Utilizamos cookies de terceiros para fins analíticos e para lhe mostrar publicidade personalizada com base num perfil elaborado a partir dos seus hábitos de navegação. Pode obter mais informação e configurar suas preferências AQUI.

Transporte Aquaviário

Estaleiro Atlântico Sul inicia sua retomada nesta semana

O gigante de Suape fechou os primeiros contratos para executar serviços em dois navios da Flumar

26/10/2020 13h37

Foto: Pedro Ferreira

Nesta segunda-feira (26), o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) dá início à sua retomada. Após 17 meses sem atividades, recebeu o primeiro de dois navios e começa a executar o seu business plan traçado desde que entrou em Recuperação Judicial, há pouco mais de um ano. O EAS fica no Complexo Industrial Portuário de Suape, município de Ipojuca, Pernambuco.

A Flumar Transporte de Químicos e Gás Ltda, empresa de navegação subsidiária do grupo norueguês Odfjell e associada da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem - ABAC, firmou parceria com o EAS para a docagem dos navios Bow Atlantic e Flumar Brasil. Este segundo navio, além de fazer a docagem, vai também fazer a instalação do BWTS – Sistema de Tratamento de água de lastro. 

Se antes fabricava navios, agora o estaleiro passa também a reformá-los. Entre as novas operações, constam ainda o desmonte de embarcações e a produção de torres eólicas, para atender ao crescente mercado de energia limpa no Brasil, principalmente no Nordeste.

O EAS, que chegou a ter sete mil funcionários, passou por maus momentos devido aos cancelamentos das encomendas da Petrobras e da Sete Brasil, seus maiores clientes, ambos abatidos por uma crise sem precedentes que começou com a operação Lava Jato. 

Em agosto de 2019, com o programa BR do Mar, criado pelo Governo Federal para estimular o crescimento da navegação de cabotagem, o estaleiro perdeu contratos de quatro navios que estava negociando com a Aliança e com a Mercosul Lines, no valor US$ 300 milhões. O BR do Mar ampliou os incentivos para a importação de navios e os armadores decidiram produzir as embarcações na Ásia.

Nicole Terpins, a primeira mulher à frente da direção do EAS, confirmou os dois contratos para realização de reparos em duas embarcações da Flumar. Serão 60 dias de trabalho intenso para concluir os reparos dos navios Bow Atlantic, que chegou ao EAS no último dia 21, e o Flumar Brasil, que chegará nesta terça-feira (27).

Esses contratos vão gerar 200 postos de trabalho temporários, mas as perspectivas são boas. Há poucas estações de reparos no Brasil, o que gera demanda por este tipo de serviço no mercado nacional. “Queremos virar referência no reparo naval.  E nosso dique, que é um dos maiores do Brasil, tem maior capacidade de içamentos, comporta grandes embarcações”, diz a presidente do EAS.

Outros nichos de marcado

Nicole quer aproveitar a grande estrutura do estaleiro para explorar outros nichos de marcado. “Quem acompanha a história do EAS sabe que investimos muito na capacitação de mão de obra local. Após a desmobilização, mantivemos um banco de talentos e agora, 99% das novas contratações são de ex-funcionários”, explica.

“Mas, não temos só mão de obra qualificada. Queremos mostrar aos clientes e armadores que o EAS tem estrutura física e tecnológica para atendê-los, afinal foi concebido para atender a uma grande carteira lastreada nas demandas da Petrobras”, salienta. O EAS chegou a ter 29 encomendas em carteira - 22 contratos com Transpetro e mais 7 sondas com a  Sete Brasil.

“A estrutura de caixa hoje é confortável para nossa restruturação. Nossa maior missão é garantir o melhor uso desse ativo e vemos que a forma de fazer isso é através da diversificação das atividades. E como resultado, estamos virando referência no mercado de desmantelamento”, diz Nicole.

É um mercado em ascensão. A demanda é concreta, mas há incerteza no prazo de maturação porque, segundo Nicole, isso depende do cronograma da Petrobras para a desativação das plataformas, conforme seu plano de desinvestimentos.

Na Agência Nacional de Petróleo (ANP) há cerca de 20 projetos de  descomissionamentos aprovados e mais 10 em aprovação. Um volume de R$ 25 bilhões para os próximos cinco anos. “Acreditamos que a partir de 2022 veremos os primeiros projetos iniciados e até lá estaremos focados no mercado de reparo”.

Meio ambiente

Como sempre foi estaleiro de construção, o EAS foi buscar no mercado pessoas especialistas em reparos para ganhar a credibilidade dos armadores. Além disso, tem trabalhado forte nas principais preocupações dos operadores, como a parte ambiental, que envolve descarte de material radioativo e a remoção do coral-sol - uma espécie invasora originária dos oceanos Índico e Pacífico que se fixa nas embarcações. O Estaleiro também fez parceria com entidades internacionais para aplicar a engenharia reversa no desmantelamento das embarcações.

Novas oportunidades

E, se por um lado o BR do Mar ceifou as encomendas do estaleiro, por outro pode trazer oportunidades para este novo momento, já que vai aumentar demanda por navios afretados, o que tende exigir mais serviços de reparos.

“Esse é o primeiro projeto de reparo e a materialização de nosso plano de diversificação. Mas há um longo caminho a percorrer. Temos que concluir a restruturação de nossas dívidas, nosso principal objetivo. Concluir esse processo é condição para que nosso plano seja bem sucedido e sustentável”, diz a presidente do estaleiro.

Fonte: CBN Recife