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Artigo

Os dilemas do mundo mostrados em Davos

Adary Oliveira

17/06/2022 06h04

Foto: Divulgação 

O Fórum Econômico Mundial realizado em Davos, na Suíça, reunindo economistas e executivos, na última semana de maio, trouxe como tema principal a recuperação pós pandemia e os problemas climáticos, mostrando os dilemas que afligem o mundo atualmente. A continuidade do uso do petróleo e gás natural como principal fonte energética, a geração de energia limpa com os avanços da eólica e da solar fotovoltaica, e a construção de fábricas de hidrogênio e amônia verdes, não podiam ficar de fora. Tudo dentro de um cenário manchado pela invasão da Rússia à Ucrânia e suas consequências para o futuro da humanidade.

Depois da Segunda Guerra Mundial a carboquímica, liderada pela Alemanha e usando o carvão como principal matéria-prima, foi substituída pela petroquímica, conduzida pelos Estados Unidos e usando o petróleo e gás natural com enormes vantagens operacionais, custo reduzido e menor agressividade ao meio ambiente. Nos dias de hoje, em que os países da Europa dependem do suprimento do gás natural fornecido pela Rússia, transportado através dos longos gasodutos siberianos, deverão manter seus contratos ou buscarão alternativas na geração de energia, mesmo que de início elas se apresentem mais dispendiosas?

A grande vantagem da produção do hidrogênio e amônia verdes é que ela é considerada limpa, atende aos reclamos reconhecidamente fidedignos da comunidade científica e, embora ainda tenha custos elevados, usa como matéria-prima água, sol e vento, insumos inesgotáveis. Será que a economia russa vai ser derrotada tão rapidamente por não ter sabido tratar bem seus bons clientes? Será que a pressão exercida pela guerra vai provocar uma guinada na indústria mundial na busca da redução das emissões de carbono? Será que os países da Europa vão continuar mantendo essa indesejável dependência externa?

Uma outra questão apreciada em Davos foi da redução dos efeitos nocivos da Globalização com a produção de energia com substâncias disponíveis em todo o mundo. Isso atenuaria os ensaios de reativação da Guerra Fria? Diminuiria o ímpeto daqueles países que buscam a sobrevivência fabricando meios de destruição produzindo armamentos? Nunca se teve dúvida sobre as vantagens da geração de energia com uso dos ventos. No caso da geração de energia solar, o alto custo das células fotovoltaicas provocou certo retardamento, logo superado pelos fabricantes. A produção de hidrogênio eletrolítico tem custo elevado, mas logo se encontrará um procedimento mais em conta. Por bem ou por mal, a guerra continua a nos mostrar que conquanto nos faça chorar sempre também nos faz rir e muitos dos nossos problemas são solucionados.

O uso do petróleo e do gás natural, que tantos benefícios trouxeram para a humanidade, foram considerados em Davos como os grandes vilões na ameaça da existência da vida na Terra. Serão eles empurrados para fora pela bioenergia e pela energia nuclear? Esta última é tida como muito limpa, enquanto não provoque acidentes de incalculável poder destruidor.

Não deixa de ser um dilema as dissimetrias de origem nos mercados de créditos de carbono, de preço baixo em muitos lugares do mundo e de preços elevados em outros. Os consumidores ricos da Europa e da Ásia não concordam em pagar mais pela redução do carbono da atmosfera, não obstante eles estejam contribuindo em muito para o aumento dessa sujeira. Essa política da redução não se mostra sustentável por longo prazo, o que é mostrado pela falta de apoio social interno.

Enfim, a mudança de rota na síntese de produtos industriais é mais que desejável. Na Bahia, onde já se produz amônia, está sendo construída pela Unigel a primeira fábrica de hidrogênio verde do continente, com capacidade de 10.000 t/ano na primeira fase, indo para 40.000 t/ano em 2025. Será, na época, a maior fábrica de hidrogênio verde do mundo. Pouco a pouco decifraremos o velho enigma baiano e contribuindo para solucionar o que se considera o dilema capital do mundo de hoje.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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