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Entrevista

Os planos da Volkswagen para os R$ 16 bi investidos no Brasil

Ciro Possobom, CEO da Volkswagen do Brasil, fala da modernização das quatro plantas industriais e dos veículos elétricos e híbridos

29/02/2024 22h14

Foto: Divulgação

Os últimos anos foram brutais para o setor automotivo: as empresas viram as vendas de carros caírem, enquanto os juros subiam. Além disso, houve uma redução no número de modelos disponíveis, demissões em massa e montadoras deixando o país.

Apesar da turbulência, agora, as companhias de carros vislumbram um cenário econômico melhor, tanto que a expectativa é de que Brasil recebe um total de R$ 41,4 bilhões em investimento da indústria automobilística até 2032.

Nesta lista está a Volkswagen. A empresa anunciou um investimento de R$ 16 bilhões no país até 2028 — dobrando o ciclo de investimentos atual, que era de R$ 7 bilhões entre 2022 a 2026.

O plano da montadora, que completou 70 anos no país, é modernizar as suas quatro plantas industriais e apostar nos veículos elétricos e híbridos. A previsão é de que 16 novos veículos sejam lançados no mercado nacional até 2028.

Em entrevista para o Money Times, Ciro Possobom, CEO da Volkswagen do Brasil, destaca que, apesar das dificuldades e do mercado mais contido, vê um cenário otimista e crescente para a setor automotivo.

“É um mercado que cresce, o que é muito positivo para o setor. E eu acredito muito que a Volkswagen vai crescer mais que o mercado, fruto dos lançamentos e competência comercial”, afirma.

Segundo o executivo, a tendência é de que a gente veja um aumento dos carros elétricos nos próximos anos, mas vale destacar que, aqui no Brasil, somente 5% do setor é eletrificado.

“Pessoalmente, eu acho que é uma boa solução urbana, só que é uma solução mais cara, dispendiosa. O custo dela é um pouco mais alto, tem toda a parte de infraestrutura e de recarga. Então, o Brasil ainda tem muito o que fazer para acompanhar outros países no mundo”.

Confira a entrevista completa de Ciro Possobom, da Volkswagen

Os últimos anos foram difíceis para a indústria automotiva aqui no Brasil. Como a crise afetou a Volkswagen e o que a empresa fez para passar por esse período?

Realmente, a gente teve anos bastante difíceis no passado, principalmente com a pandemia, falta de peças e semicondutores que afetou a indústria como um todo. O mercado não é tão grande e ele ainda caiu muito nos últimos 10 anos. Por exemplo, a previsão deste ano é de 2,3 milhões de carros.

Então, foi um ano bem difícil para indústria como um todo. Mas é legal ver o lado positivo da Volkswagen e da força que tem esse grupo. Nós conseguimos nos recuperar bem em termos de resultados de vendas e tivemos uma ofensiva gigantesca de produtos. Também lançamos 11 carros aqui no Brasil nos últimos três anos, então continuamos investindo muito forte.

E estamos trabalhando com diversidade, foco no cliente, como é que a gente desenvolve mais rentabilidade das concessionárias, a relação com fornecedor, além de todo o trabalho com as pessoas. Então, para coroar esse trabalho bem feito da marca aqui no Brasil, agora a gente tem esse anúncio recente dos R$ 16 bilhões, que mostra bem para onde a empresa quer ir.

Desse carros lançados nos últimos anos, a empresa focou em algum segmento específico?

O legal da Volkswagen é que a gente tem a maior gama das montadoras e lançamos  carro de tudo que é lado. Desde modelos de entrada, que é o Polo e Polo Track, até pickups e SUVs. Então teve o Nivus, o T-Cross, teve muita coisa que chegou nesses 11 carros. E essa é a nossa vantagem.

O ano de 2024 começou diferente, com as vendas de carro subindo e a empresa anunciando um investimento de R$ 16 bilhões. Como você enxerga o mercado hoje?

