17/04/2022 07h08
Foto: Divulgação
O chefe do Comando de Atividades Técnicas e Pesquisas do Corpo de Bombeiros da Bahia, Coronel Jorge Sturaro, disse, no sábado (15), que o galpão 3 da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), localizado no Porto de Salvador, que pegou fogo na sexta-feira (15), estava irregular em relação a segurança de combate a incêndios.
Cerca de 30% da carga de celulose armazenada no local foi destruída pelas chamas. Segundo o coronel Sturaro, a Codeba não tinha implementado medidas de combate a incêndio. De acordo com o militar, o local tinha um documento que atestava a conformidade em relação a um projeto de segurança contra incêndio apresentado junto aos Bombeiros, no entanto, este ainda não havia sido colocado em prática.
De acordo com o Comando de Atividades Técnicas e Pesquisas, somente após o projeto ser executado é que o local recebe o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), documento que atesta a segurança do local, e que somente é aprovado após vistoria técnica.
"Para funcionar, um local como esse precisa de uma análise técnica do Corpo de Bombeiros, e precisa ter materiais como hidrantes, extintores, tudo que faça a prevenção ser realizada. Além de documentos que atestam que o estabelecimento está seguro", disse.
Ainda segundo o militar, o local teve o pedido de liberação da documentação de segurança negado em, pelo menos, três ocasiões. A homologação do projeto ocorreu um dia antes do incêndio no local.
"Eles deram entrada em 2019, após análise de um mês, devolvemos porque não atendia o que tinha no projeto. Em 2020, após mais um pedido, mais uma vez, nós dissemos que (o projeto) estava inconcluso e que faltavam equipamentos. No dia 5 de janeiro deste ano, eles fizeram um novo pedido e notificamos mais uma vez. Agora em abril, no dia 8, foi feito um outro pedido e vimos que estava dentro do contexto", disse.
"O projeto foi recém aprovado. E no dia 14, a licença foi homologada. Só que desde 2019 para cá, nunca implementaram medidas de combate ao incêndio no estabelecimento", afirmou o coronel.
Segundo os militares, a Codeba chegou a ter o atestado de segurança do projeto negado mais de uma vez em um mesmo dia. "Foram várias notificados. Chegamos a ter duas notificações no mesmo dia", disse o coronel.
No entanto, o coronel afirmou que local não poderia ser interditado porque os bombeiros não tinham conhecimento de que ele já funcionava nos moldes descritos no projeto, que ainda falava em implantação.
"Dentro do critério da lei, ele podia acertar sua vida de funcionamento. Nós não tínhamos a ideia de que estava funcionando. Foi apresentado um projeto de que eles estavam implantando, mas não sabíamos o que acontecia lá dentro", disse o militar.
De acordo com a engenheira civil especialista em sistemas de combate a incêndios, Anna Larissa Falcão, após o Atestado de Conformidade de Projeto, a empresa precisaria implementar as medidas conforme projeto aprovado pelo Corpo de Bombeiros.
"A partir da aprovação do projeto, a empresa precisa implementar as medidas, embora mesmo antes desse prazo, ela precisasse oferecer o mínimo de segurança no combate a incêndio, como extintores, sinalização vertical, horizontal, treinamento de brigadistas e outras medidas fundamentais para a segurança do espaço", disse.
Segundo a engenheira, todas as edificações precisam procurar os bombeiros para regularizar documentações em relações a essas exigências, prescritas nas Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros da Bahia, disponíveis no site da corporação.
Na nota divulgada à imprensa sobre o incêndio, a Codeba diz que o Plano de Apoio Mútuo Portuário foi colocado em prática durante o acidente. Procurada para falar sobre a situação de implantação das medidas, a Codeba ainda não respondeu.
Foto: Divulgação
30% da carga foi consumida pelo fogo
Ao menos 11 viaturas e três navios rebocadores foram usados para controlar as chamas. Ninguém ficou ferido. De acordo com o Corpo de Bombeiros, apesar da intensidade das chamas, apenas 30% do material de celulose armazenado no local foi queimado.
"Esse é um material que queima em profundidade. Fizemos a retirada de mais de 70% do material que poderia ser queimado, e fizemos um isolamento. A partir de agora, é preciso fazer a remoção do que ficou queimado para dar prosseguimento ao trabalho de rescaldo e só depois extinguir o fogo", disse o Tenente Coronel dos bombeiros, Ednei Factum.
"Só entregaremos o galpão liberado sem chamas, e sem fumaça. É um serviço de rescaldo que precisa catar todos os focos para não ter um novo incêndio", disse o coronel Sturaro.
A Bracell Bahia, proprietária da carga queimada, disse que acompanha atentamente os desdobramentos do fogo. A empresa disse ainda que fará o levantamento da carga danificada pelo incêndio após perícia dos órgãos competentes
Fonte: G1