25/07/2020 08h54
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O uso mais intenso de sistemas eletrônicos na rotina dos órgãos federais que atuam nos aeroportos brasileiros passou a compor a estratégia do governo para ajudar o setor a sair da crise. O Ministério da Infraestrutura prepara o lançamento de duas novas plataformas para reduzir em 80% o tempo médio de processamento de cargas aéreas e automatizar a triagem de passageiros, por meio de tecnologia de reconhecimento facial, para que não haja qualquer interação física.
A ineficiência no despacho de cargas aéreas pôde ser sentida pelo próprio governo quando começou a trazer grande quantidade de insumos hospitalares da China para enfrentar a crise sanitária provocada pelo novo coronavírus. De acordo com levantamento, a liberação de carga importada no aeroporto de Guarulhos (SP) leva seis dias. A meta é reduzir para um dia e meio.
A substituição de documentos em papel por protocolos digitais pela Receita, Polícia Federal e autoridades de vigilância sanitária brasileiras deve permitir o processamento das informações sobre a carga do pouso em solo, com o mínimo de três horas de antecedência, prevê o secretário nacional de aviação civil, Ronei Glanzmann.
O governo usará R$ 12,9 milhões do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac) para desenvolver e colocar em operação, no segundo semestre de 2021, o Controle de Carga e Trânsito (CCT Aéreo) para fazer o controle do fluxo de importação. Na exportação, três documentos independentes já foram unificados na Declaração Única de Exportação (DU-E). Por recomendação da Comissão Nacional de Autoridades Aeroportuárias (Conaero), o novo sistema já atenderá ao padrão internacional da Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata).
Glanzmann destaca que a agilidade no processamento de cargas aéreas vai mudar a dinâmica de funcionamento dos aeroportos brasileiros. Isso porque os operadores ganham com o tempo de permanência dos produtos nos terminais. “De certa maneira o aeroporto está se beneficiando pela ineficiência do setor como um todo. Como isso vai reduzir drasticamente, ele vai precisar se reinventar, ganhar no volume de carga despachada. Haverá uma mudança de paradigma muito importante”, afirmou o secretário ao Valor.
As mudanças também são provocadas pela alteração de postura das companhias aéreas, que buscam aumento de receita com o carregamento de produtos.
“Muitos aviões de passageiros que continuaram voando durante a pandemia foram viabilizados pela carga. Se fosse só pelos passageiros, não conseguiriam. A crise da pandemia acabou abrindo esse horizonte”, afirmou Glanzmann.
Levantamento feito pelo ministério indica que o Brasil movimentou 1,5 milhão de toneladas de carga aérea no ano passado. Desse total, 808 mil toneladas foram em rotas domésticas e, no mercado internacional, outras 700 mil toneladas – sendo 55% em importações e 45% em exportações.
O ministério estima que a carga aérea responde por apenas 1% do volume anual movimentado em diferentes meios de transporte no mundo, mas representa 35% do valor comercializado, estimado em US$ 6,8 trilhões por ano.
“O volume é baixo, mas é uma carga de alto valor agregado. O Brasil não tem nenhum aeroporto entre os 20 maiores em movimentação de carga. Existe um espaço muito grande para crescer”, disse o secretário. Segundo ele, na América Latina, Guarulhos ainda perde em volume de carga para aeroportos de Bogotá e da Cidade do México.
No transporte de passageiros, a tecnologia de reconhecimento facial será usada para as autoridades fazerem a identificação sem que as pessoas precisem encostar em nada. Nesse caso, o Serpro – estatal de TI – foi contratado ao custo de R$ 2 milhões por ano para agregar os dados mantidos pelos órgãos federais (Receita, PF, Anvisa e Vigiagro) ao novo sistema.
“É preciso ter uma base de dados com informações seguras da parte do governo para saber se o cidadão que se apresenta no aeroporto é realmente aquele que fez o check-in”, afirmou a diretora de planejamento e gestão aeroportuária, Fabiana Todesco. Ela explicou que o projeto envolve exclusivamente o trato de informações de caráter restrito dos cidadãos e não se mistura com dados de caráter comercial detidos pela administração dos aeroportos e companhias aéreas.
O projeto piloto será implantado nos aeroportos de Brasília e Florianópolis, a partir de setembro. Fabiana lembra que, até agora, sistemas de reconhecimento facial surgiram somente de iniciativas isoladas, em alguns terminais. A ferramenta, disse ela, será levada para representações dos órgãos federais em todos os aeroportos.
“Do ponto de vista do controle sanitário, o sistema de reconhecimento facial é mais seguro, melhor do que outros sistemas de biometria que exigem o contato ou maior aproximação”, disse Fabiana, que ressaltou a resistência dos passageiros em retomar o uso dos serviços aéreos pelo receio de serem infectados pelo novo coronavírus.
A diretora de planejamento e gestão aeroportuária informou que, após a implantação do sistema de reconhecimento facial, a administração dos aeroportos e as companhias poderão ampliar o uso comercial da ferramenta. A ideia é que, com o consentimento prévio do passageiro, ele possa receber ofertas personalizadas de serviços ou produtos enquanto transita no aeroporto ou voa na aeronave.
Fonte: Valor Econômico