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Entrevista

Com alta no frete online, faturamento da Cargo X cresce 652%

O número de caminhoneiros autônomos saltou de 25 mil em 2019 para 45 mil em 2020, diz o CEO Federico Vega

10/01/2021 23h00

Foto: Divulgação

Antes da chegada do novo coronavírus, a contratação de frete por meio virtual caminhava a passos lentos no Brasil. Mas, com o isolamento social, surgiu a urgência da migração imediata para o universo online. Assim, caminhoneiros autônomos que buscavam frete de forma convencional, passaram a utilizar os aplicativos. Essas plataformas conectam embarcadores a transportadores e autônomos. CEO da Cargo X, Federico Vega contou, em entrevista exclusiva ao Estradão que o número de motoristas cadastrados na plataforma saltou de 25 mil em 2019 para 45 mil em 2020. Assim como os embarcadores vêm oferecendo cada vez mais opções de carga de forma online, segundo o executivo.

Atualmente, essa alta vem ocorrendo de forma natural. Seja como for, Vega acredita que os novos usuários procuraram o frete online por uma questão de necessidade. Mas, ao mesmo tempo, a empresa havia programado investimentos de R$ 500 milhões para divulgação do negócio. Todavia, a ação acabou não sendo realizada por causa da pandemia do novo coronavírus. “Este ano, vamos utilizar esse dinheiro para investir em segurança da plataforma, treinamento e novas contratações”, diz.

Simultaneamente, de janeiro a outubro de 2020, o faturamento da Cargo X cresceu 652%. Assim como para 2021 a estimativa é que o crescimento continue. “Avançamos em 2020 por causa da adesão de novos usuários e, a partir de agora, vamos oferecer mais fretes”, diz Vega. De acordo com ele, 2020 foi o ano de “virada de chave” no setor de logística para o mundo digital. Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Quando foi o pico de crescimento da Cargo X neste ano?

Logo no começo da pandemia, os caminhoneiros passaram a procurar mais carga e os embarcadores, mais caminhões. Também observamos grande alta da demanda em outubro, um mês antes da Black Friday. Isso ocorreu, em grande parte, por causa da alta nos negócios do comércio eletrônico. Afinal, o aumento visou abastecer estoques de centros de distribuição, supermercados e redes varejistas.

De que forma as compras online tem impactado o frete?

O e-commerce provocou um aumento significativo no volume de carga transportada no País. Assim, estamos vendo uma evolução do número de clientes que atuam neste setor procurando caminhões. Além disso, houve uma mudança importante no comportamento do caminhoneiro autônomo. Com isso, mudou também a forma de negociação do transporte de carga. Antes as empresas ligavam para as agências de cargas para buscar caminhões. Posteriormente isso mudou. Agora, há um número cada vez maior de caminhoneiros, transportadores e embarcadores conectados que negociam de forma online. A Covid-19 provocou o fechamento das paradas de caminhoneiros. Imediatamente, os motoristas autônomos passaram a baixar o app para buscar serviço. Simultaneamente, na outra ponta, os clientes também passaram a procurar, de forma mais intensa, caminhões de modo online.

A pandemia fez com que os apps de oferta de carga se consolidassem de forma mais acelerada?

Antes de março de 2020, quando começou a pandemia, havíamos programado investir R$ 500 milhões no negócio. O objetivo era ensinar os caminhoneiros autônomos a usarem a nossa ferramenta. E também mostrar aos embarcadores que usar o app é muito mais eficiente. A divulgação seria feita nas praças de caminhoneiros de todo o Brasil. Porém, muitos postos fecharam. Com isso, autônomos e pequenos transportadores migraram naturalmente para internet em busca de cargas. Ou seja, o dinheiro que iríamos investir em divulgação ficou parado. Apesar disso, o número de usuários e de transação de fretes cresceu muito. Em outras palavras, a pandemia fez com que o market place (tipo de negócio no qual uma empresa media a oferta de produtos e/ou serviços de outras) acabasse se consolidando de vez.

O caminhoneiro é mais ‘digital’ do que seria possível supor antes da pandemia?

A princípio, quando fundamos a empresa, em 2015, um investidor brasileiro perguntou se conhecíamos bem o mercado de transportes. Antes de mais nada, ele disse que o caminhoneiro é um profissional ‘pouco sofisticado’. Contudo, isso não é verdade. E sempre soubemos disso – desde o começo no negócio. No Brasil, o caminhoneiro é antenado, mas a tecnologia ainda não estava disseminada. Bastava que a tecnologia estivesse disponível para todos. Tanto é que, quando a pandemia surgiu, os motoristas autônomos passaram a utilizar o app espontaneamente.

O que a Cargo X pretende fazer com o dinheiro que seria investido e não foi usado?

Agora, vamos investir na segurança da plataforma. Porque, infelizmente, o roubo de carga ainda é uma realidade do mercado brasileiro. Bem como vamos aplicar na contratação de pessoas. Assim também em treinamento para os nossos colaboradores.

