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Artigo

Aumenta o consumo de gás natural

Adary Oliveira

11/05/2022 06h09

Foto: Divulgação

A pressão mundial para redução das emissões de gás carbônico tem feito crescer o consumo de gás natural (GN) nos últimos anos. Outro motivo importante é a tendência do GN se manter mais barato do que os outros combustíveis fósseis. Alguns países, como a China, que produz energia predominantemente a partir do carvão, estão se tornando grandes puxadores de gás. Por outro lado, o aumento de produção nos Estados Unidos, a partir do shale gas, e da Rússia, usando o gás da região ártica, tem aumentado a oferta. Há bem pouco tempo o uso de GN era restrito a pequenos consumos em termelétricas construídas nas proximidades dos campos de petróleo e gás ou daquele gás que se podia transportar através de pequenos dutos. Hoje se constroem longos dutos e o gás natural liquefeito (GNL) pode ser armazenado em grandes reservatórios e transportado em grandes navios para portos onde existem unidades regaseificadoras ou possuidoras de tanques especiais. A partir daí o transporte do GN está sendo feito através de gasodutos e do GNL por via rodoviária em caminhões criogênicos.

O último Boletim Mensal de Acompanhamento da Indústria de Gás Natural publicado pelo MME, da conta que a demanda brasileira de GN em janeiro foi de 82,5 milhões de m3/dia (MMm3/dia) sendo os maiores consumidores a indústria (37,6) e a geração de energia elétrica (34,5). Essa demanda é suprida por uma produção nacional de 131,4 MMm3/dia e uma importação de 50,1 MMm3/dia (21,2 de GN e 28,9 de GNL). Dessa produção 68,5 MMm3/dia são reinjetados nos poços de petróleo e gás, de modo que a oferta nacional é reduzida para 88,3 MMm3/dia. A maior parte da reinjeção se dá nos campos do pré-sal.

O Boletim de Produção de Petróleo e Gás Natural publicado pela ANP traz a informação de que 87,5% do GN produzido no Brasil em fevereiro foi oriundo dos campos marítimos e que 94,1% deles foram operados pela Petrobras. Nos campos operados pela Petrobras com participação exclusiva (100%) a produção de petróleo e gás natural foi de apenas 28,5%. No curto prazo, o aumento da oferta de GN de produção nacional deverá ocorrer com novas instalações marítimas de descontaminação do gás produzido no pré-sal. Assim, se fará reinjeção apenas do CO2, direcionando o GN para o continente. Como pode ser observado nos dados acima, se for possível a separação do CO2 de todo o gás produzido pode-se obter volume superior a todo o gás importado. O teor de CO2 no gás do pré-sal varia de 10% a 90%, resultando daí dificuldades técnicas e limitações econômicas.

Está prevista a queda de produção nacional com o fim da exploração do campo de Manati, na Bahia, com vida útil estimada em dois anos. Também se espera redução dos volumes importados da Bolívia por falta de investimentos para aumento das reservas provadas. O funcionamento de novas unidades regaseificadoras no litoral, junto com as existentes, irá proporcionar manutenção do fluxo de importações, importante regulador do preço do gás.

No médio e longo prazo, o aumento da oferta de GN na região do Cone Sul vem da Argentina. A Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) anunciou a contratação da Ieasa para construção de gasoduto para levar GN de Vaca Muerta para a província de Buenos Aires. Trata-se de investimento de US$ 1,5 bilhão que deverá transportar 24 MMm3/dia e entrar em operação no inverno de 2023. O informe diz que a produção do shale gas de Vaca Muerta é de baixo custo e já alcançou a produção de 130 MMm3/dia, podendo suprir o Brasil via Porto Alegre, desde que seja concluído o projeto do gasoduto que liga Uruguiana ao polo petroquímico de Triunfo nas proximidades de Porto Alegre.

O aumento da oferta do GN produzido no Brasil provocará a redução do preço de venda da molécula e da tarifa do transporte e tornará favorável à troca do óleo combustível por GN nas termelétricas, além de fomentar o aumento de produção de fertilizantes nitrogenados e a volta da produção de metanol. Este, totalmente importado, é imprescindível na fabricação do biodiesel na etapa de transesterificação. A expectativa que se tem é que o aumento do consumo de GN no mundo traga embutido uma redução de seu custo, incentivando novos investimentos para seu consumo como matéria-prima, redutor siderúrgico e na geração de energia.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]  

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