Utilizamos cookies de terceiros para fins analíticos e para lhe mostrar publicidade personalizada com base num perfil elaborado a partir dos seus hábitos de navegação. Pode obter mais informação e configurar suas preferências AQUI.

Transporte Terrestre

Demanda por ônibus clandestinos cresce 30% no Brasil

Os veículos ficam mais atrativos porque têm trajeto mais flexível, ausência de regras, de fiscalização e passagem mais barata

15/12/2020 11h45

Foto: ANTT - Divulgação

O movimento de ônibus clandestinos no Brasil aumentou 30% em 2020. O principal motivo seria a redução da oferta de assentos nos ônibus regulares após o início da quarentena, em março. O dado é da Associação Brasileira de Transportes Terrestres de Passageiro, Abrati.

Por isso, o transporte irregular ganhou força. Por outro lado, o faturamento das empresas regulares que atuam no setor despencou.

Segundo dados da Abrati, entre abril e junho a queda na receita chegou a 95%. Conselheira da associação, Letícia Pineschi  diz os passageiros tiveram de buscar alternativas para viajar.

Ônibus clandestinos driblam fiscalização

Os ônibus clandestinos são atrativos por causa da passagem barata. Além disso, os trajetos são flexíveis e as mercadorias embarcadas não são fiscalizadas.

Contudo, o passageiro não leva em consideração a questão da segurança. Ou seja, como não são fiscalizados, em geral os ônibus clandestinos não recebem manutenção adequada. Isso aumenta o risco de acidentes, como a recente colisão na região de Itaí (SP) na qual 41 pessoas morreram.

Muitos não têm documentos em dia. Tal qual o pagamento do seguro DPVAT, que garantirá indenização em caso de acidente. Há casos de motoristas sem habilitação ou com a CNH vencida.

Passageiro foca apenas preço

Mas o preço baixo é determinante para muita gente. Como a cozinheira Neide Silva, de 42 anos. No fim do ano ela, pretende viajar em um ônibus clandestino. Frequentemente ela vai para Várzea Nova, no interior da Bahia.

O veículo partirá de São Paulo. E, segundo Neide, sairá de um ponto improvisado ao lado da Rodoviária do Tietê, na zona norte da capital paulista.

Porém, segundo ela, os ônibus de operadoras regulares só vão até Morro do Chapéu. O município é vizinho de Várzea Nova.

A distância entre as duas cidades é de cerca de 50 km. “Sendo assim, eu teria de pagar mais R$ 100 para chegar”, diz Neide. Ela costuma fazer a viagem de ônibus clandestinos.

E afirma que os veículos são bem cuidados. De acordo com Neide, há wifi a bordo e os ônibus “passam por revisões”.

Acidentes são recorrentes

Letícia confirma que nos ônibus clandestinos o preço é mais baixo. Em síntese, isso ocorre porque os custos são menores. “Não há, por exemplo, recolhimento de ICMS. Isso impacta diretamente no valor passagem”, explica.

Enfim, segundo a conselheira da Abrati, o serviço é precário. “Há garantias legais que o transportador regular deve oferecer ao passageiro. E que o clandestino não proporciona. “Uma delas é o seguro para o caso de acidentes, morte e invalidez”, explica.

Consultor de transportes da Transconsult, Eduardo Abrahão diz que o risco de um ônibus clandestino se envolver em acidente é muito alto. Segundo ele, um dos motivos é que não há acompanhamento da jornada do motorista. “Estudos mostram que 90% dos acidentes ocorrem por falha humana. E, por isso, é importante esse monitoramento”, afirma.

Fiscalização

Outra exigência cumprida pelas empresas regulares é a realização de exames toxicológicos. Do mesmo modo, há os testes de bafômetro feitos pelos motoristas.

E a jornada dos profissionais deve ser cumprida conforme previsto em lei. “Em uma transportadora clandestina, porém, não há controle sobre se o motorista descansou. Nem se ele fala ao celular ou usa aplicativo de mensagem enquanto está dirigindo”, diz Abrahão.

Para fugir da fiscalização, os ônibus clandestinos rodam por vias alternativas e evitam pedágios. A empresa dona do ônibus que caiu de um viaduto na BR-381, em Minas Gerais, já havia sido autuado pelo menos seis vezes.

A informação é do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais, DER-MG. Três dessas autuações dizem respeito ao transporte de passageiros sem autorização.

Neste ano foram feitos 2.490 autos de infração por causa de transporte clandestino por ônibus. Para essas empresas, o prejuízo foi de R$ 13,2 milhões. Foram apreendidos 1.188 veículos.

Isso impactou cerca de 35,6 mil passageiros que utilizavam esse tipo de transporte. Os dados foram divulgados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres, ANTT.

Fonte: Estradão