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Entrevista

O setor de logística demora a buscar adequação às práticas ESG

Eric Derbyshire, da RGF & Associados, afirma que quem começar a implementá-la agora terá uma vantagem competitiva

14/02/2024 06h00

Foto: Divulgação

O cenário empresarial brasileiro está passando por uma transformação significativa devido à crescente importância das práticas e dos princípios ambientais, sociais e de governança (ESG em inglês).

No setor de logística, cujas operações impactam diretamente o meio ambiente e a comunidade, as práticas sustentáveis e socialmente responsáveis tornam-se imperativas e, portanto, pautas que devem ser discutidas o quanto antes para adequar esse setor a essa nova realidade e à nova conformidade de atuação corporativa.

Mas, antes mesmo de discutir os princípios e a importância das práticas ESG, há uma questão pouco mencionada que trata do modo de implementação dessas práticas.

O consultor de transportes e logística Eric Derbyshire, da RGF & Associados, mostra os principais pontos de atenção desse cenário e as premissas sob as quais devem ser estruturados esses projetos, e afirma que essa agenda é sem volta, então quem começar a implementá-la agora terá uma vantagem competitiva considerável no futuro próximo.

Você se encontra numa posição privilegiada. Como consultor que tem implementado projetos com esse escopo, quais são as premissas necessárias antes da implementação desse tipo de projeto?

A implementação e a adaptação das práticas ESG hoje são incorporadas da governança. Nesse contexto é que surge a discussão sobre as práticas ESG. Hoje, nossos projetos de reestruturação contemplam a introdução a essas práticas.

Em termos práticos, uma das primeiras medidas trata da montagem dos conselhos, da estrutura organizacional e dos comitês de auditoria que voltarão os olhos para esses e outros temas, que darão sustentabilidade à companhia. Não se pode deixar o dono tocar sozinho todos esses processos, ele precisa de ajuda! Quando montamos os conselhos ou comitês, mais de uma pessoa ajuda com as ideias e boas práticas, além de terem tempo, concentração e dedicação para abordarem temas mais estratégicos uma vez que não estarão sendo consumidas pelo nervosismo do dia a dia das operações.

Na questão ambiental, quais devem ser os principais focos de atuação? Quais são as medidas mais importantes que podem ser tomadas em curto, médio e longo prazos?

Sem dúvida nenhuma, a principal medida é acompanhar a transformação energética que o mundo está vivendo. Nesse contexto, as frotas à base de energia renovável e com mais autonomia são fundamentais, porém o maior desafio é adequar os veículos — não é fácil, não é rápido e não é barato. Algumas dessas energias também ainda são muito caras de serem geradas, armazenadas e transportadas até o consumidor final.

Por outro lado, o governo deveria estar mais atento ao tema e estimular as adequações e transformações para a energia limpa. Dois bons exemplos são a redução ou isenção de IPVA e a abertura de linhas mais baratas de financiamento para veículos com este perfil.

 E quanto à redução de resíduos? Como é possível melhorar o que se faz hoje? O mesmo vale para a reciclagem?

Esse é outro grande desafio, principalmente em relação ao descarte das baterias elétricas ao final da vida útil.

Como adequar a cadeia produtiva a essas medidas?

Com incentivos do governo, novas leis e conscientização das pessoas e empresas.

Há vantagem em liderar essas ações?

Deveriam, sim, ser beneficiados, e os exemplos, seguidos.

Frota própria é a solução?

Não. Isso deve valer para todas as empresas e veículos, independentemente se é frota própria ou terceirizada.

Algo mais a dizer?

A transformação energética é um caminho sem volta. A grande questão agora é como barateá-la e passar a ser técnica e economicamente mais vantajosa.

Agora sobre a questão social, quais medidas podem ser tomadas pelas empresas?

Maior diversidade entre os empregados, principalmente em relação a raça, gênero, idade, classe social e necessidades especiais.

É preciso incentivar a diversidade e a inclusão no ambiente de trabalho?

Sim. A inclusão de todos é muito importante para um país com menos desigualdades.

E sobre treinamento e capacitação? Há algo a melhorar? Programas de treinamento que promovam desenvolvimento profissional e pessoal são necessários? Como implementá-los?

Já existem medidas adotadas por muitas empresas que atendem a essas necessidades. Claro que, com o mundo mais digital e trabalhos híbridos, algumas adaptações são necessárias, porém o maior desafio hoje para as empresas é manter a taxa de turnover baixa, pois perder seus talentos pode custar mais caro do que investir em treinamentos e qualificação.

Há algo que queira acrescentar?

Ações voltadas à comunidade local, junto com parcerias público-privadas que fomentem a geração de empregos e melhorias na educação, devem ser cada vez mais incentivadas e fiscalizadas pelo governo.

Por fim, a governança. O que pode ser feito ou introduzido?

Ao integrar princípios de governança com práticas sustentáveis, as empresas podem não apenas reduzir seus impactos ambientais e sociais, mas também fortalecer sua resiliência, sua reputação e sua posição competitiva no longo prazo.

Isso seria transparência das informações? De que forma? Relatórios regulares sobre o desempenho ESG? Conduta ética? Como explicitar esse ponto?

Ética e transparência são apenas dois exemplos essenciais para construir uma base sólida de governança que promova a confiança, a sustentabilidade e o sucesso de uma organização no longo prazo.

O que mais você tem para apontar?

A governança corporativa é essencial para estabelecer a base de uma gestão empresarial sólida e ética. Ela cria um ambiente propício para o crescimento sustentável, a criação de valor e a confiança de todas as partes interessadas.