12/07/2024 06h00
Foto: Airbus - Divulgação
As próximas décadas prometem ser desafiadoras para a aviação. Até 2050, o setor busca chegar a zero emissões de carbono, ou seja, conseguir fazer com que o saldo de emissões de gases causadores do efeito estufa seja totalmente neutralizado.
Ao mesmo tempo, haverá uma elevada demanda por profissionais altamente especializados e capacitados para poder manter a segurança da aviação.
Em entrevista, o CEO da Airbus para a América Latina, Arturo Barreira, falou sobre as perspectivas para o mercado da região para as próximas décadas e a importância do Brasil para o futuro da descarbonização da aviação.
Quando se fala de descarbonizar a aviação, o esforço tem duas frentes. Uma é diminuir a emissão de gases nocivos e causadores do efeito estufa, como o gás carbônico. A outra é efetivar um sistema de captura de carbono da atmosfera, como a utilização de combustíveis derivados de fontes renováveis, como o etanol funciona para os carros.
A perspectiva da Airbus é que, até 2042, serão necessários 2,2 milhões novos profissionais altamente especializados para a indústria aeronáutica. Desse total, a fabricante europeia defende que 5% (120 mil cargos) deverá estar na região da América Latina, a qual o Brasil é o principal mercado.
Quanto ao SAF (Sustainable Aviation Fuel, ou, combustível sustentável de aviação), ele pode ser produzido a partir de fontes renováveis, como a própria cana-de-açúcar. Em outros casos, pode ser feito a partir de óleos vegetais, como o de soja. Ele polui menos que os combustíveis fósseis, como o querosene de aviação, mas seu ciclo acaba capturando carbono da atmosfera, compensando as emissões.
Confira a entrevista:
Qual é a prioridade da descarbonização, ou seja, redução da emissão de gás carbônico e outros gases nocivos na atmosfera, para o setor hoje?
Na Airbus, queremos ser pioneiros na indústria aeroespacial sustentável. Estamos seguros e unidos, e sermos pioneiros no setor aeroespacial sustentável é fundamental para nós. Se falarmos do Brasil, a matriz energética do país é muito baseada em energias renováveis. Ao mesmo tempo, o Brasil é o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo, depois dos EUA.
Estamos muito satisfeitos em ver que o Brasil foi o primeiro país a começar a trabalhar em um projeto de lei [sobre o tema] que, esperamos, seja finalizado e aprovado.
Obviamente há muita vontade das empresas em consumir o combustível sustentável de aviação, o SAF. Há muito interesse em desenvolver essa indústria no Brasil. E acho que é o caminho certo a seguir.
O Brasil está no lugar certo, com seu conhecimento de produção de biocombustíveis, com o uso da biomassa e o tamanho do país, que podem fazer ele ser um grande produtor de SAF daqui para frente,
Qual a expectativa do setor aéreo para os próximos anos?
O que vimos é que a recuperação dos mercados doméstico e internacional após a pandemia de covid-19 tem sido muito boa. Estamos hoje, no Brasil, acima dos níveis de 2018.
O que prevemos daqui para frente é um crescimento contínuo não só no mercado interno do Brasil, que vemos que vai ser um mercado muito interessante daqui para frente, mas também nos mercados internacionais para o país. Todos os anos atualizamos nossa previsão de mercado para os 20 anos seguintes, e o que que vemos é que o tráfego de passageiros no Brasil como um todo crescerá e se multiplicará em 2,6 vezes nos próximos 20 anos.
Embora ainda não tenha nenhum exemplar voando no Brasil, a Airbus tem o modelo A220, principal concorrente dos E-Jets da Embraer. Qual o mercado desse avião no país?
Adquirimos o programa do A220 da Bombardier em 2018, e ele provou ser um avião fantástico e um sucesso total. Vendemos mais de 800 unidades em todo o mundo, principalmente para mercados mais maduros na Europa e nos EUA, que são os grandes operadores do A220, além de participação na África e na Ásia.
Acreditamos que o A220 tem todos os elementos essenciais para se tornar um sucesso também na América Latina. Acreditamos que existe um mercado além da tendência principal, que é a do A320, para os A220 desenvolverem rotas menores.
Ele foi desenvolvido do zero, e é o mais recente lançamento mundial de aeronaves de corredor único. Estamos agora aumentando a produção para chegar a 14 aeronaves por mês até 2026, e acreditamos que há espaço na América Latina e no Brasil para o A220 ser um sucesso também.
Qual o principal mercado da região?
Hoje, o Brasil é o maior espaço aéreo da América Latina e continuará sendo, sem dúvida, por causa do seu tamanho, da economia, entre outros aspectos.
Hoje vemos que o crescimento nos próximos 20 anos vai multiplicar o tráfego em 2,6 vezes. E isso vai se traduzir na necessidade de se ter o dobro da frota que opera no Brasil hoje. Então, definitivamente para nós e, obviamente, para cada fabricante, o Brasil é um mercado-chave hoje e continuará sendo.
Faltarão profissionais para trabalhar na aviação no Brasil nas próximas décadas?
O número de pilotos e pessoal de manutenção necessários na América Latina será muito grande. Precisaremos de 30 mil novos pilotos na região, 50 mil comissários e 40 mil técnicos ligados à manutenção.
Definitivamente, é um grande número de pessoas que precisarão ser treinadas. Nós temos produção na Europa, mas também temos uma unidade fabril no Brasil, em Itajubá (MG). Somos a única empresa fabricante de helicópteros no hemisfério sul (Helibras).
Ter os talentos certos para comandar toda essa operação também é um dos desafios que precisamos enfrentar. Então, sim, acho que isso pode ser um desafio.
Até o momento, não vemos muitos problemas para alguns dos recrutamentos. Mas está provado que será um desafio daqui para frente o recrutamento de todos estes profissionais que serão necessários na região.
Publicado no UOL