Eu vejo o mercado otimista e crescendo. Não vai crescer tanto, mas é um mercado que cresce, o que é muito positivo para o setor. E eu acredito muito que a Volkswagen vai crescer mais que o mercado, fruto dos lançamentos e competência comercial

Nós estamos muito focados no trabalho com os clientes, então a gente deve ter um bom ano em 2024. Deve ser positivo, com um cenário econômico um pouco melhor, principalmente no segundo semestre, como a queda de juros para cliente. Isso deve ajudar um pouco as vendas aqui no setor.

Quais são os desafios da indústria automotiva aqui no Brasil?

Acho que o principal desafio falando de Brasil seria o volume e crescimento. A gente precisa crescer, mas ainda temos um volume de mercado muito baixo em relação ao que foi o Brasil em 2012. Nós somos uma indústria e indústria precisa ter volume.

Ligado a isso, tem toda a parte econômica. Os juros altos, por exemplo, não ajudam a gente, não ajuda o setor, não ajuda a vender carro, não ajuda a vender geladeira, não ajuda a vender nada. Essa é a dificuldade que as indústrias têm passado

O segundo ponto que a gente fala muito é sobre isonomia entre as montadoras, sobre isonomia fiscal, incentivos, etc. O ideal é que possa ter uma regra clara para todos e que a gente possa jogar no mesmo jogo e que todo mundo venha, produza aqui e faça parte do desenvolvimento do Brasil, assim como a gente faz há 70 anos.

E como a Volks pretende contornar esses desafios?

CP: Esse próprio anúncio dos investimentos já mostra como estamos trabalhando. A empresa está investindo, colocando dinheiro e lançando novos carros. Acho que essa ofensiva de produtos é a grande resposta que estamos dando para a competição. Tem gente anunciando que vai fazer R$ 2 bilhões, a Volkswagen vem e faz R$ 16 bi.

Isso que é legal e a gente não trabalha só em produto. Também estamos focando muito em serviços. Como é que a gente presta um serviço melhor para o nosso cliente? São quase 500 lojas no Brasil e estamos reformulando para um novo design e acolhimento para o cliente. Acho que isso tudo faz parte do nosso negócio.

Também estamos trabalhando muito com descarbonização. Então, estamos investindo muito em tecnologia, carros híbridos e estamos trazendo carros elétricos. Isso faz parte do nosso compromisso para ser mais competitivo e estar cada vez mais presente aqui no Brasil.

Quais são os planos para esses R$ 16 bilhões? Vocês pensam em novidades para o parque fabril de vocês?

Nós temos quatro plantas no Brasil, então estamos trazendo um novo motor ainda mais inovador e eficiente para veículos híbridos para a planta de São Carlos, carros novos para a planta da Anchieta, uma pickup nova para São José dos Pinhais e trazendo também um carro nova para Taubaté.

Ou seja, para todas as plantas, a gente está trazendo projetos novos, inclusive carros híbridos, uma nova plataforma inovadora, tecnológica, flexível e sustentável – o projeto MQB Hybrid – e um novo motor. E, como eu falei, várias iniciativas de descarbonização, de digitalização, de melhorias para o cliente, inteligência artificial.

A indústria tem grandes desafios, e um deles é essa transformação do combustão para eletrificação e como que a gente conduz isso com responsabilidade. Hoje, o mercado de eletrificação representa 4,5% do setor, ou seja, 95% é a combustão ainda. Então, como é que você faz essa transição dessa tecnologia? Isso faz parte dos investimentos que anunciamos.

Sobre o mercado de carros elétricos: devemos ver uma expansão dos modelos no país?

Eu acho que sim. Essa é uma tendência no mundo, principalmente China, Europa e um pouco nos Estados Unidos. Mas, ainda assim, a maior parte dos carros é a combustão, sendo que ainda está tendo uma pequena desaceleração no mundo.

