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Artigo

A Bahia na encruzilhada

Waldeck Ornélas

16/12/2022 06h08

Foto: Divulgação 

Em um cenário global de grandes transformações econômicas a Bahia, paralisada, vive uma encruzilhada. Questões cruciais encontram-se sobre a mesa neste momento, entre elas, com grande destaque, os desafios na infraestrutura, relativos às ferrovias e aos portos; as oportunidades energéticas, na expansão das renováveis – eólica e solar – e o ingresso na era do hidrogênio verde; a imperiosa necessidade de modernização do Polo Petroquímico; a vez da irrigação e da agroindústria no médio São Francisco, para citar apenas questões que envolvem diretamente o governo federal, mas que demandam atitude e foco por parte das forças políticas, empresariais, acadêmicas e sociais do Estado, sob a indispensável liderança do governo local.

A questão portuária sobressaiu no recente encontro anual da Associação dos Usuários de Portos da Bahia – Usuport, tendo como tema o processo de desestatização da Companhia das Docas do Estado da Bahia - Codeba (o novo governo federal vai dar continuidade?). Portos sem ferrovia levam necessariamente ao caso FCA, que vai deixar a Bahia sem ligação ferroviária com o Sudeste e em verdadeiro isolamento ferroviário, que não será rompido com a implantação da FIOL, tampouco sendo tratada como base para a estruturação de um estratégico Corredor Centro-Leste.

Na área de energias renováveis o que se vê é o avanço da regulamentação das offshore, paralelamente à retenção do aproveitamento do potencial onshore, em prejuízo de regiões pobres como o Semiárido, da Bahia e de todo o Nordeste.

O ponto de convergência de muitas destas questões é a Região Metropolitana de Salvador – que vem perdendo relevância no cenário econômico nacional – e o abandono da Baía de Todos os Santos como alternativa para ser um dos hub-ports nacionais, ao mesmo tempo em que o porto de Santos – o mais importante do país – dá sinal de limitações, tendo que paralisar suas atividades sempre que algum dos novos navios de grande porte precisa operar em um canal que o avanço da navegação internacional tornou estreito. Na BTS isto não aconteceria jamais!  

O início de novos governos é sempre momento de expectativa e as esperanças se renovam. O fato de que o secretário estadual de infraestrutura integre o grupo de transição federal é positivo, mas não custa lembrar que, na história recente, já vivenciamos momentos de alinhamento entre os governos federal e estadual que não contribuíram para equacionar os problemas nem promover as potencialidades da Bahia.

Aqui, sequer o Estado incorporou, em sua estrutura administrativa, uma unidade de gerenciamento destinada a acompanhar os projetos de parcerias de investimentos entre os setores público e privado, não apenas de concessões e PPPs, mas também por incentivos fiscais, sejam eles estaduais ou federais, mas em território baiano, para que não continuemos sendo pegos de surpresa em eventos como o encerramento das atividades da Ford ou a devolução, já anunciada, da malha ferroviária da FCA. 

Outras questões estruturais baianas dizem respeito ao fortalecimento das cidades médias, à interiorização da indústria, expansão do agronegócio, produção de alimentos, fortalecimento da pecuária de corte e leite, promoção da agroindústria, revitalização do turismo, novas jazidas na mineração, para citar apenas algumas das muitas frentes em que a Bahia tem amplas possibilidades de desenvolvimento econômico.      

Os próximos anos serão decisivos para definir se a Bahia terá um futuro promissor ou se está fadada a tornar-se dependente de transferências de renda para sua população sobreviver.

Waldeck Ornélas, especialista em planejamento urbano-regional, é autor de “Cidades e Municípios: gestão e planejamento”.

Publicado no Correio24horas.

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