11/07/2021 11h28
Foto: Divulgação
O novo porto do grupo Imetame em Aracrua, no Norte do Espírito Santo, recebeu sinal verde do governo federal nesta semana. Em cerimônia no Ministério da Infraestrutura, foi assinado o aditivo do contrato que autoriza o terminal privado a movimentar diversos tipos de carga, ampliando o escopo de operações. Segundo a empresa, as obras do complexo portuário começaram em 21 de junho e devem durar três anos.
No início do mês passado, a Secretaria de Patrimônio da União (SPU) concedeu autorização para que a Imetame Logística Porto Utilize área de 1.03 milhão de metros quadrados em barra do Riacho. Em contrapartida, a empresa deverá pagar aos sofres federais R$ 4,1 milhões por ano. O contrato é válido até novembro de 2040. O investimento no empreendimento é da ordem de R$ 1,7 bilhão.
O complexo terá ao menos três terminais. O primeiro será focado em contêineres, com capacidade inicial para movimentar 300 mil TEUs (unidade equivalente a 20 pés) por ano, e potencial para chegar a 1 milhão de TEUs.
O segundo terminal será voltado a granéis sólidos, especialmente soja, com capacidade para movimentar 10 milhões de toneladas anualmente. O terceiro terminal, um pouco menor que os demais, será de carga geral. Há ainda uma quarta área, ainda em fase de estudo, que poderá abrigar uma operação de óleo e gás.
Uma característica importante do porto será sua profundidade, de 17 metros - como comparação, o calado do Porto de Santos vai até 14,5 metros. Com isso, os terminais poderão receber os maiores navios do mercado global, o que garante ganhos de escala, afirma Cristiane Marsillac, diretora da divisão de Logística do grupo. “Esse é um dos pontos-chave, um diferencial estrutural do porto”, diz. Ela ressalta que, hoje, o Espírito Santo não recebe navios de longo curso, apenas “feeders” (embarcações menores que atendem portos com menos movimentação).
Agora, caberá ao grupo garantir a demanda de carga para ocupar esses terminais, o que deverá ser feito ao longo dos próximos três anos. A executiva vê um potencial grande na própria região, onde está sendo desenvolvido um polo industrial. A companhia também avalia firmar parcerias com operadores estratégicos, que podem eventualmente se tornar sócios em algum dos terminais.
Outra meta da empresa é viabilizar um acesso ferroviário ao porto - um ponto importante principalmente para a operação de grãos. O terminal fica bem próximo à Estrada de Ferro Vitória Minas, da Vale, então bastaria um ramal de três quilômetros para fazer a conexão, diz ela.
Segundo a executiva, a companhia negocia a construção desse trecho com a VLI, operadora responsável pela Ferrovia Centro Atlântica (FCA), que faz ligação com a malha da Vale e chega até o Centro-Oeste, o que permitiria trazer a carga do agronegócio até o porto. Procurada, a VLI diz que avalia todas as oportunidades, mas não comenta antecipadamente projetos específicos.
O complexo portuário da Imetame vem sendo estudado desde 2009. O grupo industrial, controlado pela família Cavallieri, foi criado em 1980, com foco em metalmecânica. Hoje, a empresa atua nos segmentos de rochas ornamentais, energia elétrica (usinas térmicas) e óleo e gás. O projeto inicial da empresa era fazer do porto um canal logístico para sua própria produção.
De lá para cá, o plano mudou totalmente e, hoje, a ideia é que o braço portuário seja mais um passo na diversificação do grupo. Esse redirecionamento foi possível a partir de outubro de 2016, quando a área da empresa deixou de fazer parte da poligonal do porto público, o que permitiu que o complexo fosse 100% privado. Nessa época, a legislação portuária também já havia retirado a obrigação de que terminais privados fossem destinados apenas a carga própria, o que viabilizou a operação de carga de terceiros.
Do R$ 1,7 bilhão de investimento previsto na obra, já foram aplicados R$ 300 milhões em processos iniciais, como terraplenagem e o início da construção de um contorno rodoviário, para a chegada de caminhões. Do valor restante necessário para o empreendimento, o grupo já tem a maior parte garantido em caixa, segundo Marsillac. Os demais recursos ainda serão obtidos - por meio de um sócio operador ou financiamento.