativa em todo o país, a maior perda desde 2016

27/05/2020 13h30

Foto: Divulgação

O desmatamento na Mata Atlântica aumentou 27,2% entre 2018 e 2019, segundo levantamento da ONG SOS Mata Atlântica em parceria com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgado nesta quarta (27), data em que se comemora o Dia Nacional da Mata Atlântica. Isso significa que foram 14.502 hectares a menos de vegetação nativa em todo o país, a maior perda desde 2016. Em Minas Gerais, onde foi registrado maior índice, a redução equivale a 6 mil campos de futebol no intervalo de um ano.

O estado mineiro perdeu 4.972 hectares de Mata Atlântica entre 2018 e 2019. Em segundo lugar vem a Bahia, com 3.523 hectares desmatados, seguida pelo Paraná, com 2.767 hectares desmatados. Realizado desde 1990, o chamado Atlas da Mata Atlântica é feito com imagens de satélite capturadas pelo Inpe.

Características do desmatamento

O estudo considera os trechos protegidos pela lei da Mata Atlântica em 17 estados brasileiros, do Rio Grande do Sul ao Tocantins, o que equivale a 15% do território nacional. Na época da chegada dos portugueses, a Mata Atlântica era conectada à floresta amazônica e constituía a segunda maior floresta tropical do Brasil, com uma área de mais 1 milhão de quilômetros quadrados.

Pela extensão do território nacional, o desmatamento em cada Estado tem particularidades, explica Mario Mantovani, diretor de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica.

Em Minas Gerais, a perda de hectares pode estar relacionada à derrubada da mata nativa para o plantio de eucaliptos e à produção do ferro-gusa, uma espécie de liga de ferro que necessita da queima de carvão vegetal em grandes fornos para ser revendido. Houve variação de 47% no índice de hectares derrubados em comparação a 2017 e 2018.

Na Bahia, a expansão do desmatamento seria fruto da atividade agropecuária na área conhecida como Matopiba, próxima à região de Cerrado. A variação no estado foi de 78%.

"Passar a boiada"

De acordo com o especialista, o aumento no Paraná estaria associado à extração de carvão vegetal, afetando especialmente às araucárias, símbolo paranaense. No final do ano passado, a "Operação Mata Atlântica em Pé", encabeçada pelo Ministério Público do estado, interceptou 14 toneladas de carvão vegetal extraído no estado.

"Percebemos um clima de 'liberou geral', e atividades que já eram ilegais ganharam escala", diz Mantovani. Para ele, posições como a expressa pelo ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles na reunião de 22 de abril — quando falou sobre "ir passando a boiada" em meio à pandemia —, são incentivo à exploração ilegal. "Nós estávamos com números de desmatamento em queda", explica.

Uma das saídas apontadas pela instituição é uma fiscalização mais rígida — não somente para garantir a prisão de desmatadores, mas para exigir a reposição da área explorada e desmatada, dando continuidade à floresta populada por 145 milhões de brasileiros.

E não só por nós: a Mata Atlântica abriga 15.700 espécies de plantas, 298 espécies de mamíferos, mais de 900 tipos de aves e 350 espécies de peixes. No total, concentra 5% de todos os vertebrados no mundo, segundo a instituição.

Boa notícia

Apesar da importância, resta apenas 12,4% da vegetação original em pé. A boa notícia dada pelo Atlas é que dois estados conseguiram zerar o índice de desmatamento: Alagoas e Rio Grande do Norte. Entre 2017 e 2018, Alagoas registrou 8 hectares de desmatamento, enquanto o Rio Grande do Norte teve 13 hectares.

No entanto, é preciso cautela na análise: mesmo nestes e em outros estados onde o desmatamento foi baixo, como São Paulo e Rio de Janeiro, pode haver o chamado "desmatamento formiga", ou seja, desmatamentos pequenos demais para serem captados por imagens de satélite. De acordo com a instituição, o fenômeno é ligado à construção de casas em beiras de rios, regiões de morros ou expansão de terrenos particulares.

Fonte: UOL