13/07/2020 17h17
Foto: Divulgação
A fome atingiu cerca de 47,7 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe em 2019, um aumento nos últimos cinco anos que poderia chegar a 9,5% da população em 2030, alerta um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), divulgado nesta segunda-feira. O cenário foi severamente agravado pela crise da Covid-19.
— Estamos indo na direção contrária há cinco anos. Isso se deve principalmente ao fraco crescimento econômico e ao problema da desigualdade estrutural em nossa região — disse Julio Berdegué, representante regional da FAO, em entrevista à Reuters, classificando os números como “arrepiantes”.
A região — onde a insegurança alimentar registrou o aumento mais rápido do mundo — pode ter 67 milhões de pessoas com fome em 2030 , cerca de 20 milhões a mais que em 2019. O relatório sobre o estado de segurança alimentar e nutrição no mundo foi elaborado antes de a pandemia de coronavírus atingir a região com força.
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) estima que o coronavírus — que deixou até agora 13 milhões de infectados em todo o mundo — causará uma queda histórica na economia da América Latina e do Caribe em 2020, levando à pior crise social da região em décadas, com milhões de novos pobres e desempregados. O informe prevê que, com a pandemia, outros 83 milhões de pessoas, e possivelmente até 132 milhões, poderão passar fome em 2020 como resultado da recessão econômica.
— Um em cada três latino-americanos e caribenhos viverá na pobreza este ano, segundo projeções da Cepal, todos eles ameaçados pela fome. Estamos muito preocupados em saber como isso aumentará o risco de que essa crise de saúde se transforme em uma crise alimentar — afirmou Berdegué.
Dentre os países mais atingidos estão o Haiti, que apresenta altos níveis de insegurança alimentar; a Venezuela, onde a fome aumentou significativamente nos últimos anos; e Guatemala, El Salvador e Honduras, que compõem o chamado Triângulo do Norte, região assolada pela violência na América Central.
— Esses países são os mais expostos, mas o agravamento da fome como resultado da pandemia é algo que afetará todos os países, ninguém será salvo.
Berdegué destacou a importância de se manter a merenda escolar, mesmo com o fechamento das escolas, além do estabelecimento de programas de transferência de renda ou distribuição de alimentos, como vem sendo feito, por exemplo, na Argentina. Ele também ressaltou necessidade de o esforço ser liderado pelos governos, envolvendo ainda organizações sociais, empresas privadas, setores ligados à ciência e tecnologia, entre outros atores sociais.
— A ação dos governos, mas também da sociedade civil, é essencial. Medidas tradicionais não serão suficientes. Precisamos de um esforço extraordinário.
O relatório reforça as preocupações apontadas pelo informe “O vírus da fome”, lançado pela Oxfam no último dia 9, sobre o agravamento da situação da fome no mundo em decorrência da pandemia. Segundo o documento, até 12 mil pessoas podem morrer de fome diariamente no mundo até o final de 2020, devido às consequências da pandemia de Covid-19 — mais do que pela doença em si. O informe da Oxfam estima que até 122 milhões de pessoas podem ser levadas à beira da fome este ano, como resultado dos impactos sociais e econômicos do novo coronavírus.