28/04/2023 06h07
Foto: Divulgação
No início de 2018 a Petrobras anunciou a hibernação das fábricas de fertilizantes nitrogenados Fafen (BA) e Fafen (SE) mantendo-as sob regime de manutenção permanente, isto é, dar um passo para a paralização definitiva. Na ocasião eu era Presidente da Associação Comercial da Bahia (ACB) e publiquei no Jornal Tribuna da Bahia (21/01/2018) o artigo intitulado “Contra o fechamento da Fafen” indicando que pelo menos duas alternativas poderiam ser examinadas: venda ou arrendamento.
No dia 19/03/2018 foi anunciado pela Petrobras o fechamento das duas Fafens. Voltei a escrever artigo sobre o assunto “O fechamento das fábricas de fertilizantes” publicado na Tribuna da Bahia no dia 28/03/2018.
No dia 11/04/2018 publiquei outro artigo na Tribuna da Bahia com o título “Três alternativas para a Fafen” sugerindo: a) adoção de política de preço diferenciada para o gás matéria-prima; b) O governo permitir a exploração do gás de folhelho (shale gas); e c) realização de operação “swap” com a troca de gás natural adquirido na Bolívia.
A partir daí, por coincidência ou não, a Petrobras recuou e decidiu fazer o arrendamento. Foi realizada uma licitação e a Unigel saiu vencedora. Para que as duas unidades voltassem a funcionar foram dispendidos pela Unigel US$ 150 milhões. Muitos investimentos corretivos e de manutenção ainda precisam ser realizados nas duas plantas para atualização tecnológica e modernização. A fábrica de sulfato de amônio da unidade de Laranjeiras, no Estado de Sergipe, e a unidade de fabricação de ácido nítrico da planta de Camaçari, no Estado da Bahia, ainda não voltaram a funcionar. A primeira está à espera da conclusão da fábrica de ácido sulfúrico que está sendo construída pela Unigel em Camaçari, e a segunda depende da prospecção de mercado que a área de marketing está realizando.
As plantas estavam em estado lastimável com o mato tomando conta das áreas livres e vários equipamentos e máquinas a caminho de se tornarem sucatas. As áreas verdes hoje estão cobertas por lindos jardins bem irrigados, com gramado bem tratado e com belas flores onde se aplica corretamente fertilizantes de boa qualidade. Uma demonstração exemplar dos cuidados que se deve dispensar a um equipamento produtor de riqueza que abriga milhares de brasileiros com empregos dignos. O arrendatário tem desenvolvido programa de investimentos voltados para a modernização e atualização tecnológica, para que as unidades se tornem competitivas na manufatura da amônia e da ureia, em diferentes grades, e essas usinas se fortaleçam e se perpetuem no mercado, e possam apoiar o vigoroso agronegócio que tanto tem fortalecido a economia de nosso País.
Entretanto, quando tudo começa a andar bem, quando se vislumbra a construção de novas unidades de amônia e ureia para substituir os volumes enormes de importações desses materiais, e o governo volta a se preocupar coma viabilização da fábrica que está paralisada no Paraná e outra que estava sendo implantada no Mato Grosso do Sul, com 81% de progresso de construção e montagem, eis que surgem movimentos de organizações sindicais manifestando-se pela devolução das Fafens à Petrobras.
É o caso de se indagar por que não se manifestaram contra a paralisação das duas fábricas? Por que não perguntaram o motivo de elas estarem dando prejuízo? Por que não investigaram para onde iriam os brasileiros que lá estavam trabalhando? Será que a unidade da Bahia, precursora do Polo Petroquímico de Camaçari, funcionando desde 1971, que incentivou tantos jovens a escolherem a química como profissão, inclusive este baiano autor deste artigo, não merecia tão desastrada paralização? A esperança e a certeza que temos, nesses tempos de novos governos, é que o bom senso prevaleça e norteei as decisões dos dirigentes que hoje estão no comando desse gigante que se chama Brasil.
No ambiente empresarial do nosso País ninguém acredita que esse assunto esteja sendo cogitado pela Petrobras, pela seriedade e bons propósitos que a nova diretoria tem prometido e pretende realizar. Mas não custa nada alertar para a existência de movimentos que semeiam o retrocesso, sendo necessário exterminá-lo no seu nascedouro, seguindo a máxima de que o mal se cura pela raiz.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]
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