Utilizamos cookies de terceiros para fins analíticos e para lhe mostrar publicidade personalizada com base num perfil elaborado a partir dos seus hábitos de navegação. Pode obter mais informação e configurar suas preferências AQUI.

Sustentabilidade

Dia da Sobrecarga da Terra e o impacto da Covid-19

É o dia em que a civilização global sai do verde do superávit ambiental para entrar no vermelho do déficit ambiental

22/08/2020 16h40

No Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day), que neste ano de pandemia, acontece em 22 de agosto de 2020, o doutor em demografia e colunista do EcoDebate, José Eustáquio Diniz Alves, destaca que este dia marca o momento em que o sistema de produção e consumo absorveu todos os insumos naturais renováveis oferecidos pelo planeta previstos para os 12 meses do ano. “É o dia em que a civilização global sai do verde do superávit ambiental para entrar no vermelho do déficit ambiental”, salienta.

A despeito de pequenas oscilações, entre 1970 e 2019, há uma clara tendência do Dia da Sobrecarga acontecer cada vez mais cedo. Ano passado, o limiar entre o superávit e o déficit ocorreu no dia 29 de julho. Mas em 2020, por conta do surto pandêmico da Covid-19, houve uma paralisação geral da economia global e o Dia da Sobrecarga ocorre dia 22 de agosto.

Segundo o site da Global Footprint Network, a Covid-19 provocou uma redução da Pegada Ecológica mundial, demonstrando que é possível, num curto espaço de tempo, alterar os padrões de consumo por recursos dos ecossistemas. Houve redução de 9,3% da Pegada Ecológica global em decorrência, principalmente, da diminuição da extração de madeira e das emissões de CO2 resultantes da combustão de combustíveis fósseis. No entanto, para José Eustáquio “a verdadeira sustentabilidade, a que possibilita que todos prosperem na Terra, apenas poderá ser alcançada através da planificação e não da catástrofe. Ou seja, como se diz no movimento decrescentista: “Sua recessão não é o meu decrescimento”.

Ele ressalta que a humanidade utiliza atualmente mais 60% do que aquilo que pode ser renovado – o equivalente aos recursos de 1,6 planetas. #Desde o Dia da Sobrecarga da Terra até ao final do ano, a humanidade aumentará o déficit ecológico, que tem crescido de forma constante desde que se registou um déficit ecológico mundial no início da década de 1970, de acordo com as Contas Nacionais de Pegada e Biocapacidade (NFA) baseadas em conjuntos de dados da ONU (com 15.000 pontos de dados por país e por ano). Uma vez que os dados da ONU apenas se estendem até 2016, os resultados globais para 2020 foram avaliados utilizando dados complementares”, explica.

Segundo o comunicado à imprensa da Global Footprint Network, “a redução súbita da Pegada Ecológica está longe de ser a mudança intencional necessária para alcançar tanto o equilíbrio ecológico como o bem-estar das pessoas, duas componentes indissociáveis da sustentabilidade. A humanidade tem estado unida pela experiência comum da pandemia e demonstrou como as nossas vidas estão interligadas. Ao mesmo tempo, não podemos ignorar a profunda desigualdade das nossas experiências nem as tensões sociais, econômicas e políticas que foram exacerbadas por esta catástrofe global”.

Para José Eustáquio, “ao invés do pandemônio atual, a humanidade precisaria planejar um decrescimento demoeconômico para colocar as atividades antrópicas em equilíbrio homeostático com a biocapacidade do Planeta, única forma de se evitar um colapso ambiental e civilizacional, como explicou, em entrevista recente, Herman Daly (2018), ao defender o Estado Estacionário. Da mesma forma, o livro “Enough is Enough: Ideas for a sustainable economy in a world of finite resources” diz: “Precisamos pegadas menores, mas também precisamos de menos pés” (2010)”.

“O ser humano nasceu em um Planeta rico em meios de sobrevivência e generoso ao compartilhar, gratuitamente, toda a biodiversidade natural para o desfrute dos seres vivos existentes. A Terra tinha poucas pessoas e muita água, muita terra, muitas árvores, enfim, uma exuberante flora e fauna. Mas a espécie humana utilizou a sua inteligência (instrumental) para desenvolver uma cultura egoísta e para se diferenciar do mundo natural. A civilização adotou um modelo de produção e consumo que degrada a integridade dos ecossistemas. A humanidade cresceu e se enriqueceu às custas do encolhimento e do empobrecimento da vida natural”, ressalta José Eustáquio.

Ele acrescenta que “a população mundial, provavelmente, vai aumentar cerca de 2 bilhões de pessoas até 2050, segundo as últimas projeções da ONU. As agências econômicas calculam que o PIB mundial vai mais que dobrar nos próximos 30 anos. Mas a economia é um subsistema da ecologia e o Planeta está chegando ao limite da sua capacidade de resiliência. Sem ECOlogia não há ECOnomia”.

“Mais cedo ou mais tarde o sobrepeso das atividades antrópicas, se não for revertido, provocará um colapso ambiental. Então, será impossível continuar antecipando o Dia da Sobrecarga da Terra. É possível retirar lições poderosas da experiência coletiva da pandemia e principalmente perceber que a comunidade internacional torna-se mais forte quando age em conjunto e de forma determinada”, conclui José Eustáquio.