20/12/2025 11h29
Foto: Divulgação
O governo federal apresentou a Avaliação Estratégica do Plano Nacional de Logística (PNL) 2050 com um diagnóstico que aponta desequilíbrio da matriz de transportes, dependência excessiva do modal rodoviário, subutilização das ferrovias, gargalos no escoamento de cargas e problemas de integração no transporte de passageiros. O documento, apresentado pelo secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, também identifica baixa qualidade de vias rodoviárias secundárias, saturação de eixos logísticos e vulnerabilidade do sistema às mudanças climáticas.
“A cada cinco anos, atualizamos e aprimoramos os planos de transporte rodoviário e ferroviário. Com isso, conseguimos integrar os diversos modais de maneira mais lógica, conectando-os por meio de corredores logísticos. O PNL 2050 traz dados relevantes, com uma matriz que realmente retrata a realidade do país”, afirmou Santoro.
O plano, construído a partir de matrizes origem-destino de cargas e passageiros, modelos de simulação da rede nacional de transportes e análises de fluxos logísticos, também incorporou a escuta da sociedade, com dez encontros técnicos realizados nas cinco regiões do país, entrevistas com representantes do setor produtivo e cinco consultas públicas.
“O trabalho desenvolvido no âmbito do PNL 2050 busca entregar um plano de Estado, que atenda efetivamente às demandas do país. É fundamental que o Brasil tenha uma carteira estruturada de projetos, porque, sem projetos, mesmo com recursos disponíveis, a execução demora. O PNL dará a diretriz necessária para que possamos realizar esses projetos”, afirmou Jorge Bastos, diretor-presidente da Infra S.A.

Lançamento do Plano 2050 - Foto: Michel Corvello - MT
A partir desse diagnóstico, o plano identificou problemas relevantes no transporte de cargas, como dificuldades no escoamento da produção para exportação, atendimento ao mercado doméstico e abastecimento interno, além de gargalos logísticos na origem das cargas e no transporte de insumos essenciais.
No transporte de passageiros, foram observadas a saturação de eixos rodoviários e aeroportuários, a falta de acessibilidade e a ausência de integração territorial, levando o plano a incorporar, pela primeira vez, uma abordagem intermodal para o deslocamento de pessoas.
Ferrovias, hidrovias e portos: equilibrando a matriz
O PNL 2050 tem como objetivo equilibrar a matriz de transportes, valorizando modais de maior capacidade e eficiência, como ferrovias, hidrovias, cabotagem e portos. A diretriz é estruturar corredores integrados, capazes de conectar áreas produtoras, centros de consumo e mercados internacionais, com ganhos de eficiência e redução de custos.
“O PNL estabelece um novo paradigma de planejamento em transportes no Brasil, ao criar um processo contínuo em que, a cada nova edição, aprendemos, realizamos investimentos e, com os dados obtidos, retroalimentamos esse processo. Isso destaca a importância de perenizar o planejamento e do diálogo interfederativo construído com estados e sociedade”, afirmou Tetsu Koike, diretor de Programa de Políticas Setoriais, Planejamento e Inovação do Ministério de Portos e Aeroportos.
Para transformar essas diretrizes em ações concretas, o Ministério dos Transportes lançou a Política Nacional de Concessões Ferroviárias, estabelecendo regras claras de planejamento, governança, sustentabilidade e financiamento, combinando recursos públicos e privados.
A carteira do ministério prevê oito leilões ferroviários, somando mais de 9 mil quilômetros de trilhos, com expectativa de cerca de R$140 bilhões em investimentos diretos e potencial de alavancar até R$600 bilhões ao longo do desenvolvimento dos projetos.
A expansão da malha ferroviária é estratégica para reduzir custos logísticos, ampliar a capacidade de transporte de cargas e diminuir a dependência do modal rodoviário em longas distâncias.
“Nós estamos trabalhando para viabilizar os projetos da carteira. Hoje, portos, rodovias e ferrovias estão conectados à estratégia do PNL, e com recursos, legislação, governança e vontade política, podemos desenvolver o setor de infraestrutura no país”, completou o secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro.
Mais eficiência nas estradas
Mesmo com a ampliação de outros modais, o transporte rodoviário segue como eixo central da logística nacional, especialmente no deslocamento da população e na distribuição de cargas. Garantir a qualidade da malha existente exige investimentos contínuos e modelos eficientes de gestão.
Dados da Pesquisa CNT de Rodovias 2025 ajudam a dimensionar o cenário atual. Segundo levantamento da Confederação Nacional do Transporte, 37,9% dos 114.197 quilômetros avaliados foram classificados como ótimos ou bons, avanço de cinco pontos percentuais em relação a 2024. No mesmo período, o percentual de rodovias consideradas ruins ou péssimas caiu de 26,6% para 19,1%.
Esses resultados reforçam a importância do planejamento estratégico e das ações do Ministério dos Transportes voltadas à modernização e expansão da malha. Em menos de três anos, a pasta realizou 22 leilões rodoviários, somando 10.009 quilômetros concedidos e R$247 bilhões em investimentos. Para 2026, estão previstos mais 13 leilões, com expectativa de R$148 bilhões adicionais.
“Planejar é extremamente importante, não apenas para dar previsibilidade a investidores e à população, mas também para definir onde investir e quando realizar obras. Isso impacta diretamente no custo do investimento”, ressaltou a secretária nacional de Transporte Rodoviário, Viviane Esse.
Próximos passos
Durante o evento, foi assinada a portaria que abre a consulta pública sobre a Avaliação Estratégica do PNL 2050 apresentada nesta quinta-feira. A iniciativa permitirá que a sociedade contribua para o aprimoramento do diagnóstico e para a definição das prioridades do plano. A consulta pública estará disponível a partir desta sexta-feira (19) e seguirá até 18 de janeiro de 2026, por meio da plataforma Participa + Brasil.
O PNL 2050 é o primeiro plano formulado sob as diretrizes do Planejamento Integrado de Transportes (PIT), instituído pelo presidente Lula, em maio de 2024, pelo Decreto nº 12.022/2024. O objetivo é aumentar a competitividade nacional, reduzir desigualdades regionais e apoiar decisões estratégicas de longo prazo.
“Desde 2023, o Governo do Brasil entende que o planejamento é uma função fundamental, não para dirigir cada etapa do país, mas para orientar o progresso nacional. Só assim conseguimos tornar os investimentos estratégicos e convergir para a solução de passivos históricos”, completou a secretária nacional de Planejamento do Ministério do Planejamento e Orçamento, Virgínia de Angelis.
Após a conclusão do período de consulta pública, serão definidos os cenários-meta preliminares, etapa que orientará a priorização dos projetos e a consolidação das diretrizes do plano, antes de sua incorporação às metas do PIT.