Como será esse novo sistema de segurança?

Primeiramente, vamos desenvolver um cadastro mais aprimorado. Nesse sentido, tanto para as empresas quanto para os caminhoneiros. Igualmente, precisamos fazer um trabalho mais exato, com tecnologia antifraude. Enfim, temos de minimizar a probabilidade de haver armadilhas para os motoristas. Nesse sentido, estamos pensando em desenvolver um seguro para cobrir os eventuais prejuízos aos usuários. Além disso, o cuidado com a segurança envolve serviços financeiros que ajudem a prevenir o risco de calotes.

Atualmente, como a Cargo X garante que o caminhoneiro receberá pelo frete?

Acima de tudo, temos um cadastro bem feito. Dessa forma, dá para saber se a empresa dona da carga é financeiramente saudável. Logo, há um bom filtro para avaliar se embarcadores, transportadores e caminhoneiros autônomos podem fazer parte da nossa ferramenta. Mas, mesmo assim, se ocorrer “calote”, a Cargo X paga o caminhoneiro. É por isso que estamos focados em desenvolver um bom seguro e sistemas antifraude.

Quais critérios são avaliados antes de a Cargo X aceitar o caminhoneiro e o embarcador?

No caso dos motoristas, verificamos se o caminhão possui todas as licenças, se é cadastrado no TRC, a veracidade e situação da CNH do caminhoneiro. Também verificamos se ele se envolveu em muitos acidentes e se tem antecedentes criminais. Dos embarcadores, levantamos se há restrições no Serasa e processos de pedido de falência, por exemplo.

Quantos embarcadores estão cadastrados na plataforma e qual é o perfil dessas empresas? 

Trabalhamos com dois tipos de empresa. As embarcadoras que têm cargas e as empresas de logística que precisam de caminhões. Na nossa base de dados há 10 mil empresas embarcadoras, 20 mil transportadoras e 45 mil caminhoneiros autônomos cadastrados.

Qual era o número de autônomos cadastrados em 2020?

Eram 25 mil caminhoneiros em 2020 e agora são 45 mil. O número cresceu sobretudo por causa da necessidade de o caminhoneiro buscar mais pelo frete online. É um reflexo da pandemia.

Esse número deve crescer nos próximos anos?

Para aumentar o número de caminhoneiros autônomos e oferecer um serviço de qualidade leva tempo. Mas esse movimento já vem ocorrendo. Quando começamos a divulgar o market place, em 2013, os embarcadores eram mais reticentes em trabalhar com autônomos. Mas isso está mudando, o que fará aumentar o número desses prestadores de serviço na plataforma. Havia uma espécie de mito no mercado de que o caminhoneiro autônomo era aquele cara difícil de lidar. Mas isso não é verdade. E os embarcadores estão constatando isso na prática. Essas empresas passaram a perceber que há excelentes motoristas no mercado. É só uma questão de triagem.

Quais benefícios o market place trará aos caminhoneiros?

A tecnologia ajudará a identificar quem é quem no mercado. Vai ter caminhoneiro autônomo que ganhará muito dinheiro. Esse é o profissional que trabalha com mais qualidade. Mas haverá outros que vão ganhar pouco. Será algo parecido com o que ocorre na Uber e no Mercado Livre, por exemplo. Os melhores prestadores de serviço são mais bem ranqueados. E, como tem melhor reputação, aparecem primeiro para quem procura pelo serviço.

As agências de frete vão desaparecer?

Elas vão se transformar. O trabalho online começa a combinar mais informações sobre o tipo de carga e do caminhão de um jeito mais eficiente. Atualmente ainda acontecem situações de ineficiência. É o caso do caminhão que viaja vazio por muito tempo. Também é preciso identificar quem são os bons caminhoneiros e embarcadores. Com as plataformas eletrônicas, será possível separar o bom do ruim e combinar essas informações de um jeito melhor. Os agentes de frete terão de evoluir.

Dá para dizer que os apps ajudam o mercado a qualificar o transporte?

Sim. Com base em informações de qualidade, o bom caminhoneiro vai poder pegar mais fretes e ganhar mais. E isso deverá refletir no acesso a crédito também. Alguns vendedores do Mercado Livre, por exemplo, ficaram  milionários. E há lojas virtuais que valem muito mais do que outras físicas em shoppings de luxo. O Mercado Livre é uma referência muito boa para entender o que ocorrerá no setor de logística e transporte. A reputação vai valer cada vez mais e o bom caminhoneiro poderá tirar proveito disso. Trata-se de um reconhecimento a quem trabalha direito.

O que a possibilidade de mensurar a reputação trará de bom para o setor?

Todo mundo fala que a grande revolução do setor será causada pela chegada dos veículos autônomos (sem motorista). Mas eu acredito que a revolução está na consolidação da reputação online. Daqui a dez anos, será a reputação dos autônomos que fará a diferença. O cara bom vai conseguir transportar mais carga. E o embarcador irá economizar. O sistema econômico do setor será muito melhor.

Publicado no Estradão