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Entrevista

Pandemia pode gerar mudanças positivas na América Latina, diz FMI

Em meio a uma difícil situação econômica, os países latino-americanos foram capazes de evitar crises financeiras e fiscais, disse Alejandro Werner

20/12/2020 17h00

Foto: Divulgação

O diretor para as Américas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner, disse à AFP que a pandemia de coronavírus que atingiu a América Latina pode - com as medidas corretas - ser uma oportunidade de mudanças positivas em uma região que precisa, imperativamente, melhorar em matéria de igualdade.

Werner destacou que, em meio a uma difícil situação econômica com forte diminuição do comércio, os países latino-americanos foram capazes de evitar crises financeiras e fiscais.

Pergunta: Existem soluções que sejam aplicáveis de forma generalizada pelos países da América Latina que permitam pensar em uma recuperação e evitar uma "década perdida"?

Resposta: Acredito que os principais ingredientes de sucesso para evitar uma "década perdida" são, primeiro, que haja medidas para manter a estabilidade macroeconômica.

Segundo os países da América Latina tomaram medidas excepcionais que ajudaram a evitar uma crise maior. Este apoio (à economia) tem que continuar para cobrir a brecha até que a pandemia esteja sob controle.

E o terceiro são as medidas para retomar um crescimento potencial e inclusivo. Esta agenda não é nova para a região, mas se tornou mais urgente.

Alguns países se encontram prestes a implementar reformas estruturais importantes: em quais aspectos da economia regional os governos devem se concentrar?

Creio que os temas de igualdade social passaram para um primeiro plano, inclusive antes da pandemia, mesmo em países com instituições relativamente sólidas como Chile, e agora são uma necessidade absolutamente urgente que precisa que ser resolvida para que a região avance com outras prioridades.

A América Latina continua sendo a região mais desigual do mundo, apesar do progresso na redução da desigualdade nas últimas décadas.

A pandemia exacerbou a desigualdade de renda e das oportunidades por seu impacto desproporcional nos trabalhadores pouco qualificados, nas mulheres, juventude e aqueles que já estavam vivendo às margens da sociedade.

A pobreza também está aumentando. As análises preliminares sugerem que, sem políticas de ajuda, Argentina, Brasil, Colômbia e México teriam registrado um aumento da pobreza de 30 milhões de pessoas.

No entanto, as decisivas ações tomadas pelos responsáveis pelas políticas reduziram este número para cerca da metade.

Em longo prazo, como os governos da América Latina podem combater a desigualdade?

Antes de mais nada, [devem] investir nas pessoas para fazer com que a economia seja mais resiliente. E isso implica acesso à saúde - incluindo uma distribuição rápida e justa da vacina -, à educação, à formação e às tecnologias digitais.

A segunda coisa é investir na inclusão financeira. É vital garantir o acesso às finanças, especialmente para as mulheres. E o terceiro é uma reforma fiscal para fazer um sistema (tributário) mais progressivo e fortalecer o cumprimento fiscal, com uma rede de segurança social que precisa ser expandida de forma seletiva.

Está otimista sobre os anos "pós-pandemia"?

A crise pode se transformar no gatilho de mudanças que antes eram difíceis de implementar.

À medida em que nos recuperarmos da crise da covid-19, os governos poderão tomar medidas para que esta recuperação beneficie as gerações atuais e futuras, ao torná-la mais inclusiva, sustentável e amigável com o meio ambiente.

Este último fator é particularmente importante, se quisermos evitar um custo humano e econômico potencialmente catastrófico de um aumento dos níveis do mar, um aumento das temperaturas, uma mudança dos padrões das chuvas e grandes perdas de produção.

Estou otimista, porque todos os países da região levam esta questão muito a sério.

Fonte: France Presse – AFP