02/07/2021 10h26
Foto: Agência Petrobras
As baleias jubartes (Megaptera novaeangliae) que, anualmente, migram para a costa brasileira para terem seus filhotes estão se aproximando do litoral baiano, após passarem por estados como Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Um comportamento atípico desses grandes mamíferos tem chamado a atenção de ambientalistas e defensores da vida marinha: ao se aproximarem mais da faixa litorânea do que, em geral, costumam fazer, alguns desses animais têm ficado presos em redes de pesca. A partir deste alerta, representantes do Instituto Redemar Brasil, com apoio da Associação Classista de Educação e Esporte da Bahia (ACEB), do Programa de Extensão Interdisciplinar de Preservação do Oceano da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Ocean Care BR) e da Aquamar, lançaram o Projeto Baleias Soteropolitanas (PBS). O objetivo é monitorar os animais com o intuito de prevenir acidentes durante a temporada das baleias, que vai de julho a novembro.
O projeto pretende criar um mapa de avistamentos das jubartes no litoral de Salvador, facilitando a identificação da rota das baleias na região. Além de preservar a vida desses animais, o PBS tem um viés educacional forte, já que visa conscientizar a população sobre a importância não apenas das baleias, mas também do próprio oceano na vida cotidiana da cidade. “Nem todo soteropolitano sabe que Salvador é a capital da Amazônia Azul. Quem mora nessa bela cidade litorânea precisa aprender a preservar a vida marinha para tomar posse de uma verdadeira cidadania oceânica. Essa conscientização fomenta a preservação ambiental e, ao mesmo tempo, o que chamamos de TOBE ou Turismo de Observação de Baleias Embarcado”, destacou o presidente do Redemar Brasil, William Freitas.
Uma das justificativas do PBS é o uso intenso da costa de Salvador para atividades portuárias, pesqueiras e turísticas, entre outras que podem representar riscos para as jubartes. “Precisamos considerar o trânsito dos ferryboats, lanchas particulares ou que fazem o percurso Salvador x Mar Grande, catamarãs que fazem o translado para Morro de São Paulo, canoas havaianas, atividades de pesca e tudo o mais que possa se colocar no caminho das baleias. Quem avistar os borrifos de água de uma baleia ou uma coloração mais escura na água deve diminuir a velocidade da embarcação, desligar os motores e esperar que ela se afaste. Os pescadores precisam redobrar a atenção ao lançarem suas redes ao mar”, alertou William Freitas.
Baleias vivas
As baleias transitam no litoral brasileiro desde muito antes da colonização. Em Salvador, esses gigantes do mar abasteceram por muito tempo a indústria do óleo de baleias, considerado uma matriz energética que em muito contribuiu para o crescimento econômico da cidade. “Felizmente, a sociedade compreendeu que as baleias valem muito mais vivas. Cabe a nós preservá-las”, frisou a presidente da ACEB, Marinalva Nunes, apoiadora do PBS.
A jubarte é uma espécie-chave que, quando retirada de um ecossistema, causa a morte de diversas outras espécies. Como predadora de topo de cadeia que se alimenta de uma grande variedade de outros animais, este tipo de baleia controla diversas populações e evita que a biodiversidade seja afetada. Suas fezes são ricas em nutrientes, como o Ferro e o Nitrogênio, necessários para a sobrevivência do plâncton. Este, por sua vez, além de produzir oxigênio através da fotossíntese, é responsável por capturar cerca de 40% de todo gás carbônico (CO²) lançado na atmosgera. Estudos apontam que as baleias também acumulam este gás e por isso ajudam a controlar o aquecimento global.
Além do Projeto Baleias Soteropolitanas (PBS), o Redemar Brasil realiza o Festival das Baleias e os projetos “O mar não está para plástico” e “Mantas do Brasil”. O Instituto está alicerçado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relativos à proteção ambiental até 2030 e na valorização da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como Década do Oceano (2021-2030). “Preservar as baleias é uma das nossas prioridades, mas não podemos fazer isso sozinhos. Através da educação oceânica, pretendemos difundir este propósito por toda a sociedade”, concluiu William Freitas.