Utilizamos cookies de terceiros para fins analíticos e para lhe mostrar publicidade personalizada com base num perfil elaborado a partir dos seus hábitos de navegação. Pode obter mais informação e configurar suas preferências AQUI.

Artigo

Os 50 anos da fábrica de vida

Adary Oliveira

12/10/2021 06h06

Foto: Patrick Abreu

No dia 14 de outubro de 1971 o Jornal A Tarde publicou: “O Brasil iniciou às primeiras horas de hoje, a sua produção de ureia, produto petroquímico de grande aplicação em diversos ramos industriais e na agropecuária.” No dia seguinte a Tribuna da Bahia fazia seu registro: “O Brasil poderá suspender a importação de ureia a partir deste ano, passando a consumir o produto que é fabricado desde ontem pelo Conjunto Petroquímico da Bahia, primeiro produtor do fertilizante em todo o país.” Assim os dois principais jornais da Bahia noticiaram há 50 anos, o início de funcionamento da fábrica de amônia e ureia em Camaçari, que teve sua história contada no livro “Fafen Uma Fábrica de Vida” de edição coordenada por Gilberto Melo.

O empreendimento, além de Copeb e Fafen, também foi chamado de Petrofértil, Nitrofértil e agora passa a ser nominado de Unigel Agro Bahia. A comemoração do 50º aniversário do início da produção de ureia é marcada por uma série de eventos que demonstram por si só o vigor da nossa indústria química e petroquímica:

  • sai de cena a estatal Petrobras e entra a empresa privada Unigel Química S.A., liderada por Henri Armand Slezynger e Roberto Noronha Santos, que só na Bahia recuperou as petroquímicas EDN, Acrinor e Metacril, incorporando inovações, aumentando a capacidade de produção, tornando-as rentáveis e competitivas;
  • as fábricas de fertilizantes nitrogenados, que utilizam como matérias-primas o gás natural e o nitrogênio do ar atmosférico, voltam a operar no momento em que o agronegócio brasileiro prospera como nunca, fazendo do país um dos maiores fornecedores de alimentos do mundo, apesar de suas capacidades produtivas representarem apenas 20% das nossas necessidades;
  • além da recuperação dos ativos estamos assistindo à reintegração de técnicos que dedicaram suas vidas a operação das fábricas de Camaçari, Bahia, e Laranjeiras, Sergipe, e que agora retornam com seus conhecimentos mais apurados, representados pelos experientes José Alberto Montenegro Franco e José Eduardo Lima Barreto, recém nomeados diretores da Unigel Agro Bahia e Unigel Agro Sergipe, respectivamente;
  • aproveitamento em maior escala do gás natural associado ao petróleo, produzidos nos campos da Bacia do Recôncavo, canalizado ou na forma de gás natural liquefeito (GNL); importação do gás natural boliviano, numa ação de fortalecimento do comércio regional entre países da América latina; e a importação do GNL dos Estados Unidos, África e Ásia, fazendo sua regaseificação em terminais instalados na costa brasileira;
  • além dos investimentos em atualização tecnológica e modernização do processo produtivo, os já anunciados esforços para a produção a amônia verde, obtendo o hidrogênio pela eletrólise da água com energia elétrica gerada por fontes renováveis e o nitrogênio separado do ar com pouco consumo de energia, eliminando as emissões do CO2 oriundo do gás natural.

A fábrica de vida, privada, reconstruída, modernizada, será reinaugurada no dia 03 de novembro, como parte das comemorações dos seus 50 anos. Os meus colegas de turma de engenharia e eu visitamos a canteiro de obras da fábrica, que seria o prenúncio do Polo Petroquímico, em 1963, levados pelo professor de geologia Walmor Barreto, onde fomos recebidos no Barracão H. Durante o almoço oferecido a cerca de 80 estudantes, ouvimos o discurso inflamado do nosso saudoso colega José Milton Ferreira de Almeida, de grande vocação política, falecido precocemente, ressaltando com a força do nacionalismo brasileiro que idealizava, o início de autêntico movimento desenvolvimentista, sem igual até hoje em nosso estado. Que venham outros 50 anos e que consigamos aumentar a produção desses importantes insumos do agronegócio brasileiro.

O maior desafio da Unigel na operação das fábricas de ureia, amônia e sulfato de amônio é o de ampliar a fabricação para alcance da autossuficiência. A correlação existente entre o uso de fertilizantes com o aumento da produtividade na produção agropecuária, o que permite produzir mais com menos terra, indicam a necessidade de incremento da produção, eliminando essa vulnerabilidade da nossa economia.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

O conteúdo dos artigos é de responsabilidade dos seus autores. Não representa exatamente a opinião do MODAIS EM FOCO.