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Artigo

A amônia verde

Adary Oliveira

17/11/2021 06h11

Foto: Ilustrativa

A amônia é considerada pelos químicos como a substância inorgânica mais importante depois do ácido sulfúrico e da cal. A história da produção industrial da amônia teve início em 1908 quando o químico alemão Fritz Harber publicou um trabalho sugerindo a possibilidade técnica da síntese da amônia a partir do nitrogênio do ar atmosférico e do hidrogênio. Ganhou o prêmio Nobel de Química e o processo industrial advindo ficou conhecido como Processo Harber. O maior uso da amônia é como fertilizante. Pode ser aplicada diretamente ou sob a forma de substância derivada como a ureia, nitrato, fosfato e sulfato de amônio. A amônia é precursora de vários produtos químicos como o ácido nítrico, hidrazina, acrilonitrila, hexametilenodiamina.

O hidrogênio geralmente usado na fabricação da amônia vem do metano, hidrocarbonato de maior proporção contido no gás natural. Para que o hidrogênio seja desagregado do metano promove-se uma reação entre o metano e vapor de água, gerando hidrogênio e gás carbônico. Aí é que surge o problema. Se o gás carbônico gerado não for totalmente absorvido na manufatura de ureia, bicarbonatos, gelo seco e outros produtos, ou aplicado de forma diversa, como na injeção em poços de petróleo, ele é lançado na atmosfera. Embora a produção de fertilizantes nitrogenados não seja o grande vilão da história, pois a produção mundial de amônia é responsável por apenas 1,8% das emissões do dióxido de carbono, é sempre bom reduzir a emissão de gases de efeito estufa.

A amônia verde é igualzinha à outra, só que não usa combustíveis fósseis, como o metano, para retirar o hidrogênio. Utiliza a água, por exemplo, e a remoção se dá por eletrólise. Para a dissociação do hidrogênio por processo eletrolítico consome-se energia elétrica, e esta tem de ser gerada por fonte limpa: hídrica, eólica, solar fotovoltaica ou outro processo. O que está faltando para ganhar escala industrial mais difundida é a redução do custo da energia, não impactando na formação do custo de produção do agronegócio, principalmente da de alimentos e de rações animais, hoje considerados de valor elevado.

Merecem aplausos as iniciativas das empresas fabricantes de amônia dando início no mundo à substituição do metano fóssil por outras matérias-primas. A Unigel Agro, que opera as antigas Fafens em Camaçari (BA) e Laranjeiras (SE), anunciou, durante a inauguração da Unigel Agro Bahia, no último dia 3 de novembro, o investimento em uma fábrica de amônia verde em Camaçari, que deve entrar em operação até o fim de 2022.

A Yara, um dos maiores fabricantes de amônia no mundo, prepara-se para fabricar amônia verde na Europa e anunciou uma parceria com a Raízen para a uso do biometano em Cubatão (SP). A Enaex apresentou declaração de impacto ambiental de projeto que corresponde à primeira fábrica de amônia verde do Chile, com uma produção anual de 18 mil toneladas por ano a partir de hidrogênio verde e energia renovável.

O importante de tudo isso é que a indústria mundial, embora longe de estancar a emissão de gases de efeito estufa, dá início a empreendimentos que caminham nesse sentido, aceitando as advertências dos cientistas que se ocupam dos problemas ambientais.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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