23/08/2024 14h47
Foto: Ilustrativa
Ao longo dos últimos dias, o mercado iniciou um movimento de revisão para cima das expectativas dos juros pelo Banco Central (BC), tema que não fazia parte do debate até algumas semanas atrás.
A piora constante das expectativas para a inflação fez com que bancos e corretoras passassem a ver que este movimento se dará já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, entre os dias 17 e 18 de setembro.
A taxa básica de juros está em 10,5% ao ano desde maio, quando o colegiado cortou a taxa em 0,25 ponto percentual. Na última reunião do Copom, em julho, analistas viram tom mais duro da cúpula do BC.
O sinal ficou mais forte nas últimas semanas, com falas seguidas de autoridades do BC afirmando que alta dos juros não está descartada pelo BC caso o cenário exija, apesar de não citarem prazos.
Analistas e instituições consultadas pela CNN apontam para a direção de política mais restritiva nos próximos encontros do Copom, apesar de pequenas diferenças de até que patamar o BC está disposta a subir os juros neste novo ciclo de alta.
Economia aquecida e expectativas desancoradas
Para Tony Volton, ex-diretor do BC e professor adjunto da Universidade de Georgetown, o cenário abre espaço para três altas seguidas de 0,5 ponto a partir do próximo mês, encerrando o novo ciclo de avanço com juros em 12%.
O economista pontua que o aquecimento da economia doméstica, refletido sobretudo no aumento das expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e baixa taxa de desemprego, mostra que a demanda está acima da oferta, o que gera mais pressão para trazer a inflação para a meta de 3%.
Além disso, o ex-BC cita a política fiscal expansiva e a desancoragem para as expectativas da inflação em todos os prazos.
A autoridade monetária persegue meta de inflação de 3% — com margem de 1,5 ponto para cima ou para baixo.
Para o mercado, o número não será entregue neste ano, nem no próximo, segundo Boletim Focus. Para 2024, analistas enxergam o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 4,22%, enquanto para o ano que vem a perspectiva é de 3,91%.
No último dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os preços ao consumidor subiram 0,38% em julho e acumulam alta de 4,5% nos últimos 12 meses.
“Quando olhamos um checklist de fatores que impactam na dinâmica da inflação, o argumento é que sim, o Banco Central deveria iniciar um pequeno ciclo de alta dos juros”, diz.
A XP passou a ver a Selic a 11,75% ao final deste ano, prevendo um aumento de 0,25 ponto percentual no próximo mês, seguido de duas altas de 0,5 ponto em novembro e dezembro e uma final de 0,25 ponto em janeiro do ano que vem, levando o juro para 12%.
Em relatório, a consultoria cita o mercado de trabalho aquecido, a recente depreciação da taxa de câmbio brasileira frente a seus pares e as expectativas de inflação, que seguem subindo.
O diagnóstico é o mesmo feito pelo BTG Pactual, pela Legacy Capital, pelo Asa Investments e pela ARX Investimentos, que também revisaram as projeções. No caso do BTG, o banco menciona que um ajuste monetário “está se tornando cada vez mais necessário”.
A Legacy enxerga uma postura ainda mais agressiva do BC e prevê uma Selic a 12% ainda em 2024. Com cerca de R$ 19 bilhões sob gestão, a Legacy trabalha com a possibilidade de três altas de 0,50 ponto já a partir de setembro.
A leitura é a mesma da ARX, porém, com uma intensidade menor. A gestora avalia que um novo aumento virá no próximo mês, elevando a taxa para 11%, patamar que deve permanecer até o fim do ano.
A percepção de juros mais altos no ano que vem já se mostra consolidada dentro do mercado financeiro, que agora descarta uma Selic a um dígito em 2025. A maioria dos agentes prevê os juros a 10%, de acordo com a última pesquisa Focus.
Fonte: CNN