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Economia

Dólar alto reflete no preço do pão e outros itens

Na comparação com o ano passado, o quilo que custava R$ 12,99 passou a valer R$ 13,99, um aumento de 7,7%

20/10/2020 17h12

Foto: Divulgação

Comprar um pãozinho cedo na padaria tem ficado mais caro. Mais um reflexo da alta do dólar, já que a farinha usada para a produção é importada. E não é só o pão. Os valores de outros alimentos, combustíveis, viagens, entre outros itens, também sobem por causa da moeda americana.

Se a comparação for com 2006, quando começou a ser vendido por quilo, o pão está 185% mais caro. Já na comparação com o ano passado, o quilo que custava R$ 12,99 passou a valer R$ 13,99, um aumento de 7,7%.

Em 2020, o real foi a moeda com pior desempenho no mundo. Foi a que mais perdeu valor de compra entre 30 moedas.

Quando o real foi lançado em 1994, a proporção entre a moeda e o dólar era de 1 para 1, mas 26 anos depois um dólar passou a custar mais de R$ 5. Nesta segunda-feira (19), a cotação fechou em R$ 5,60.

“A desvalorização da moeda brasileira está associada diretamente à desvalorização da produção nacional. Ou seja, o valor de uma moeda de um país está diretamente associado ao valor de sua produção. Então o que aconteceu é que nesse período, nesse percurso todo, a economia brasileira desenvolveu muito pouco sua produtividade”, explica o economista Luiz Edmundo de Oliveira Moraes.

As incertezas têm feito com que o investidor pense melhor onde vai aplicar o dólar que tem. A taxa básica de juros no Brasil está em 2%, a menor da história.

“Essa redução desestimulou aqueles investidores especulativos. Por um lado é ruim, porque de fato o preço do dólar a R$ 5,60 é um absurdo. Isso vai causar inflação, vai aumentar ainda mais o preço dos alimentos. Mas por um outro lado, se nós mantivéssemos os juros altos, nós teríamos um problema com nossa dívida pública, nossa dívida aumentaria, seria corrigida pelos juros altos, e a solução definitiva do problema, que é a estabilização da nossa moeda, a estabilização da dívida pública, seria muito mais distante”, avalia o economista.

Esse abismo entre as moedas atinge em cheio quem importa produtos para revender no Brasil. A farinha especial para pães é feita com trigo comprado na Argentina. A matéria-prima vai para o sul do Brasil, onde é preparada para depois ser distribuída.

Luiz é dono de uma distribuidora em Mogi das Cruzes e, do começo do ano para cá, já segura uma alta de 40% nos gastos por causa do dólar.

“Devido a essa situação que nós estamos vivendo de pandemia, tanto os moinhos, como os panificadores e essa parte de logística, tudo, seguraram esses repasses de aumento. Só que chega uma hora que fica inviável, porque não é só o aumento do dólar, da farinha em si, nós temos também aumento de energia elétrica, o custo operacional aumenta muito também. Na verdade, a gente acaba reduzindo o lucro, a gente corta a margem de lucro para continuar mantendo o fluxo de movimentação”, afirma Luiz Fiori.

Com o preço do dólar em alta, os produtores acabam destinando a mercadoria para a exportação. “Hoje o Brasil está exportando produtos que não exportava antes. Hoje o Brasil fez negociação de trigo para vender para fora, que nunca fez, porque com o dólar alto o pessoal vem aqui com nosso real baixo. O cara prefere comprar um trigo nosso aqui, com preço bem mais em conta, e acaba mandando para fora. Então o que acontece, nós já não somos autossuficientes em trigo, então nós somos obrigados a importante e, com dólar alto, vamos pagar bem mais caro.”

Já para a empresária Glória Marcatto, a alta do dólar trouxe bons resultados para a fábrica de peças para aviação. A unidade, também em Mogi, produz itens usados pela Embraer na aviação comercial e também militar.

“Com essa alta, a exportação ficou muito atrativa. A nossa intenção é desenvolver produtos de marca própria com foco na exportação”, afirma Glória.

Com isso, a empresa começa a estudar novos mercados como a Ásia, África e América Latina. O lado ruim da história é que, por enquanto, os planos de atualizar algumas máquinas da linha de produção vão ter que esperar, já que elas são cotadas em dólar.

“O nosso projeto é para 2021, 2022. A nossa ideia é realmente renovar todo o parque fabril”, diz a empresária.

Para quem acompanha a economia brasileira, só o tempo poderá dizer o rumo da moeda norte-americana. Até lá, não dá pra fazer projeções se o dólar vai subir mais até o final do ano ou despencar.

“Torcer para que o investidor volte a acreditar na economia brasileira e volte a investir na sociedade aqui, de tal maneira não só a reduzir o preço do dólar, mas fundamentalmente para gerar emprego. De todos os indicadores, aquele que apresenta o aspecto mais dramático é exatamente o desemprego”, explica o economista Luiz Edmundo de Oliveira Moraes.

Fonte: G1