Mas o Brasil vai entrar nisso e a Volkswagen é um dos grandes players do mundo hoje em carros elétricos. Pessoalmente, eu acho que é uma boa solução urbana, só que é uma solução mais cara, dispendiosa. O custo dela é um pouco mais alto, tem toda a parte de infraestrutura e de recarga. Então, o Brasil ainda tem muito o que fazer para acompanhar outros países no mundo.

O preço dos carros elétricos ainda é algo que pesa para o consumidor. Como a Volks pretende trabalhar para deixar os modelos mais acessíveis?

Esse também é um grande desafio das montadoras, porque, no final, também somos uma empresa de alta tecnologia. E os carros cada vez mais com mais tecnologia, tem muito componente; e o carro elétrico tem muita tecnologia embarcada.

Não adianta continuar produzindo carros híbridos e elétricos trazendo coisa de fora. Para conseguir baratear, você precisa desenvolver essa tecnologia aqui no Brasil. Com isso o carro fica competitivo em relação aos modelos a combustão.

Você também precisa estimular essa cadeia de fornecimento aqui dentro, então é isso que a gente tem feito: a gente investe também no nosso parque de fornecedores, só na Volkswagen são mais de 3 mil fornecedores que realmente estão com a gente participando desse desenvolvimento.

Como é isso do ponto de vista de mão de obra? Um carro elétrico demanda de especialista especial especializada do que um carro a combustão?

Sim, acho que tudo que requer uma nova tecnologia, os colaboradores também vão precisar se adaptar a essas novas chegadas. Então, quando a gente vai montar um carro híbrido, a gente não olha só os componentes do carro, mas principalmente o desenvolvimento. Ou seja, nós olhamos muito para a equipe de engenharia e software.

Hoje, o carro tem ganhado cada vez mais tecnologia: é radar, freia sozinho, acelera sozinho e o airbag. Tudo isso é bastante complexo, então a gente investe muito no treinamento da engenharia, tanto que a Volkswagen está aumentando a quantidade de engenheiros aqui no Brasil para poder produzir esses carros.

Além disso, a nossa linha de montagem também passa por treinamentos. E não podemos esquecer do cliente: ele vai comprar um carro híbrido, então ele precisa ser bem atendido e passar pela manutenção da empresa não imposta se estão em São Paulo, Rio Grande do Sul ou Bahia.

Nós temos uma nova geração de consumidores que estão optando por não ter carro próprio. Como você enxerga isso e o crescimento do segmento de aluguel de carros?

A sociedade claro evolui, muda, mas é o que eu digo sempre: a necessidade de mobilidade vai sempre continuar existindo. Por mais que você não queira comprar um carro e opte por usar o Uber, tudo bem. O Uber precisa de um carro e eu também vendo o carro para o Uber, para locadoras, para taxistas. Os canais vão mudando, mas o cliente continua tendo a necessidade de mobilidade.

Então, a gente se adapta a esse cliente. Por exemplo, a Volkswagen tem o Sign&Drive, que você pode alugar um carro por um valor mensal e você tem tudo, manutenção, seguro… Nós estamos trazendo outros modelos de negócio para realmente nos adaptarmos para esse cliente.

Para os próximos anos quais são os carros que vocês estão planejando

O que eu posso dizer é nós vamos lançar 16 carros até 2028. Essa é nossa ofensiva recente de veículos.

Você percebeu uma mudança do gosto do consumidor motorista brasileiro ao longo dos últimos anos?

CP: Sim, mudou muito o comportamento do consumidor. As SUVs cresceram não só no Brasil, mas no mundo inteiro, e já representam 45% das vendas no Brasil. Isso é recorde. Antigamente, o carro mais popular aqui era o hatch, como Gol. As pessoas compravam os carros menores e o mercado mudou.

Acho que a gente acertou na parte de inteligência da Volkswagen de mudar o lineup também para se adaptar a isso. O consumidor está mudando e a gente tem que adaptar os nossos carros de acordo com essa necessidade dele.

Publicado no Money Times