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Artigo

Atirou no que viu e matou o que não viu

Adary Oliveira

15/07/2021 06h03

Foto: Divulgação

Muito do que por aqui é feito, por ação governamental ou pela iniciativa privada, confirma a veracidade do provérbio português aproveitado para justificar muitas iniciativas tomadas na Bahia. O Porto de Aratu, o moinho Dias Branco e o estaleiro Enseada, todos localizados na Baía de Todos os Santos, são exemplos que descrevo para ilustrar essa assertiva.

O Porto de Aratu, hoje denominado oficialmente de Porto Aratu-Candeias, está localizado na enseada de Caboto, próximo do canal de Cotegipe, em frente à costa leste da Ilha da Maré, ao norte da entrada da Baía de Aratu, no município de Candeias. As águas da redondeza são protegidas, calmas e profundas, atingindo 26 metros na entrada do canal. O lugar não sofre assoreamento, o que dispensa a realização de dragagens frequentes, não precisando nem de quebra-mar ou molhe para a realização das operações portuárias.

Eu estive na solenidade de inauguração das primeiras instalações de acostagem e depósitos desse porto em fevereiro de 1975, com a presença do presidente Ernesto Geisel.  A construção foi realizada pelo governo do estado com financiamento do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID), garantido pelos recebimentos futuros dos royalties de petróleo, tendo como principal objetivo atrair indústrias para o Centro Industrial de Aratu (CIA). Isso não foi decisivo na atração de dois grandes projetos que se instalaram no CIA.

A Usiba construiu seu terminal privativo na Ponta da Sapoca e a Dow Química fez o mesmo nas proximidades da Ponta da Matanga, mas o Porto de Aratu foi determinante na localização do Polo Petroquímico de Camaçari.

Quando a M. Dias Branco aportou na Baía de Aratu em área do município de Salvador, para fabricar massas, biscoitos, misturas para bolo, farinha e farelo de trigo, construiu um cais para atracamento dos navios que iriam trazer o trigo importado da Argentina e de outros lugares. A excepcional localização e o bom funcionamento das instalações portuárias levaram a empresa a navegar por aí e passou a usar seu Terminal de Uso Privativo (TUP) para movimentar cargas de terceiros. Com o escoamento da produção dos grãos produzidos no Oeste da Bahia por esse TUP, a operação portuária virou seu principal negócio e hoje movimenta maior tonelagem de carga do que o Porto de Salvador. Atirou no que viu e matou o que não viu.

O Estaleiro Enseada do Paraguaçu está em fase final de construção e localiza-se na foz do Rio Paraguaçu, na Baía de Todos os Santos, município de Maragogipe, coincidentemente no local onde se iniciou a construção naval no Brasil.  O seu primeiro cais ficou pronto em fevereiro de 2014 e foi projetado para ser um dos maiores empreendimentos da indústria naval brasileira. Problemas ocorridos com a Petrobras, dona das principais encomendas de construção de plataformas para produção de petróleo e gás natural, reverteu todas as expectativas e o estaleiro não pode ser concluído. Na semana passada o Enseada passou oficialmente a ser considerado um TUP e autorizado a movimentar cargas de terceiros. Ele não vai deixar de ser um estaleiro, mas vai também poder utilizar seu cais para movimentar minérios, graneis diversos e componentes de aerogeradores, viabilizando muitos novos negócios. Mais uma vez, atirou no que se viu para acertar no que não se viu.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]  

Artigo publicado no jornal Tribuna da Bahia.

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