22/03/2021 07h35
Foto: Divulgação
O brasileiro resolveu voltar a comprar carro, e o principal alvo são veículos usados. Segundo dados da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), as vendas de automóveis seminovos e usados este ano já superaram em 2,4% aquelas registradas nos dois primeiros meses do ano passado. Somente em fevereiro, foram 13% a mais de negócios fechados em comparação com o mesmo período de 2020.
“Percebemos que o consumidor não abandonou o desejo de comprar, apenas adiou esse desejo enquanto as informações sobre a pandemia ainda eram poucas ou confusas. Na medida em que a situação foi se estabilizando, o consumidor retomou seu desejo de comprar um veículo, até por segurança, pois tinha receio de usar transportes públicos lotados, como o metrô e ônibus, e também veículos de aplicativos”, afirma o presidente da Fenauto, Ilídio dos Santos.
A opção por veículos seminovos e usados também é explicada pela falta de carros zero no mercado. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção caiu 31,6% em 2020.
“Hoje, a demanda por veículos é maior que a oferta. Em parte, porque, por problemas de produção, estão sendo lançados no mercado menos veículos novos. Com isso, o consumidor está buscando o usado”, disse afirma Robson Martinho, superintendente digital.
Apesar do preço dos carros não estarem muito atrativos, as condições de financiamento estão. Os bancos estão facilitando o crédito, os juros estão mais baixos e é possível financiar até 100% do veículo. Com isso, a concessão de crédito cresceu 13% nos primeiros meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado. E deve continuar crescendo.
Para Rodnei Bernardino de Souza, diretor do Itaú Unibanco, o mercado deve manter um ritmo de crescimento ao longo do ano, impulsionado principalmente pelos segmentos de veículos leves usados e de veículos pesados.
Preferência é por carros mais velhos
Os veículos mais velhinhos são os que tiveram maior crescimento na procura. Aqueles com 13 anos de uso ou mais tiveram alta de 34,8% nas vendas. Os maduros, com 9 a 12 anos de uso, 27,7% de aumento. As vendas dos seminovos, com zero a três anos de uso, subiram 9%. A única variação negativa foi na faixa dos usados jovens, com quatro a oito anos de uso: -0,2%. Os usados mais vendidos no mês passado foram Gol, Palio, Uno, Fiesta e Celta, que representaram juntos uma fatia de 26,63% das negociações.
Segundo Ilídio dos Santos, as vendas seguem tendências do desempenho da economia. “No caso do ano passado, com a queda da atividade econômica, o que percebemos foi um movimento maior no que chamamos de “troca com troco”, quando o consumidor troca seu carro por um modelo mais antigo para receber uma parte em dinheiro para quitar dívidas que contraiu durante o período crítico da pandemia”, destaca.
Comprar sem sair de casa
Na pandemia, plataformas de compra de veículos novos e usados cresceram como opção para quem quer buscar produtos e fechar negócio sem sair de casa. A plataforma Webmotors, portal de negócios automotivos do Santander, criou inclusive o carro delivery, para entregar o veículo.
O presidente da Webmotors, Eduardo Jurcevic, informa que o jeito de comprar carro mudou. “Antes, a pessoa pesquisava na internet só. Agora ela fecha tudo lá. O delivery foi uma inovação para a pandemia, mas acho que veio para ficar, porque é uma comodidade. E hoje, ver a condição do carro usado na internet é muito mais fácil. Tem mais informações”, afirma.
É mais uma opção para a demanda por compra. Segundo uma pesquisa da plataforma, com 2.103 pessoas, 95% queriam trocar de carro este ano. O principal motivo é porque o carro está velho (37%), seguido pelo costume de trocar de carro (35%), crescimento da família (18%), para evitar o Covid-19 (8%) e para trabalhar com táxi ou aplicativos de corrida (6%).
Como forma de pagamento, 64% afirmaram que financiariam uma parte, enquanto 27% comprariam à vista, 5% financiariam 100% do carro e 4% adquiririam por meio de um consórcio. Já dos que não tinham carro, 90% queriam comprar em 2021.
Momento para comprar
Quando a pergunta é se o momento é bom para adquirir um veículo, a resposta depende da necessidade do consumidor. Se uma empresa precisa renovar sua frota, é melhor adiantar a compra, pois o cenário econômico até o fim do ano deve piorar. Se conseguir esperar por três anos, deve fazer isto. Para as famílias, a orientação é adiar o negócio.
Isto ocorre em parte porque, o Copom do Banco Central decidiu aumentar a meta da taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic, de 2% para 2,75%. Mas os analistas apontam que ela deve chegar em 3,5% até o fim de 2021.
“Então, é um momento pior do que antes, mas provavelmente melhor do que o que virá. Além disso, a taxa de financiamento de veículos também é uma variável importante nesta decisão e deve ficar mais cara, já que é impactada pela condição de financiamento das famílias, que deve piorar por causa da Selic e da redução do auxílio emergencial”, explica Eduardo Amendola, economista e professor da Estácio.
O estoque de veículos novos à venda no país também aumentou na pandemia, o que reduziu os preços. Mas eles devem voltar a subir em breve.
Fonte: Extra