07/06/2020 10h10
Foto: Divulgação
Este é um dos temas considerados de grande relevância para a sociedade, independente da época. As organizações familiares, nascidas do desejo e necessidade dos seus fundadores, que sonharam construir negócio próprio, hoje representam uma parcela importante da receita nacional. Ressaltamos que 1/3 das 500 maiores empresas do mundo são familiares e, considerando somente os países industrializados, em torno 75% de seus empreendimentos também estão neste grupo. No Brasil, estas empresas são responsáveis pela empregabilidade de mais de 50% da força de trabalho.
Inúmeras empresas familiares iniciaram suas atividades em pequenos escritórios e hoje possuem um volume de contratos e clientes que as caracterizam como médias e grandes empresas, constituindo assim um universo com grande heterogeneidade, tanto no seu tamanho e grau de competitividade quanto nos ambientes econômicos que atuam. Este crescimento nem sempre foi planejado, muitas empresas se estruturaram, tornaram-se competitivas, outras se acomodaram e precisam reformular suas atividades e modelo de gestão para concorrer no mercado atual. Num processo evolutivo, o foco estava mais direcionado a administrar a eficiência, com pouca atenção à mudança de comportamento de seus integrantes.
O deslocamento de prioridade dos gestores, as sucessivas rupturas tecnológicas, o aumento da diversificação da força de trabalho, o crescimento da competitividade, são alguns dos fatores que levam as organizações a se deparar com uma realidade de maior dinamismo, que exige um importante e continuo incremento de inovação, renovação da cultura organizacional e gestão de mudanças para responder às demandas de mercados mais agressivos
Adentrar o universo de uma dessas empresas, especialmente quando o foco é prestar serviços de consultoria visando a sua modernização e incremento de novas ferramentas e tecnologias direcionadas à melhoria dos padrões e indicadores de gestão, requer uma estratégia customizada, desenhada a partir do conhecimento da organização, incluindo seus ativos tangíveis e intangíveis, como sua história, cultura, estilo de gestão, políticas de mercado, políticas de gestão de pessoas, entre outros. Não é possível dar suporte a questões relevantes para o seu crescimento, adaptando-as às novas regras de mercado, exigências das partes interessadas no negócio (colaboradores, fornecedores, clientes, acionistas, entre outros), sem respostas a alguns questionamentos, como por exemplo:
São muitas as peculiaridades que envolvem a gestão da organização e também são grandes os desafios que precisam enfrentar para alinhar-se a realidade contemporânea, ao novo consumidor, aos novos padrões de práticas de gestão e, ao mesmo tempo, manter as características e valores que deram sustentação à sua trajetória, o que chamamos de ativos positivos intangíveis. São estes ativos que de fato dão singularidade a essas organizações, questões relacionadas, por exemplo, ao engajamento dos colaboradores com a empresa, envolvendo-os em uma espécie de grande família corporativa.
Contextualizando as questões aqui mencionadas citaremos a seguir algumas características que, de forma geral, são comuns nas empresas familiares e que constituem a base da cultura dessas organizações:
Complementando as questões aqui apresentadas citamos a seguir dados obtidos em pesquisa da Bain & Company realizada recentemente com mais de 8.000 empresas em todo mundo, visando compreender melhor o percurso e as possíveis barreiras para o crescimento enfrentado por elas e, conforme resultados divulgados em The Founder’s Mentality, concluiu-se que para as empresas bem-sucedidas, 85% dos principais obstáculos na busca de ganhos de escala são fatores internos — a falta de responsabilização, o crescente distanciamento dos funcionários da linha de frente e a sobrecarga — e não externos, como o baixo poder aquisitivo dos mercados ou a ineficácia das estratégias.
No começo de 2017, outro estudo, de abrangência mundial com 319 executivos, bem como 12 workshops conduzidos por CEOs com cerca de 100 líderes das empresas mais promissoras, apontaram que os grandes desafios se agrupavam em quatro áreas:
Funcionários em ambientes corporativos nos quais não se sintam emocionalmente envolvidos e demonstrem pouca confiança, tem apenas um quarto de chance de investir seu tempo propondo novas ideias, ou de dedicá-lo a solucionar o problema de um cliente, com a sensação de estar em uma missão conjunta que exija responsabilidade.
Focar demasiadamente a energia da empresa em problemas internos, especialmente em situações dissociadas da relação empresa x cliente, pode levar ao distanciamento de questões essenciais ao sucesso do negócio, especialmente no que se refere à atenção e monitoramento da captação e manutenção de clientes. O estudo indica que, quando há algum problema interno na empresa, o efeito nos clientes é imediato e claro.
No mundo empresarial ainda constatamos grandes empresas que não dispensam a devida atenção e importância às pessoas, ao ambiente corporativo e aos chamados ativos intangíveis. O processo de descentralização de poder, sem dúvida ocasiona mudanças na forma de decidir e de planejar as estratégias, porém, nas empresas familiares, este processo deve ser conduzido com cautela, com o programa de governança baseado nas suas peculiaridades, considerando os laços de relacionamento e de confiança entre os envolvidos.
Nossa experiência de mais de 25 anos de mercado na área de consultoria, coaching, palestras e treinamentos sinalizam que manter a sinergia organizacional, envolver todos os integrantes da organização em torno de uma visão, é sim um dos maiores desafios para estas organizações.
Portanto, com base em nossa experiência, os sócios-fundadores, gestores destas empresas que cresceram rapidamente, devem no mínimo ficar mais atentos a estas variáveis internas; priorizar os desafios ligados diretamente ao “jogo interno”; potencializar o que há de melhor na cultura, na história, no propósito e nas pessoas que a integram; investir no desenvolvimento e implantação de instrumentos de gestão adequados à sua transformação em ativos positivos, que venham a dar suporte ao enfrentamento dos desafios aqui descritos neste artigo. Principalmente, entendendo que são estes ativos que as diferenciam das grandes empresas.
Fábio Rocha - Especialista em Carreira, Consultor em Sustentabilidade, Professor, Coach e Diretor-Executivo da Damicos Consultoria em Liderança e Sustentabilidade. [email protected]
Maiza Neville - Especialista em Carreira, Consultor em Gestão de Pessoas por Competências, Professora, Coach e Diretora-Executiva da Damicos Consultoria em Liderança e Sustentabilidade. [email protected]