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Transporte Terrestre

Entregadores de apps não querem ter carteira assinada

Segundo pesquisa do Ibope, 70% dos entregadores preferem o modelo atual de trabalho

27/07/2020 08h48

Foto: Divulgação

A maioria dos entregadores cadastrados em plataformas como iFood, Uber Eats e Rappi preferem um modelo de trabalho flexível, com possibilidade de prestar o serviço para diversas empresas, em vez de ter a carteira assinada. 

É o que mostra uma pesquisa do Ibope, feita em 17 e 18 de julho com 1.000 profissionais brasileiros. De acordo com instituto, 70% deles preferem trabalhar assim.

No levantamento, o instituto questionou: “Você prefere o modelo de trabalho atual, que te permite escolher os dias da semana e os horários em que gostaria de trabalhar, podendo ainda trabalhar com vários aplicativos e definir a melhor forma de compor sua renda, OU gostaria de ter carteira assinada para poder ter acesso a benefícios e direitos como 13º salário, férias, INSS e FGTS, mas tendo que cumprir horários e demais regras das empresas de aplicativos?” Apenas 30% disseram que prefeririam a carteira assinada. 

As discussões sobre relações de trabalho entre entregadores e empresas têm ganhado fôlego com o crescimento dos serviços de delivery. Apesar de serem contra a CLT, os entregadores querem mais benefícios. Neste mês de julho, a categoria já fez paralisações por melhores condições de trabalho. 

Entre as demandas estão aumento no valor da corrida, diminuição no tempo de espera nos restaurantes, seguro de vida e contra roubos, entrega de EPIs – kits de higienização e licença remunerada para quem contrair o coronavírus.

O novo modelo de relação de trabalho dos aplicativos, a chamada “Uberização”, tem recebido atenção na Justiça. Diferentes juízes e instâncias chegam a conclusões distintas sobre o vínculo e responsabilidades das empresas sobre os trabalhadores.

Em janeiro, a Justiça Trabalhista de São Paulo negou ação civil pública que pedia vínculo empregatício entre a empresa iFood e entregadores.

Em nota, o iFood informou que está disposto “a revisar, ajustar, corrigir e fazer mais e melhor”. Além disso, acrescentou que oferece um seguro que pudesse atender emergências médicas e odontológicas dos entregadores, incluindo cirurgias. De acordo com a empresa, o percurso de volta para casa depois do trabalho também é coberto.

Sobre o risco de infecções pelo novo coronavírus, a empresa alega que desenvolveu a entrega sem contato como uma forma de atender à necessidade de manter o isolamento e proteger clientes e entregadores.

De acordo com a pesquisa do Ibope, 40% dos entrevistados disseram apoiar o movimento, enquanto 18% são indiferentes e 23% não apoiam. Ainda, 8% disseram não ter tido conhecimento sobre o movimento.

Entre os 92% que tiveram conhecimento, 53% disseram considerar negativa a participação de partidos políticos e de sindicatos nas manifestações. 

Para o presidente do Sindicato dos Motoboys de São Paulo, Gil Almeida, as respostas contrárias à CLT na pesquisa se devem à falta de informação dos entregadores sobre quais seriam os reais direitos deles nesse tipo de modelo de trabalho.

Segundo o presidente do sindicato, é de interesse das empresas evitar o vínculo formado por uma carteira assinada porque ela significaria responsabilidade sobre o trabalhador.

Para Gil Almeida, muitos entregadores respondem que preferem o modelo atual porque rechaçam o vínculo com uma empresa só e o horário fixo de trabalho. No entanto, Gil afirma que, na prática, esses entregadores acabam trabalhando mais.

“Há uma certa incoerência nisso porque ao mesmo tempo em que vemos a preferência pela flexibilização, vemos manifestações pedindo melhores condições de trabalho. Há uma falsa sensação de liberdade entre os entregadores, que precisam conhecer melhor o que é a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)”. É óbvio que eles (as empresas) querem reforçar o afastamento do vínculo porque eles iriam entrar na vara de uma empresa comum, com toda a responsabilidade sobre o trabalhador.”

iFood é o preferido

O Ibope também apurou qual é a percepção dos entregadores sobre as plataformas. Para 64% deles, o brasileiro iFood é o melhor aplicativo para fazer entregas, seguido por UberEats (16%) e Rappi (7%). 

O aplicativo também é apontado por 56% dos entrevistados como a empresa que oferece melhor remuneração, contra 14% do Rappi e 9% do UberEats. Além disso, a empresa também é apontada como a que oferece os melhores benefícios à categoria,  com 55% da preferência. O UberEats tem 10% da preferência o Rappi 5%. 

Fonte: Exame