17/03/2020 08h00
Foto: Divulgação
Entre os anos de 2000 a 2007 o Porto de Ilhéus, no Sul da Bahia, chegou a movimentar em média 720 mil toneladas ao ano. Em 2004, superou 1 milhão de toneladas. Até então, era um porto que se auto-sustentava apesar das limitações físicas de acesso, de profundidade e de equipamentos inadequados.
Vieram, contudo, os efeitos da falta de estrutura mais adequada para atender a um mercado que se deslumbrava altamente competitivo. Perdeu espaço, e a soja do oeste baiano, que era seu carro chefe, passou a ser movimentada por um concorrente que se adequou com infraestrutura e equipamentos eficientes para atender a um mercado em expansão.
Então, Ilhéus passou a contar apenas com as esporádicas movimentações das amêndoas do cacau, de uma magnesita que lhe caiu do céu, por uma questão de logística empresarial, e vez por outra algumas cargas cujo volumes eram poucos expressivos. Das 720 mil toneladas anuais, o que se viu foi uma brusca queda no desempenho do porto. A partir de 2008 a média anual recuou para 300 mil toneladas, uma retração na ordem de 58%. E para piorar, os pífios resultados registrados em 2018 e 2019, com 211 e 147 mil toneladas respectivamente, deixou claro que o porto entrou e está num caminho difícil de voltar aos bons e velhos tempos.
O Plano Mestre e o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento - PDZ do porto que sinalizaram para 2019 uma movimentação de 356 mil toneladas, deu 147 mil, menos da metade prevista. E “projetou” a taxa de crescimento até 2039 para 870 mil toneladas de carga e 324 mil passageiros em navios de cruzeiro marítimo. Projeções em devaneios, longe da realidade do porto.
O que está faltando? Mercado?
Mercado não parece ser, porque ele tinha a soja e perdeu por ineficiência, abrindo espaço para um concorrente que se especializou nesse setor; uns dois milhões de celulose produzida no sul do estado não saem pelo porto porque os projetos e investimentos de adequação para atender a essa carga nunca saíram do papel, e até mesmo os blocos de mármore e granito do nosso sudeste saem por outros portos concorrentes porque não existe, e se existe é muito tímida, uma ação comercial efetiva, com condições de infraestrutura que permitam atração de novos negócios e usuários aquele porto.
Ou seria gestão?
Propaladas divulgações sobre investimentos para o porto, previstos inclusive no Plano Mestre e PDZ, como dragagem de aprofundamento, arrendamento de áreas, terminal de passageiros, ações ambientais, estão à deriva sem previsões de vir a ser concretizados ou definidos, isto porque, além da tímida ação comercial, a Companhia das Docas do Estado da Bahia - Codeba, responsável pela administração do porto, não conseguiu nos últimos anos manter um quadro diretivo que falasse a mesma linguagem ou mesmo que seus executivos se mantivessem estáveis para os períodos dos seus mandados. E isso dificulta ações comerciais, administrativas e operacionais, e, por conseguinte, a própria gestão.
Na Bahia, que detém o maior do PIB do nordeste, os três portos públicos movimentam anualmente entre 10 a 12 milhões de toneladas e não passam disso. Um dado histórico e conservador. Em Pernambuco com PIB bem menor, os portos do Recife e Suape, movimentaram o dobro neste último ano.
Então, onde está o problema? É mercado ou gestão?
Augusto Cezar Ribeiro Costa – Estatístico, trabalhou 51 anos na Companhia das Docas do Estado da Bahia - Codeba e, atualmente, é diretor Administrativo-Financeiro do portal Modais em Foco.