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Artigo

O desafio para equilibrar custos no TRC

Sergio Maia

14/09/2022 06h03

Foto: Divulgação

Para o levantamento e estudo dos custos operacionais de uma transportadora rodoviária de cargas (TRC) é mandatório, em primeiro lugar, classificar os tipos de cargas transportadas e seus equipamentos específicos para discriminar os custos para transportar cada tipo de produto, além de consultar o contador para que ele possa entender e orientar todas as regras tributárias e oportunidades estratégicas de planejamento contábil/financeiro, possibilidades de elisão fiscal nos custos da empresa, tudo em acordo com as leis, diferente sonegação fiscal, ou falsas declarações, pois aí configura-se como crime e é proibido por lei. Não menos importante, no atual momento, é a  avaliação do cenário recessivo, alta inflacionária, demanda e oferta desequilibradas, guerras, escassez de petróleo, crise econômica na Europa, dentre outros fatores conjunturais, pois o momento requer muita atenção para evitar desperdícios, investimentos errados, ou cálculos mal feitos de frete, inclusive existem indicadores econômicos para o transporte que podem nortear o planejamento de custos das empresas como: INCTF, INCTL,  além dos índices  de preços como IPCA e INPC.

Os grandes grupos de classificação de cargas, em acordo com a CNT são: Cargas Fracionadas (Itinerante, Urgente e Comum), Carga Lotação (Industrial, Varejo, Grandes Massas – granéis sólidos, líquidos e agro, Conteiners e Outros Serviços como: veículos, cargas perigosas, líquidos e produtos inflamáveis, cadeia do frio, farmacêuticos, materiais de construção, bebidas, cargas indivisíveis e especiais, logo ratifica-se que a composição tarifária não pode ser igual para qualquer carga.

Os custos das empresas de transportes precisam contemplar também os custos de coleta e entrega, custos de transferências, despesas administrativas e de terminais (DAT), que fazem parte da estrutura da empresa e de seus terminais, ou os que ela utiliza para operar. Esse artigo não pretende esgotar o tema custos e formação de preço no TRC, mas alertar para a importância de entender melhor, fazer contas e equilibrar os mesmos nas transportadores, corroborando para a sobrevivência das empresas. Os grandes grupos de contas de custos são subdivididos em: taxas de despacho (cargas fracionadas), frete-peso, frete-valor, GRIS (riscos) e generalidades.

Dessa forma as empresas precisam entender e discriminar as suas despesas diretas e indiretas, podendo começar pelas despesas diretas e seus custos fixos: salários, licenciamentos, seguros, depreciação dos veículos/implementos/equipamentos, taxas e impostos sobre veículos, dentre outros, assim como discriminar os custos variáveis: combustíveis, pedágios (esse existe lei que regulamenta o transportador até receber antecipado o valor do seu cliente) , peças manutenção, óleos, pneus, lavagens, recauchutagens, graxas, dentre outros, para depois partir para a formação dos preços, inclusive alinhados com os preços do mercado de atuação (regiões) e as tabelas oficiais de frete, chanceladas pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), que conforme lei nº 13.703/2018 possui atribuição legal para regular e fiscalizar o assunto, atribuindo pisos mínimos sobre o quilômetro rodado e realizações de frete de cargas nas rodovias brasileiras.

As despesas indiretas, também conhecidas como despesas administrativas, não variam com a operação e quilometragem dos veículos e sim com o volume de cargas transportados, assim seu custo pode ser obtido pelo seu valor mensal dividido pelo volume de cargas movimentadas. Existem também várias generalidades que devem ser cobradas no frete, assim como a cobrança a ida e volta do veículo, mesmo que ele retorne sem carga, pois há um custo para esse retorno, que inclusive pode ser mitigado fazendo  backhaul, que nada mais é que negociar comercialmente o frete retorno de uma carga com outros clientes, preenchendo o veículo, na mesmo rota de ida, afinal veículo vazio, ou parado é prejuízo para as empresas, que não cobram por isso.

Algumas generalidades, que compõem os custos na transportadora e que não podem deixar de serem apuradas como custos são: paletização, coletas e entregas sábados, domingos e feriados, taxa de redespacho, taxa para pagamento de descarga em grandes centrais, dentre outras, porém muitos transportadores não cobram, e acabam assumindo esses custos, drenando o caixa das empresas, muitas vezes por receio de perder clientes, mas é um movimento errado. Nos sindicatos de transportes de cargas dos estados, ou na CNT (Confederação Nacional do Transporte), existem essas tabelas de custos, estudos, planilhas (algumas são vendidas) e cálculos que podem ajudar os transportadores na apuração dos seus custos, logo busquem mais informações, cursos, materiais se possuem dificuldades com apuração de custos e formação de preços do frete,  assim como índices econômicos do transporte, gatilhos à serem aplicados sobre o preço, como por exemplo sobre o aumento de combustíveis, logicamente acordados em  contrato com o cliente. Esse último tópico protegeria muitas transportadoras desses aumentos no diesel do último ano, um dos maiores custos no TRC,  que só nos últimos doze meses totalizou 63% de aumento (Fonte: CNT/NTC), nada desprezível.

Finalizando, mantenham suas planilhas de custos e referenciais no transportes devidamente preenchidas e atualizadas sempre, analisem os seus mercados, pois fretes mais caros que o mercado aceita, não quer dizer mais lucro para o transportador, pois existem mercados altamente regulamentados, como o farmacêutico, que além de fiscalização, requer nos veículos muitos implementos, equipamentos e treinamentos com certificações obrigatórias para operar, além da responsabilidade jurídica do transportador com a referida carga, logo atue onde você domina o serviço. Lembramos também que os custos adicionais como reentrega, devolução, taxa de estadia do veículo, dentre outros, podem superar o próprio custo do frete-peso, por exemplo. 

E para fechar, irei comentar aqui a instrução da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, que ratifica que o momento atual é muito difícil para o setor de TRC, que está tendo que enfrentar uma corrida para repassar os aumentos de custos frequentes do segmento, além do momento de incertezas econômicas e eventos extraordinários, como começamos esse artigo, além de copa do mundo, eleições, atrito entre as maiores potências mundiais (EUA x Rússia e China), que impacta diretamente nos preços dos insumos e demanda do transporte de cargas.  Nesse diapasão, é prudente ter muito foco nos custos, olho nas defasagens ocorridas, inclusive para renegociação rápida com os clientes, perdas causadas pela inflação, aumento dos custos para manter a qualidade, saúde financeira e sustentabilidade dos seus negócios.

Sérgio Maia -  Consultor e profissional de Logística há 22 anos.

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