12/08/2025 07h05
Foto: José Cruz - Agência Brasil
Em meio à escalada de tensões comerciais com os Estados Unidos, o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou que o Brasil deve sentir menos os efeitos do tarifaço norte-americano, mas advertiu que as expectativas de inflação seguem desancoradas em um “patamar bastante incômodo” para a autoridade monetária.
“O Brasil vai se machucar menos do ponto de vista comercial”, disse em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Ao repercutir a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa básica em 15% na última reunião, Galípolo afirmou que a menor dependência do país em relação ao mercado dos EUA funciona como “um amortecedor natural” diante do aumento de tarifas.
Ele lembrou que o BC incorporou ao seu balanço de riscos, ainda em janeiro, a possibilidade de um tarifaço global reduzir o ritmo da economia. “As tarifas tendem a criar mais fricção no comércio e reduzir a atividade econômica”, avaliou.
Segundo Galípolo, há hoje três leituras predominantes sobre os impactos. “De um lado, há um aumento de oferta doméstica, que tende a reduzir preços — algo temporário. Há também um possível canal de transmissão do câmbio para a inflação, caso o real perca valor, mas de efeito limitado. E há um impacto na atividade econômica, mais perene, ligado à perda de empregos e à dificuldade de encontrar novos destinos para exportações.”
Meta de inflação
O presidente do BC afirmou que, mesmo após a elevação de 450 pontos-base na Selic ao longo de 2025, “as expectativas de inflação continuam num patamar bastante incômodo para o Banco Central”.
Ele defendeu que os juros permaneçam “num patamar bastante restritivo por um tempo prolongado” até que as projeções indiquem convergência à meta. “A gente vê alguma alteração para as expectativas de curto prazo, mas as de médio e longo prazo seguem desancoradas”, reforçou.
Sobre a questão fiscal, Galípolo disse que é preciso separar o impacto de curto e de longo prazo. “De um lado, o fiscal de curto prazo, como impulso à demanda e dinamismo à economia. Do outro, o fiscal de longo prazo, a trajetória da relação dívida-PIB, que é um desafio enfrentado por quase todas as economias do mundo.”
Galípolo reafirmou, ainda, o compromisso do BC com a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) — de 3% em 2025, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. “O Banco Central não tira o olho da bola. Nossa meta é a meta de inflação. Independentemente do que ocorrer, o Banco Central não vai se desviar um milímetro do que é a defesa da moeda e do valor da moeda do país”, enfatizou.
Fonte: Correio Braziliense