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Transporte Aquaviário

Cresce exportação de grãos pelos portos paraenses

Desde 2010, aumentou em 611% a movimentação de grãos nos estados de Rondônia, Amazonas, Amapá e Pará

20/04/2021 14h48

Porto de Santarém - Divulgação

Nos últimos cinco anos, a movimentação de grãos pelos portos do Pará cresceu 325%, ajudando na geração de emprego e renda e no aquecimento da economia dos municípios de onde os produtos saem para o exterior. De acordo com dados estatísticos da Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq), somente em 2020, foram movimentados 23.3 milhões de toneladas de soja e 19,2 milhões de toneladas de milho, somando 42.5 milhões de toneladas pela rede hidroviária do estado, contra 10 milhões em 2015 - sendo que a quantidade exportada representa uma parte de toda essa movimentação.

Em 2020, saíram para exportação, no Pará, 17,8 milhões de toneladas de milho e soja, de acordo com Adalberto Tokarski, diretor da Antaq. Somente do Porto de Santarém, que aparece em primeiro lugar, houve uma movimentação de mais de 13 milhões de toneladas desses dois produtos, ano passado, dos quais cerca de 6 milhões representam o quantitativo exportado – considerando que uma mesma tonelada tem mais de uma movimentação. “Se um determinado grão sai de Miritituba e é colocado na barcaça, é feito um movimento. Ela navega e chega em Santarém, esse grão vai para o armazém, na hora que tira da barcaça, é um segundo movimento. Quando se coloca no navio para ir embora, é um terceiro movimento”, explica o diretor da Antaq.

Fenômeno

Esse crescimento tem acompanhado um fenômeno observado na última década, nos portos da Amazônia, que se tornaram corredor logístico e importante caminho para escoamento de mercadorias para o exterior, de forma barata e rápida. Segundo Adalberto Tokarski, desde 2010, aumentou em 611% a movimentação de grãos nos estados de Rondônia, Amazonas, Amapá e Pará. “Um número enorme e continua crescendo”, ressalta.

Os investimentos do setor público e, principalmente, do setor privado, na área portuária e de infraestrutura, como a conclusão da BR 163, que chega a Miritituba, em Itaituba, contribuíram com esse resultado. Foram R$ 5 bilhões investidos só em terminais e estações de transbordo, na Região Norte, nos últimos anos. “E vai continuar aumentando. Porque, primeiro, nós temos uma produção aumentando e foram construídos vários terminais, tanto em Miritituba quanto em Porto Velho, foram construídos portos na região de Barcarena e mais de 400 barcaças para fazer esse transporte. Então, o sistema está pronto, nós temos ainda uma capacidade de estação de transbordo de carga para movimentar mais”, declarou Tokarski.

Ele ressalta, no entanto, que ainda não se pode afirmar que os portos da região desbancaram ou se igualaram ao restante do país na exportação de grãos. No chamado Arco Norte, que abrange além dos portos da Região Norte, alguns do Nordeste, a movimentação de grãos representou um pouco mais de 30% de todo o País. Ainda assim, o crescimento na Amazônia é expressivo e tem chamado a atenção.

Concorrência

Ano passado, a movimentação cresceu em torno de 20% nos estados do Norte, em comparação a 2019. “É lógico que tem uma concorrência, na parte Sul e Sudeste, que é a Ferronorte, que leva ao porto de Santos. O que vai depender desse crescimento maior ou menor é quem der o maior desconto, quem fizer o menor preço de frete e isso, pela primeira vez, no ano passado, fez o frete no meio do Mato Grosso cair. As empresas que querem transportar para o Sul e Sudeste tiveram que baixar, porque senão iria sair mais ainda por Miritituba, de onde você anda mil quilômetros de estrada e já cai na água”.O principal destino dos grãos que saem da região continua sendo a Ásia, especialmente a China.

Adalberto ressalta que há mais investimentos vindos da iniciativa privada, que tem sinalizado a construção de pelo menos mais dois terminais na região de Belém e Barcarena, e um no Amapá, entre outras obras.  Para o diretor da Antaq, esse aumento na movimentação pelos portos pode contribuir ainda mais com a economia e desenvolvimento da região, com medidas como a verticalização da produção. “Por exemplo, na região de Barcarena, você tem um volume de grão enorme. Então, porque não busca a implementação de uma esmagadora? Quando você esmaga soja, você tem o farelo de soja e hoje boa parte está sendo exportado. Na hora que você esmaga, produz o óleo e outros produtos. O Pará está virando caminho de vários produtos e pelo fato de ter toda essa estrutura logística em água pronta precisa verificar como absorver tudo isso para que o estado ganhe mais. Ele já está ganhando em emprego, renda, mas pode ganhar muito mais se desenvolver algumas cadeias produtivas para esses produtos”, afirma.

A caminho de recorde

Gerente de Planejamento e Mercado da Companhia Docas do Pará (CDP), Ricardo Medina cita o 2º Levantamento da safra de grãos 2020/21, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que estima uma produção, no País, de 268,9 milhões de toneladas de alimentos, 4,6 % a mais do que a temporada de 2019/2020. Com isso, o Brasil caminha para bater novo recorte. “Felizmente, o Pará hoje consegue participar desse escoamento de grãos para o mundo, principalmente para a Ásia. A evolução desse escoamento de grãos pelos portos do Arco Norte se dá por um fator que a iniciativa privada tem visto, os produtores e exportadores ficam sempre atentos a isso, que é o custo do frete, o custo logístico”. Segundo ele, nos últimos anos, houve um movimento de união dos exportadores e dos produtores do Mato Grosso, buscando a viabilização de uma via de transporte para escoar esses grãos pelos portos do Norte.

Para Medina, os investimentos realizados e o aumento na movimentação portuária já estão gerando resultados positivos na economia dos municípios envolvidos. “O que a gente constatou é a implantação de escritórios, com, obviamente, contratação de pessoas, de todos esses operadores”, observa. “Isso tem um movimento muito grande de emprego que é gerado, seja em Santarém, seja na região de Barcarena, onde você tem também as instalações e os terminais de uso privado que atuam fortemente no escoamento desses grãos. E é uma mão de obra qualificada”.

Medina avalia que a verticalização deve trazer mais desenvolvimento, mas só a logística já está proporcionando uma série de impactos econômicos positivos. “Você tem movimentação de impostos, o ISS (Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza) pro município. Tem a movimentação de granel que sai de um estado pro outro, ainda um granel nacional, e depois ele é colocado à disposição do mercado exterior, vira mercadoria para o mercado externo e tem os benefícios, mas, antes disso, tem também o imposto que é gerado e isso tudo pode voltar em obras e serviços que os entes públicos promovem, também com expectativa de geração de emprego em toda a cadeia, porque você precisa de caminhoneiro, de ajudante, de pessoal que vai fazer exame médico para fazer admissão ou acompanhamento, planos de saúde... Tudo isso tem uma cadeia que movimenta um fluxo de mão de obra e contratação expressivo, que é movimento multiplicador”.

Fonte: O Liberal