Utilizamos cookies de terceiros para fins analíticos e para lhe mostrar publicidade personalizada com base num perfil elaborado a partir dos seus hábitos de navegação. Pode obter mais informação e configurar suas preferências AQUI.

Entrevista

Indústria vai facilitar o acesso dos caminhoneiros a pneus novos

A informação é do presidente-executivo da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), Klaus Curt Muller

21/03/2021 07h04

Foto: Divulgação

A indústria de pneus para veículos de carga enfrenta grandes desafios em 2021. O primeiro deles é regularizar o fornecimento para as fabricantes de caminhões. Depois vem o empenho para que o ritmo de produção seja totalmente normalizado. E, por último, mas não menos importante, tentar que o governo Federal aprove um projeto que ajudará os caminhoneiros a terem mais facilidade de acesso a pneus novos.

Em entrevista exclusiva ao Estradão, o presidente-executivo da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), Klaus Curt Muller, contou que nos próximos dias a associação que reúne as fabricantes de pneus apresentará o projeto pronto. Caso seja aprovada, a expectativa é que isso ajude com que o autônomo fique menos pressionado pelo custo do frete e tenha mais fôlego para investir. “Ele terá melhorias no fluxo de caixa e redução do custo”, diz.

Aliás, essa ação ajudaria contornar os impactos negativos da redução da alíquota de 16% para 0% para importação de pneus. Tal determinação do Ministério da Economia feita no começo do ano está prejudicando a indústria nacional de pneus, diz o presidente da ANIP.

De acordo com ele, a tarifa zero de importação para pneus congela os investimentos em tecnologia e também até em inovações na forma de comercializar e atender o cliente. “Por isso, estamos levando uma proposta ao governo que vai trazer vantagens para o caminhoneiro na hora de adquirir um pneu nacional. E irá favorecer principalmente empresas que cumprem metas ambientais”, conclui. Confira a entrevista completa.

Como o senhor avalia o desempenho da indústria de pneus de cargas para montadoras e reposição no primeiro bimestre?

No início de 2021 tivemos números bons tanto para a reposição como para as montadoras. Houve uma pequena redução dos pedidos das fábricas em fevereiro porque está havendo falta de outras matérias-primas. Isso faz parte da retomada e não ocorre apenas no Brasil, mas no mundo inteiro, como, por exemplo, a falta de processadores e circuitos integrados.

A indústria de pneus voltou rápido à normalidade e, agora, faltam outras indústrias também fornecedoras para a indústria de caminhões se recuperarem também. Creio que em três meses tudo se normalize.

Por causa da subida do dólar, aumentou também o preço do pneu? Em quanto?

Todas as matérias-primas que fazem parte da construção de um pneu são dolarizadas. Desde a borracha natural até o aço. E, por isso, impacta toda a cadeia. Além disso, o Real foi a moeda que mais desvalorizou. Houve, sim, um repasse para o produto final.   

Qual é a expectativa da ANIP para o ano?

Em 2021 conseguiremos chegar ao mesmo patamar de vendas de 2019 e até julho o mercado deverá estar normalizado com a reposição de estoque e atendimentos de pedidos em dia. O problema com a falta de matéria-prima já está sendo corrigido, com alguma dificuldade ou outra.

Em 2019 foram vendidos 5,7 milhões de pneus para fabricantes de caminhões e 5,6 milhões para a reposição. Devemos chegar a um patamar muito parecido neste ano.

Já no ano passado não houve um equilíbrio nestes dois nichos. A fabricação dos caminhões parou, mas a reposição não parou da mesma forma. Continuamos a receber matéria-prima. Não houve demissão e por isso tivemos fôlego, contudo as programações das montadoras eram cinco ou seis vezes maiores do que o normal.

A indústria de pneus também está enfrentando falta de matéria-prima? Ainda falta pneus?

Faltou pneu em 2020, mas agora não falta mais. O que houve foi um aumento repentino da demanda sem um compromisso ou garantia de compra. As montadoras tinham cada qual uma estratégia diferente e isso também foi um desafio. Para manter o ritmo foi preciso contratar mais porque o volume de vendas ficou maior que o da pré-pandemia. Inclusive, não estávamos atendendo plenamente o mercado externo para priorizar o mercado interno.

Qual é a visão da ANIP com relação a taxa zero para pneus importados?

Nós não fomos consultados com relação a isso e o que posso dizer é que não traz benefícios para o caminhoneiro e pequeno transportador. Um pneu importado tem vida útil menor do que um feito no Brasil e menos possibilidade de recapagem. A conta não fecha. Portanto, essa determinação de zerar impostos para pneus importados sem determinar, inclusive, um período, está fazendo com que a indústria instalada no Brasil recue seus investimentos e passe a se perguntar se vale a pena produzir aqui ou se é melhor passar a importar também. Isso prejudica toda a cadeia, pode gerar retrocesso de tecnologia e até desemprego por causa da desindustrialização.

Há uma empresa, inclusive, que iria fazer a contratação de 240 funcionários neste ano, mas adiou essa decisão por causa dessa imprevisibilidade.

Essa situação poderá afetar desenvolvimento de novas tecnologias em pneus?

Sim, com certeza. A imprevisibilidade congela investimento em tecnologia e também até inovações na forma de comercializar a atender o cliente. Por isso, estamos levando uma proposta ao governo que vai trazer vantagens para o caminhoneiro na hora de adquirir um pneu nacional. E irá favorecer principalmente empresas que cumprem metas ambientais.

Qual é o risco para transportadores precisarem optar por pneus que não sejam da indústria nacional?

O km rodado do pneu importado é mais alto e a primeira vida útil já demonstra ser menor do que a de um nacional. Além disso, permite apenas uma recapagem porque a carcaça não tem capacidade. Um pneu nacional tem vida mais longa e é mais econômico para o transportador.

Qual é o patamar de tecnologia para pneus de carga no mercado brasileiro? Falta muito para alcançar o nível de países mais desenvolvidos?

Até mesmo pelas dificuldades que o Brasil representa com relação ao solo, algumas estradas em boas condições e outras com péssimo pavimento, o Brasil desenvolve produtos com qualidade que não perde nada para os europeus e americanos. Além da tecnologia em si, para atender o mercado brasileiro é preciso ter um excelente pós-venda e o máximo em durabilidade. Aliás, as empresas que fabricam aqui fazem muitos investimentos em laboratórios para adequar seus produtos a condições extremas. É preciso investir US$ 1,5 bilhão por ano para uma empresa se manter atualizada.

A atual situação do mercado impede o desenvolvimento de novas tecnologias?

O desenvolvimento pode até continuar, mas as empresas desenvolvem um pneu pensando em colocar a tecnologia em prática. No entanto, quando tem neblina à frente fica complicado continuar investindo. A tendência é que as empresas suspendam esse tipo de investimento até terem mais certeza sobre o mercado. Com taxas zeradas de importação sem prazo determinado a tendência é que a indústria nacional passe a lançar produtos mais básicos para competir. E isso é ruim para o País porque um pneu faz toda a diferença para a economia de combustível, inclusive.

A situação do frete desvalorizado impacta para que o transportador invista em pneus mais sofisticados?

Essa nossa proposta é justamente para que o autônomo tenha facilidade de acesso ao bom pneu e um equipamento adequado para faturar. Ele está pressionado pelo custo do frete e precisa de mais oxigênio para ter acesso ao pneu. Ele terá melhoria no fluxo de caixa e redução do custo.

Publicado no Estradão