19/03/2025 06h03
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A industrialização do Brasil muito deve aos planos de desenvolvimento que foram executados a partir da ideia de investir para substituir importações, a exemplo do Plano Siderúrgico Nacional (Tubarão, Açominas e Ferrovia do Aço), Plano de Metais não Ferrosos (Caraíba Matais , Alcoa, Paraibuna de Metais), Plano de Celulose e Papel (Cocelpa, PISA, Riocel, Aracruz, Cenibra, Ripasa, Klabin), Plano da Indústria de Bens de Capital (Aços Vilares) e a Indústria Petroquímica (Polos Petroquímicos de Camaçari e Triunfo) com resultados positivos para a balança comercial brasileira e fortalecimento da indústria nacional. Não concordo com a afirmação de que o modelo de substituição de importações se esgotou. Há muito que se pode fazer para alterar o atual quadro de desindustrialização que se instalou no País, constatada pela redução da produção industrial, a crescente substituição por produtos importados e pela ocorrência de fechamento de fábricas. Procuro neste artigo analisar os principais motivos da desindustrialização, onde se deveria concentrar todos os esforços para reversão dessa indesejável tendência.
O Brasil enfrenta altos custos de produção, que incluem despesas com energia, mão de obra e matéria-prima. Isso torna os produtos nacionais menos competitivos em comparação com aqueles importados, especialmente de países com custos mais baixos. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e as associações setoriais, como a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) têm reiteradas vezes chamado atenção para o problema, dando exemplos e apontando soluções.
Um dos assuntos que se converteu em unanimidade nacional é a complexidade do sistema tributário brasileiro e a alta carga de impostos sobre a produção industrial que também desincentivam a indústria. Isso força muitas empresas a optarem por importações em vez de investir na produção nacional.
Sem dúvida, a falta de investimento em inovação e tecnologia nas indústrias brasileiras tem levado a uma estagnação na competitividade. Muitas vezes, as indústrias estrangeiras oferecem produtos com melhor qualidade e mais tecnologia, atraindo os consumidores. As inversões não estão sendo suficientes para fazer crescer a produtividade, imprescindível ao êxito comercial num ambiente globalizado.
Por outro lado, as políticas econômicas e comerciais do Brasil, incluindo a valorização do real em relação a outras moedas, têm impactado negativamente as exportações e favorecido as importações. Um câmbio valorizado torna os produtos brasileiros mais caros no exterior e os produtos estrangeiros mais baratos no mercado interno. Ademais há necessidade de se resolver os problemas dos custos elevados trazidos pela escala das plantas industriais e o alto juros cobrados pelas principais fontes de financiamento.
Em alguns casos, como no fornecimento do gás natural, favorecem a entrada de produtos importados sem a devida proteção à indústria nacional e tem ampliado a concorrência desleal, levando ao fechamento de fábricas e encarecendo em demasia a produção local. A produção de fertilizantes nitrogenados, por exemplo, não se viabiliza e passa a se constituir em ponto fraco ao pujante agronegócio brasileiro.
Embora não possa ser avaliado com o mesmo peso dos itens até aqui citados, a evolução nas preferências do consumidor, que muitas vezes busca marcas internacionais e produtos importados, pode reduzir a demanda por produtos nacionais, contribuindo para a diminuição da produção doméstica.
Não se pode deixar de lado as considerações de risco de crises econômicas, como a recessão, reduzindo a capacidade de investimento das indústrias nacionais e o consumo, levando a uma preferência por produtos importados que possam ser mais baratos ou mais facilmente acessíveis.
O fenômeno da desindustrialização, que é o processo pelo qual a indústria de um país diminui sua participação no Produto Interno Bruto (PIB), tem sido uma tendência observada no Brasil, impulsionada por fatores estruturais e conjunturais que dificultam a recuperação do setor. Todo o esforço possível deve ser dispendido para se conseguir a redução do custo das matérias-primas, a realização de mais investimentos em infraestrutura e, persistentemente, na melhoria da formação escolar dos brasileiros.
Quem sabe se agora, já que o carnaval passou e o ano tem início, não se possa vislumbrar novos tempos com planos de desenvolvimento que venham ordenar e acelerar o crescimento do Brasil.
Adary Oliveira - engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]
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