08/09/2024 08h55
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No centro das discussões da Conferência do Clima da ONU (COP29) deste ano no Azerbaijão está o financiamento climático, como forma de ampliar o volume de recursos disponíveis para ações de adaptação e mitigação, especialmente para ajudar países em desenvolvimento a lidar com a emergência climática. Abrão Neto, CEO da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), diz que o tema está diretamente ligado ao setor privado – seja como fonte dos recursos ou na ponta como beneficiário – e, nesse sentido, as perspectivas são bastante otimistas para os próximos dois anos.
Um estudo inédito da Amcham prevê que 86% das empresas brasileiras esperam aumentar a adoção do financiamento sustentável até 2026. Isso significaria um crescimento de 190% nos investimentos em projetos verdes, representado por um valor de R$ 20,4 bilhões. Por outro lado, 57,9% delas ainda não utilizam linhas de financiamento voltadas à sustentabilidade – sendo a maioria delas companhias de grande porte (63,8%). “O que chamou a nossa atenção é a projeção muito saudável de que as empresas pretendem investir mais em projetos ESG e fazer mais uso de instrumentos e mecanismos de obtenção de recursos. Mas não necessariamente é o que vamos ver na COP, frente ao tamanho do desafio para a transição de baixo carbono”, destacou Abrão.
O setor industrial lidera a utilização das linhas de financiamento, com 45,5% das empresas adotando, seguido pelo agronegócio (37,5%) e serviços (26,8%). Ao mesmo tempo, as atividades para as quais há maior procura para financiar projetos verdes são as de energia (21,4%), indústria (20%), tratamento de resíduos (15,7%) e agricultura e florestas (14,3%).
“São projetos, muitas vezes, para aumentar eficiência energética, diminuir custo. Há de fato um impacto econômico positivo”, explicou Abrão. Fabrizio Panzini, diretor de Políticas Públicas da Amcham, acrescentou que o perfil dos investimentos no setor energético também tem relação com as metas e políticas internas da própria empresa e com a possibilidade de mensuração dos impactos das ações. “A ausência de uma taxonomia, quando você não consegue medir os benefícios do projeto – como a redução de emissão e compensação – traz mais dificuldades de obter um financiamento. Suspeito que energia lidere o topo pela facilidade em otimizar e mensurar para fins de mostrar ao financiador”, destacou.
Outro dado é que a maior parte delas ainda depende de recursos próprios (28,2%), seguido por financiamentos de bancos e instituições financeiras privadas (23,1%) e títulos de dívida (20,5%). Apenas 15,4% utilizam recursos de bancos públicos.
A Amcham estima que o volume necessário para investimento em sustentabilidade até 2030 é de cerca de 2,4 trilhões de dólares anuais – três vezes mais do que ocorre atualmente. Frente à expansão positiva, ainda há desafios e gargalos. Os principais identificados pela pesquisa são os processos burocráticos (26,3%), dificuldade em oferecer garantias (19,3%), desconhecimento sobre as linhas disponíveis (14%) e custos elevados (12,3%).
“Percebemos uma complexidade burocrática na utilização destes instrumentos, dificuldade de apresentar as garantias necessárias para os recursos serem liberados e há também uma questão básica de conhecimento sobre quais são as entidades que oferecem as linhas, como elas funcionam e como acessá-las. Em uma proporção menor, há o desafio dos próprios custos relacionados à tomada desses recursos. Em muitos casos, elas até podem conhecer, saber como acessar, mas o custo não vale a pena”, complementou Abrão.
Fonte: EXAME