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Economia

Delivery de supermercado cresce 10x devido ao Covid-19, diz Abase

Clientes têm encontrado dificuldade para realizar compras online nos supermercados

26/03/2020 16h23

Foto: Marina Silva - Correio

A comerciante Bárbara Cantello, 30 anos, fez as compras do mercado por meio de um aplicativo de entrega pela primeira vez em 17 de março. A escolha de não ir ao estabelecimento comercial foi uma medida de proteção contra o novo coronavírus (Covid-19). Essa também foi a última vez que ela conseguiu fazer o pedido pelo Rappi, que agora tem um tempo de espera de uma semana para agendar a entrega dos produtos na casa de Bárbara.

De acordo com o presidente da Associação Bahiana de Supermercados (Abase), Joel Feldman, a demanda por entrega em domicílio nos supermercados de Salvador cresceu 10 vezes desde a imposição de medidas de prevenção ao vírus. A alta nas compras nesta modalidade começou por volta de 18 de março, quando as aulas nas escolas municipais foram suspensas, afirma Feldman.

É essa procura que faz com que o prazo entre o pedido e a entrega dos produtos salte de algumas horas para uma semana, como o que ocorreu com Bárbara. A comerciante está grávida de gêmeos, que podem nascer a qualquer hora, e se isolou para não contrair a doença durante a gravidez ou com os filhos recém-nascido. A alternativa é pedir para alguém da família comprar os itens em uma loja física e entregar em sua casa.

“Eu estou tentando fazer o pedido há dias. Moro na Centenário e no Rappi só tem o GBarbosa, mas o prazo de entrega das compras é de uma semana. Também tentei outro mercado da minha região, mas eles não têm mais vaga para a entrega dos produtos no site”, afirma ela.

A aposentada Raquel Silva, 89, faz parte do grupo de risco para a doença e deve ficar isolada para se proteger. Por isso, receia ir ao supermercado, mesmo nos horários exclusivos para idosos. A ideia foi fazer as compras pela internet.

No site do Hiperideal não havia vaga para solicitar a entrega em domicílio. Para abastecer a casa de Raquel, um de seus netos terá que ir ao supermercado, fazer as compras e deixá-las na residência da idosa. "Não queria que meus netos corressem risco, mas um deles vai fazer as compras no mercado e deixar na minha casa, evitando contato comigo", completou.

Estrutura limitada
Com o aumento abrupto das compras em mercados pela internet, é natural que se haja um crescimento no prazo para a entrega destes produtos, ressalta a Abase. “A demanda de delivery de itens tinha pouco volume nos mercados que tinham essa operação. As vendas online representavam menos de 2% nos estabelecimentos que ofereciam essa opção. Isso ganhou um volume maior, mas a estrutura é limitada”, explica Feldman.

Entretanto, o presidente da associação acredita que o tempo de entrega deve reduzir em supermercados que já possuíam essa opção antes da pandemia com a otimização da operação. 

Outra que fez compras online no mercado pela primeira vez, a médica Marília Lordello, 33, acredita que a situação deve melhorar. Em uma compra realizada no Hiperideal na última terça (24), os itens chegaram apenas uma hora depois do horário marcado para entrega.

Fila de espera
O Hiperideal é um dos supermercados que já possuía a opção de compra online no site com delivery. De acordo com a assessoria do estabelecimento, os pedidos eram entregues, em média, em 4h antes do isolamento. Com a alta demanda, a média subiu para 24h a depender da loja. “Algumas lojas estão com fila de espera e outras conseguimos entregar no mesmo dia”, explica a rede de supermercados.

No Hiperideal, os pedidos realizados no site do estabelecimento que foram enviados por e-mail como prioridade são atendidos “o mais rápido possível”. Para reduzir os atrasos na entrega, a rede de supermercados contratou mais funcionários e comprou mais equipamentos para a tarefa. “A semana passada tivemos atrasos pois não estávamos esperando uma demanda tão alta”, admite. 

