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Editorial

Triste dia para o meio ambiente

Precisamos acreditar no sucesso da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, da ONU, que apresenta soluções para a série de desafios ambientais que a humanidade tem pela frente

05/06/2020 10h44

Desde que foi instituído oficialmente, em 1972, pela Organização das Nações Unidas (ONU), nunca se chegou ao Dia Mundial do Meio Ambiente com tantos problemas como o planeta está a enfrentar neste 5 de junho. Quando se resolveu dedicar um dia do ano ao tema, a intenção era fazer com que a data fosse aproveitada para o debate a respeito do que fazer para avançar em termos de sustentabilidade da vida humana na Terra e de mitigação dos danos provocados, na maioria dos casos, pela ação do próprio homem.

Nenhum dos integrantes da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo (Suécia), evento em que se decidiu pela criação do Dia do Meio Ambiente, poderia imaginar que 48 anos depois, o mundo, além de ter agravados todos os problemas que já naquela época preocupavam os especialistas, tais como as queimadas, os desmatamentos, poluições da água, do solo e do ar, ainda estaria enfrentando uma pandemia de tal proporção, a Covid-19, ela própria um subproduto dos danos provocados pelo homem aos ecossistemas. Afinal, como tudo indica, o novo coronavírus existia há séculos sem incomodar os seres humanos, até que estes dele se aproximaram.

Em relação à pandemia, é bom lembrar que já em 2016 dois relatórios globais publicados pelo Secretariado da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) da Organização das Nações Unidas (ONU), e pela Rockefeller Foundation, dos Estados Unidos, alertavam para o risco que os desequilíbrios nos ecossistemas causados pela degradação ambiental proporcionam, podendo provocar surtos de doenças, como as causadas por ebola, hantavírus e outros tipos, a exemplo do coronavírus. A pobreza foi apontada na ocasião, pelos espacialistas, como um dos maiores problemas, pelo fato de, por falta de opções de outros alimentos, populações pobres do interior de áreas florestais passarem a consumir carne de animais silvestres, o que as leva a entrar contato com doenças causadas por vírus e outras zoonoses.

Atualmente, todos os que levam a ciência a sério sabem que a degradação dos ecossistemas, como o da Amazônia, por exemplo, representa um risco crescente para a saúde humana e para a sustentabilidade econômica do planeta. E é neste contexto que o Brasil tem uma grande responsabilidade pois, apesar de sua importância para todo o mundo, a Floresta Amazônica é um patrimônio brasileiro e deve ser cuidada e protegida com toda intensidade pelo Governo do Brasil e por sua população.

Infelizmente, não é isto que se vê a partir dos desastrosos números coletados por órgãos oficiais, que apontam um desmatamento acelerado e sem precedentes nos últimos meses. Mas não só a grande floresta amazônica merece e precisa ser protegida no Brasil, uma vez que temos outros ecossistemas que, se não são tão grandes e diversificados têm igual importância para a sustentabilidade, como é o caso da Mata Atlântica. E aí também o problema é grave, como revelou o relatório “Atlas da Mata Atlântica”, divulgado no dia 27 de maio pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe).

No Brasil, o desmatamento na Mata Atlântica cresceu 27% entre 2018 e 2019, na contramão do que acontecia desde 2016, quando os números vinham caindo. Nada menos que 14.502 hectares foram desmatados no Brasil entre 1º de outubro de 2018 e 30 de setembro de 2019, comparados a 11.399 no mesmo período entre 2017 e 2018. Minas Gerais lidera a agressão, com 4.972 hectares desmatados.

Nunca é demais repetir que o desmatamento é apenas um dos graves problemas ambientais criados pelo homem e que comprometem de forma irreversível a sustentabilidade e, por consequência, o futuro da vida humana no planeta. Atenta ao assunto, apesar dos poucos avanços positivos, a ONU produziu a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que lista a série de desafios ambientais que a humanidade tem pela frente e propõe medidas concretas para atingir, num prazo de dez anos, um mundo mais justo, próspero e ecológico.

Na agenda são listadas questões e soluções, entre as quais citamos: Adaptação e mitigação às mudanças climáticas (medidas que atenuem seus efeitos e ajudem a conter o aumento do termômetro terrestre abaixo de 2 ºC); Os problemas de poluição e seu impacto na saúde (eliminar as descargas de resíduos, minimizar o uso de produtos químicos e depurar mais quantidade de águas residuais, entre outras medidas); Transição energética e as energias renováveis (modelo mais limpo, acessível, eficiente e baseado no uso de fontes renováveis para formar comunidades mais sustentáveis); Um modelo alimentar sustentável (mudança do modelo produtivo e de nossos hábitos alimentares, apostando em uma dieta mais vegetariana e com alimentos locais para poupar energia e emissões de CO2).

Pelos exemplos citados no parágrafo acima, é uma agenda muito positiva, mas seu êxito depende, na sua quase totalidade, do quanto os seres humanos estão dispostos a participar deste esforço, especialmente de quantas autoridades de todos os países do mundo terão a mente aberta para tomar o partido da proteção do meio ambiente, deixando de lado as indiossincrasias, as ideologias e as ambições pessoais ou de grupos econômicos que possam estar mais interessados em ganhar dinheiro do que preservar o planeta. Mesmo que tais ganhos momentâneos impliquem em comprometer o futuro das gerações vindouras.

Bem que a tragédia que está sendo provocada pela pandemia da Covid-19, que apenas se soma às demais tragédias já vividas em todo o mundo de forma mais silenciosa, poderia servir de alerta definitivo, para que a humanidade possa ter outros dias mundiais do meio ambiente com motivos para celebrar e comemorar o grande espetáculo que é a vida na Terra.

Cruzemos os dedos.