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Artigo

A crise sob a ótica da reinvenção

Luana Lourenço

27/08/2020 07h32

Foto: Divulgação

As empresas têm o papel primordial de gerar riquezas e contribuir com a redução da pobreza de um país. Significa dizer que toda empresa como razão primeira de sua existência uma relevante função social. Elas auxiliam no desenvolvimento econômico, podem aumentar oportunidades de empregos, constituem fontes de receitas para o Estado e são responsáveis por colocar produtos e serviços inovadores no mercado.

Para operar suas atividades, a empresa deve se preocupar em construir um ambiente ético, baseado em propósito elevado e valores. Isso ocorre por meio de um processo de mapeamento desenvolvido junto aos seus stakeholders. Requer a construção conjunta de planos de ação bem estruturados, o estabelecimento de sistemas de monitoramento contínuo com indicadores que se mostrem capazes de fornecer uma base de dados de caráter informacional e que sejam úteis para promover o desenvolvimento da organização.

Diante do cenário de crise, as organizações que genuinamente contam com uma cultura forte e valores bem definidos são as que podem sobreviver às adversidades impostas pela Covid-19 e a qualquer outra crise que gere grande impacto no mercado ou em determinado setor. Uma organização dirigida por valores e propósito elevado, adquire um fator muito valorizado atualmente pelas maiores escolas de negócios do mundo, a resiliência. São organizações que geralmente encontram sentido nas adversidades, buscam constantemente elevar o bom humor, possuem uma notável firmeza de caráter e valorizam a empatia.

Manter-se fiel aos seus valores e propósito maior faz com que uma empresa construa uma relação com seus pares baseada em confiança. A única maneira de tecer redes de confiança é trabalhar a cultura organizacional, os valores representam tudo o que é mais importante na vida de qualquer indivíduo e o propósito maior, refere-se às seguintes perguntas: “qual dor nosso negócio pretende curar no mundo? Por que nosso negócio existe? Por que ele precisa existir?” Esses questionamentos são constantes em empresas dotadas de propósito maior.

John Mackey e Raj Sisodia, fundadores do movimento capitalismo consciente, revelam que “ter um propósito maior e valores centrais compartilhados ajudam a unificar a empresa e a elevar, ao mesmo tempo, seus níveis de motivação, desempenho e compromisso ético”. A saber, o capitalismo consciente está baseado em quatro princípios: propósito maior, integração de stakeholders, liderança consciente e cultura e gestão conscientes. Juntos, esses quatro princípios constroem ambientes empresariais alicerçados em confiança e respeito por todos.

A governança tem seu papel na construção da confiança, uma vez que é um sistema estruturado que interage com todos os níveis da organização e é a guardiã da cultura organizacional. Percebe-se um movimento natural que a governança está tomando pelo mundo que é a atenção especial ao fator humano, o qual conceituo como Governança Humanizada, que é o sistema de governança que coloca no centro da tomada de decisão as pessoas. Significa dizer às organizações: cuide das pessoas e elas cuidarão do seu negócio. Também são ela que são capazes de cuidar do planeta, esse é o racional. O foco aqui reside em pessoas e no desenvolvimento dos níveis da consciência humana.

O ser humano está na base de tudo. É primordial que as organizações despertem para a importância da valorização de pessoas e do cultivo da confiança. Existe um arcabouço sólido de literatura e pesquisas que confirmam que pessoas engajadas contribuem significativamente para o aumento da produtividade e obtenção de ganhos com benefícios mútuos. Pessoas felizes, satisfeitas e realizadas geram lucro. A Teoria dos Jogos, com sua lógica de colaboração, aplica-se perfeitamente nessa construção de ambientes corporativos mais humanizados, éticos, confiáveis e conscientes.

Ultimamente tenho concentrado meus estudos nos resultados de empresas humanizadas e que reforçam constantemente seus valores e propósito maior, em que predomina a confiança e a cultura do cuidado – os ganhos são surpreendentes. Minha missão é fazer com que empresas despertem para esse benefício, pois todos ganham: o País prospera e o crescimento se torna cada vez mais sustentável. Pessoas no centro da tomada de decisão é o caminho para as organizações. Reforço que o meio ambiente é positivamente afetado a partir da Governança Humanizada.

Temos visto que o crescente foco da governança e do mercado de capitais nos fatores ESG – do inglês, Environmental, Social and Governance. Em português, o termo é representado pela sigla ASG – Ambiental, Social e Governança. Ainda há um outro fator que está sendo imposto o ASGI – Ambiental, Social, Governança e Integridade. Isso evidencia a forte demanda pela integração de stakeholders. A confiança tem aqui seu papel relevante.

Assim, a empresa que almeja o crescimento deve estar atenta ao movimento do mercado externo, que tem força para impulsionar o mercado interno. Logo, implementar o sistema de Governança Humanizada associado aos fatores ASGI é condicionante para atrair investimentos e até sobreviver. Reforço que o sistema de gestão humanizada faz todo sentido nesse momento. Tem que cair a ficha de que o mundo mudou. Algumas empresas já se deram conta disso e estão reagindo a essas mudanças de mercado. Essas serão as mais resilientes nesse atravessar da crise.

Precisamos trabalhar a cultura nas organizações, com a direção pautada em propósitos elevados e valores, isso se dá por meio da ética e integridade.

Luana Lourenço - Graduada em Direito pela UCSAL. Pós-graduada em Direito Empresarial com especialização em compliance avançado pela FGV Direito Rio. Cursa o MBA em Management no IAG PUC-RIO. Professora convidada de Pós-graduação na Universidade Católica do Salvador e no CEPED/UERJ. Pioneira da Governança Humanizada. Consultora empresarial especializada em Governança Corporativa, Cultura organizacional e Compliance. Diretora da Ocean Governança Integrada. Desenvolve projetos para o Terceiro Setor.