Os supermercados das redes Extra e Pão de Açúcar já ofereciam as compras online com entrega em domicílio antes da pandemia do coronavírus. A compras podem ser realizadas no site de cada mercado, nos aplicativos Clube Extra e Pão de Açúcar Mais ou no app James Delivery, que atende apenas estas duas redes. Os idosos tem entrega prioritária. 

Determinação da prefeitura
Durante a inauguração de um Centro POP, o prefeito ACM Neto recomendou que todos os supermercados de Salvador ofereçam serviços delivery e deem preferência para idosos durante a pandemia de Covid-19. O gestor ainda determinou que os supermercados reservem 2h do dia para que os idosos com mais de 60 anos possam fazer as suas compras. Sempre das 7h às 9h.

A Abase afirma ter adesão total ao decreto e indicar que os supermercados da capital cumpram as duas horas de atendimento exclusivo para os grupos de risco. “Ainda teremos mais checkouts nas lojas para atender aos consumidores. Colocamos adesivos em algumas lojas para determinar a distância entre as pessoas nas filas. Outros mercados instalaram uma barreira de acrílico para separar o caixa dos clientes”, pontua.

As redes GBarbosa, Mercantil Rodrigues e a Perini não possuem delivery próprio das compras, mas implantaram horário preferencial e aumento dos check-outs disponíveis para idosos e outros grupos preferenciais nas duas primeiras horas de funcionamento em todas as lojas.

Feldman ainda concorda que fazer entregas por delivery é uma boa alternativa durante a necessidade de isolamento social imposta pelo vírus.

Como nem todos os estabelecimentos possuem a opção de delivery, o foco, de acordo com a Abase, é manter o abastecimento e a eficiência no trabalho local, inclusive, nos aspectos de prevenção. “Temos abastecimento para os próximos 30 dias. Possuímos limitações. Elas não estão atreladas ao vírus, mas por outras questões, como a safra do feijão, a alta nos preços dos ovos e a alta no óleo de soja, já que o valor da soja é ligado ao preço do dólar. Nada disso é fora do normal”, explica.

De acordo com a Abase, os supermercados tiveram uma demanda muito grande nos primeiros quatro dias de isolamento porque as pessoas estavam abastecendo suas casas. Depois, o fluxo de clientes se normalizou, havendo até cerca de 15% a menos movimento em algumas lojas, informa a Abase.

“Como as ruas estão vazias, o consumidor vem menos vezes ao mercado e vem uma vez só. No fim de semana, o movimento deve ser maior, mas dentro da normalidade”, pontua.

Aplicativos de entrega
Os aplicativos de entrega permitem que os clientes façam suas compras mesmo em supermercados que não possuem serviço de delivery. Durante o isolamento, a alta demanda também reduz a rapidez das entregas dos pedidos.

Em nota, o Rappi afirma que o tempo de entrega depende do pedido e solicita paciência dos usuários para possíveis atrasos. “Estamos trabalhando continuamente para oferecer o melhor serviço possível”, ressalta.

Já o James Delivery informa que o tempo médio habitual de entrega é de 45 minutos, mas o prazo pode ser ultrapassado devido à alta demanda nos últimos dias. A empresa ressalta que o atraso é informado ao cliente.

De acordo com a assessoria do James Delivery, o número de pedidos na plataforma cresceu 50% na última passada em comparação com a anterior. Já a demanda na vertical de varejo, com as compras de supermercados, dobrou neste período.  A plataforma realiza de forma exclusiva as entregas last mile das redes Extra e Pão de Açúcar.

Para aumentar a frota de carros no app e apoiar as entregas, o James faz parcerias com motoristas de aplicativos de transporte individual.

No Rappi, os itens de supermercado têm sido bastante procurados. A empresa, entretanto, não divulga os dados locais. Uma das redes parceiras da plataforma é a GBarbosa.

Outra plataforma de entrega, o Ifood não disponibiliza dados sobre os parceiros regionais e a demanda durante o período de isolamento. Como uma forma de evitar o contágio, os clientes do app podem optar por receber uma "Entrega sem Contato". Nesta opção, o entregador é avisado e recebe os direcionamentos necessários para concluir a entrega sem contato físico com o cliente final.

Fonte: Correio24h