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Artigo

O que é Governança Humanizada?

Luana Lourenço

22/09/2020 17h00

Foto: Divulgação

O mundo pós-Covid-19 não será o mesmo. O que claramente percebemos nessa quarentena é um número maior de acessos às redes sociais, onde todos os olhares estão em aplicativos como WhatsApp, Facebook, Twitter, Instagram e outros recursos. Nessa nova era digital, os acessos às plataformas digitais para videoconferências também explodiram. Outras ferramentas que foram demandadas foram as de serviços de E-Commerce, plataformas de busca como o Google, Yahoo, Bing, Baidu e outros. Moral da história: estamos todos (mais) interligados!

Paralelamente a isso, nossos olhos puderam enxergar os aspectos luz e sombras das organizações. Vimos empresas que se dirigiam ao público com o bordão “aqui nós valorizamos as pessoas” utilizarem do contexto da pandemia para realizar demissões em massa e outras organizações que bancaram à duras penas a decisão de não demitir seus funcionários e também manter seus contratos com fornecedores. Essas empresas conquistaram não apenas atenção e dedicação de seus funcionários, como também de seus públicos de interesses, sobretudo de clientes, fornecedores e até dos investidores.

Se de um lado algumas empresas lançaram mão do oportunismo, o contraponto disso foi que diversas organizações uniram esforços para de fato resolver os problemas sociais, que eram sabidos que surgiriam como avalanche a partir da pandemia. Tal atitude não passou despercebida para a sociedade como um todo.

Estamos vendo empresas fecharem suas portas e novos negócios surgindo, o que representa um movimento natural de renovação do mercado. Outras crises vivenciadas pela humanidade originaram mudanças como essas. Contudo, outras novas questões emergirão, tanto de aspectos negativos, como de aspectos positivos.

Face a esse cenário de mudanças e incertezas, emerge uma enorme onda de movimentos sociais, que implicarão profundas reformas no sistema de gestão das organizações.

A Humanização

Há muito se fala de humanizar a administração, mas o que de fato ocorre são alguns indícios de humanização, que geralmente se concentra em uma área da empresa e no âmbito de um comitê de pessoas, por exemplo.  Contudo, ainda temos que resolver as desigualdades, que vêm sendo ainda mais acentuada com a pandemia. Além disso, precisamos resolver o racismo estrutural instalado na sociedade. Há muita negligência a ser resolvida. Precisamos olhar mais para as pessoas e para o nosso planeta.

Atualmente, existem profissionais dedicados a realizar uma advocacia colaborativa e humanizada, profissionais de Recursos Humanos que se dedicam a gerar processos de Gestão de Pessoas, alguns poucos Comitês de Pessoas, o Customer Experience e Employee Experience. Por trás de toda essa engrenagem, há uma busca constante pela valorização de Pessoas.

Sabe-se que a pandemia trouxe à tona os fatores ESG (Environmental, Social and Governance), em português ASG (Ambiental, Social e Governança) –  os investidores passaram a projetar seus olhares para investir somente em empresas que comprovem uma efetiva atuação com os fatores ESG, provocando grande reação no mercado de capitais.

O Pacto Global da ONU, o Sistema B, o Instituto Capitalismo Consciente e a Imperative 21 acabaram de lançar o movimento REDEFINA com vistas a acelerar a total redefinição do sistema capitalista, tornando-o mais consciente e as empresas mais humanizadas.

Ainda, estamos vivenciando uma profunda transformação social, onde a Governança Humanizada será protagonista nessa nova consciência global.

Governança Humanizada

É um sistema de governança totalmente redefinido, com vistas a criar políticas, normas e diretrizes que melhor atendam aos clamores sociais e tornem os negócios cada vez mais conscientes e orientados à valorização de pessoas. Requer o envolvimento de todos nas organizações, sobretudo no âmbito dos conselhos de administração.

A estruturação da governança envolve três premissas basilares: pessoas, planeta e lucro. As organizações que ainda não despertaram para esses preceitos devem se apressar em revisar suas políticas e cultura organizacional. Nesse sistema estão inseridos os fatores ESG.

Os pilares do capitalismo consciente fazem parte da Governança Humanizada: propósito maior, integração entre os stakeholders, liderança consciente e servidora e cultura consciente.

Também envolve uma revisão da cultura organizacional, adequando ao sistema de governança humanizada. Perpassa pelo comportamento organizacional, pela adoção do sistema de comunicação integrada, pelo compliance, pela área de gestão de riscos corporativos e as demais áreas das organizações. Contempla o desenvolvimento das lideranças, incluindo os membros do Conselho de Administração e seus Comitês de Assessoramento.

O cerne da Governança Humanizada reside na premissa: As empresas são feitas para servir. Elas devem estar a serviço da vida. Esse mesmo raciocínio aplica-se aos líderes e membros dos conselhos. Uma vez entendido esse preceito, a empresa torna-se apta para prosperar, é o que temos visto nas empresas humanizadas.

Os Metacapitais propostos pelo professor PhD Sean Esbjörn-Hargens são utilizados no Sistema de Governança Humanizada, a saber: humano, social, cultural, natural, psicológico, espiritual, saúde, financeiro e intelectual.

Na Governança Humanizada esse conjunto de Metacapitais são devidamente valorizados e funcionam como catalisadores da transição cultural de uma organização. Os efeitos são muito positivos e se estendem a todos os grupos de interesses.

Ainda, a Governança Humanizada opera com o modelo de 5 Forças Culturais:

  • Cultura da paz
  • Cultura da reciprocidade
  • Cultura da colaboração
  • Cultura do cuidado
  • Cultura da prosperidade sustentável

Esse modelo de 5 Forças Culturais promove uma série de mudanças positivas e duradouras nas organizações. Todos as pessoas inseridas no contexto são beneficiadas com essa transformação, gerando bem-estar para todos. O intuito aqui é olhar de fato para as pessoas, conferindo atenção devida ao fator humano presente em qualquer empresa ou instituição. A organização agrega valor tanto internamente como junto a seus stakeholders.

Quanto ao fator social, as parcerias com Organizações Sociais costumam promover efeitos positivos, sobretudo quando os colaboradores e familiares são envolvidos no processo. O Terceiro Setor precisa dessa integração com as empresas, e estas são beneficiadas com essa relação mais próxima. Existem diversas Organizações Não-Governamentais (ONG) que realizam um trabalho sério e comprometido junto à sociedade, justamente porque elas atendem as classes menos favorecidas.

As ONGs que operam com boas práticas de governança e que obtiveram o Selo Doar são ótimas referências para realizar parcerias entre empresas. Muitas delas precisam do apoio de todos para prosseguir realizando o bem-estar social tão necessário diante de tantas desigualdades.

Em suma, as empresas devem despertar para esse novo ciclo que se inicia: Pessoas, Planeta e Lucro.  

Consciência e Humanização serão destaques nessa nova era digital, sobretudo nas organizações.

Luana Lourenço - Graduada em Direito pela UCSAL. Pós-graduada em Direito Empresarial com especialização em Compliance Avançado pela FGV Direito Rio. Cursa o MBA em Management no IAG PUC-RIO e Pós-Graduação em Psicologia Positiva pela PUC-RS. Professora convidada de Pós-graduação na Universidade Católica do Salvador e no CEPED/UERJ. Pioneira da Governança Humanizada. Consultora empresarial especializada em Governança Corporativa, Cultura organizacional e Compliance. Diretora da Ocean Governança Integrada. Desenvolve projetos para o Terceiro Setor.