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Editorial

Estabilidade inicial não deve se manter

Sabe-se que o ano será muito difícil, mas reconhecer as dificuldades, presentes e futuras, no entanto, não impedem que até se celebrem os números do primeiro trimestre

18/05/2020 19h06

Apesar de todos os problemas causados na economia mundial pela pandemia do novo coronavírus, o sistema portuário brasileiro fechou o primeiro trimestre de 2020 com movimentação de carga em volume bem próximo ao do mesmo período de 2019, com um pequeno recuo no total movimentado. Segundo dados do Sistema de Desempenho Portuário, sob responsabilidade da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), entre portos públicos e terminais de uso privado a movimentação atingiu 247 milhões de toneladas, ante 250 milhões no ano anterior, correspondendo a um recuo de apenas 1%, considerado.

As exportações somaram 159 milhões de toneladas, em queda de 5,6% e as importações cresceram 8,4%, com 87,5 milhões de toneladas. Nos portos públicos foram movimentadas 84 milhões de toneladas, equivalente a 34% do total, ficando os terminais de uso privado com 163 milhões, ambos com volumes proporcionalmente bem parecidos com os registrados no mesmo trimestre de 2019. Santos, principal porto público da América Latina, somou 24,6 milhões de toneladas, seguido por Paranaguá com 11,4 milhões e Itaguaí com 8,1 milhões. Ainda com destaque os portos de Suape e Rio Grande, ambos com 7 milhões de toneladas. Os portos públicos baianos administrados pela Codeba somaram 2,5 milhões.

Em número de contêineres movimentados, os portos públicos somaram 1 milhão 641 mil TEUs (unidade equivalente a contêiner de 20 pés), apresentando recuo de 3% em relação ao mesmo período de 2019 refletido pela retração na linha de Longo Curso, na navegação interior e no serviço de apoio portuário; em contrapartida na Cabotagem foi registrado um incremento de 5,8%. Liderado pelo Porto de Santos, Paranaguá, Suape, Salvador todos registraram incrementos enquanto Rio Grande, Itajaí, Rio de Janeiro, Vitoria e Vila do Conde tiveram recuos bastante expressivos.

Como a pandemia ainda não atingiu sequer o seu ápice no Brasil, as perspectivas para o sistema portuário brasileiro nos próximos meses, não são nada animadoras. Mesmo que alguns setores se destaquem na pauta de exportações, graças à valorização cambial provocada pela crise econômica, especialmente nas áreas do agro negócio e siderurgia, lideradas pela soja e minérios com destino ao mercado asiático, via China, acredita-se que haja uma retração mais acentuada.

A situação da pandemia afetou diretamente o setor produtivo com centenas de indústrias paralisadas por todo país, o comércio em geral praticamente inativo devido a restrições de circulação de pessoas, fechamento de fronteiras aéreas, terrestres e marítima, esta última atingindo as operações portuárias em todo o planeta. Mesmo nos países que já estão superando a fase mais difícil da pandemia e começam a reduzir as restrições, a situação ainda vai demorar um pouco para se normalizar no mercado externo como um todo.

Os próximos meses serão cruciais para todo o mercado externo mundial e, por consequência para o sistema portuário. No âmbito interno, resta ver como as autoridades da área econômica poderão conjugar de forma eficiente os dois lados da balança: seguir as recomendações da área da saúde para salvar o maior número possível de vidas e manter a atividade econômica num patamar que facilite a retomada da economia quando o tormento passar.

É fundamental agir com tranquilidade, de forma inteligente e criativa, de modo que o Brasil, e o sistema portuário está na linha de frente desse processo, consiga passar pela verdadeira tragédia que a Covid-19 fez o mundo mergulhar da melhor maneira possível. E possamos estar aptos a aproveitar o momento em que os três grandes mercados, sudeste asiático, mercado europeu e norte-americano, retomem seu ritmo normal.

Reconhecer as dificuldades, presentes e futuras, no entanto, não impedem que até se celebrem os números do primeiro trimestre, até porque as primeiras perspectivas mostraram-se menos negativas do que as previsões, uma vez que naquele período a pandemia já estava instalada, com graves reflexos nas maiores economias da Ásia e da Europa.