04/06/2020 11h30
Foto: Divulgação
No meio da pandemia que deve causar a maior crise econômica do País, a Eixo-SP, empresa recém-criada pelo fundo Pátria, começa nesta quinta-feira, 4, a operar a concessão Piracicaba-Panorama (PiPa). Entre queda de atividade econômica e restrições de mobilidade, a empresa terá o desafio de administrar a maior rodovia concedida no País. No total, são 1.273 quilômetros de estradas. Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a quilometragem média das concessões no Brasil é de 482,6 quilômetros.
O cenário é desafiador para o transporte rodoviário. Diante da pandemia, o tráfego nas rodovias tem recuado de forma significativa. “Algumas concessionárias tiveram impacto, principalmente em veículos de passeio. Já para veículos comerciais a retração é menor”, disse Sergio Santillan, diretor-presidente da Eixo-SP. A crise dificultou até a contratação de mão de obra para o início das operações, mas, para ele, a pandemia seria claramente um efeito pontual. “É um projeto de 30 anos”.
Na concorrente CCR, tráfego caiu em até 40%
A concorrente CCR, por exemplo, passou a divulgar semanalmente as informações sobre movimentação nas concessões sob sua gestão como forma de deixar os investidores menos no escuro. Somente em rodovias, a empresa opera 11 concessões. Dados do último boletim, divulgado no fim de maio, mostram que o tráfego recuou 17,2% na semana de 22 a 28 de maio na comparação com igual período de 2019. A queda foi puxada pelo segmento de passeio, que caiu 40,3%. O de veículos comerciais avançou 2,4%. Somente na Nova Dutra, a queda geral foi de 27,2% (-51% para passeio e -12,4% para comerciais)
Um dos curingas do projeto PiPa e que agrada ao governo do Estado é a capacidade de gerar empregos em um momento de fragilidade econômica. Investimentos em infraestrutura, por sinal, têm sido um dos discursos preferidos do governo federal para melhorar a atividade econômica. A estimativa da Eixo-SP é gerar 2 mil empregos diretos, além de 1,2 mil em mão de obra de terceirizada.
O Consórcio de Infraestrutura Brasil, composto pelo fundo de private equity (investimento em participações de empresas) Pátria e o fundo soberano GIC, de Cingapura, venceu, em janeiro, o leilão do lote Piracicaba-Panorama (PiPa). A proposta vencedora foi de R$ 1,1 bilhão. No total, a concessão tem previsão de investimentos de R$ 14 bilhões em 30 anos para o trecho entre a cidade de Piracicaba, na região de Campinas, e o município de Panorama, no extremo oeste do Estado.
A oferta do consórcio foi quase 110% superior ao segundo colocado, a Ecorodovias, que propôs R$ 527,05 milhões. Nomes de peso não participaram do leilão na época, como a CCR e a Arteris, que opera parte do trecho leiloado. A concorrência PiPa engloba 218 quilômetros atualmente operados pela concessionária Centrovias, do Grupo Arteris, além de 1.055 quilômetros operados pelo DER-SP.
Usuários frequentes entre Piracicaba e Panorama terão descontos
A concessão tem alguns diferenciais, como tarifa por quilometragem percorrida, de R$ 0,1491 por km em pista dupla e R$ 0,1065 na simples. Usuários frequentes também terão descontos. A estimativa é de que a cobrança de pedágio se inicie 12 meses depois da assinatura do contrato, que ocorreu no dia 15. O início, entretanto, depende da realização de obras de infraestrutura mínima, conforme consta no contrato.
O sócio do Bocater Advogados, Thiago Araújo, diz que a concessionária sai com a vantagem de usar a mais nova geração de projetos da Artesp, mais seguros. O maior desafio, para ele, será definir as variáveis de demanda nesse cenário de incertezas.
Com um trecho forte em transporte de carga, a operação PiPa deve ser menos impactado pela pandemia. “Talvez ela (a concessionária) não experimente uma frustração (de receitas). É algo que tem de ser acompanhado no futuro”, disse. Segundo ele, há espaço para reequilíbrios contratuais por causa da pandemia.
Fonte: Estadão