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Artigo

Por que não Parque São Braz?

Waldeck Ornélas

23/02/2024 06h11

Foto: GOVBA - Divulgação

O relançamento do projetado VLT do Subúrbio, adotando em definitivo o veículo leve sobre trilhos, destinado a substituir o antigo trem do Subúrbio, trouxe, em boa hora, não apenas a visão de um modal de transporte, mas, conjugada, uma preocupação com o desenvolvimento urbano da área atendida, que inclui, como projeto emblemático, o retrofit do antigo complexo industrial da Fábrica São Braz, em Plataforma.

O subúrbio de Salvador constitui área privilegiada, localizada à beira-mar, ao longo da costa da Baía de Todos os Santos. Trata-se de uma faixa de terra estreita, tendo a ocupação, predominantemente desordenada, subido a encosta da cidade.

Embora Paripe, na extremidade norte do chamado Subúrbio Ferroviário, tenha sido, no passado, zona de veraneio de moradores mais abastados de Salvador, toda a região terminou por assumir um perfil popular, a partir da intensa ocupação pela população migrante, formada principalmente pelos refugiados das secas que, recorrentemente, assolam o nosso sofrido Semiárido.

Com percurso previsto, na versão anterior, até o bairro do Comércio, permitindo o acesso à Cidade Baixa, e integração com o metrô, à altura da Soledade, o VLT parece ter sido limitado, agora, à substituição pura e simples do antigo trem, atendendo aos reclamos da população, que ficou sem o seu tradicional meio de transporte.

A melhoria da mobilidade no Subúrbio é uma necessidade antiga. Em meados dos anos 1970, quando da elaboração do Plandurb, na gestão do prefeito Jorge Hage, capitaneamos a implantação de uma linha de integração trem-ônibus, que ligava Paripe ao Campo Grande, com veículos dotados de ar-condicionado e a mesma tarifa do ônibus, subsidiada pela Prefeitura, atendendo aos moradores do Subúrbio e usuários em geral. Posteriormente esse serviço foi desativado, em face da tradicional descontinuidade administrativa que marca as nossas gestões públicas, particularmente em relação ao planejamento urbano.

Em outro momento, como secretário de Planejamento do Estado, a quem estava vinculada a Conder, então Companhia de Desenvolvimento do Recôncavo, tive a oportunidade de modernizar os terminais de embarque e o sistema operacional da travessia Ribeira-Plataforma, valorizando o uso do modal hidroviário em nossa cidade. Esse continua ativo.

Guardo, portanto, comigo, forte vinculação com a área, uma das mais carentes de Salvador, razão pela qual permito-me, no presente, duas sugestões:

Uma, refere-se à visão multifuncional dos projetos, que parece ser sempre a melhor alternativa para otimizar infraestruturas, principalmente no ambiente urbano. Como o projeto executivo do VLT encontra-se ainda em fase de desenvolvimento, é indispensável considerar a alternativa do acesso ferroviário, por bitola larga, ao Porto de Salvador, visando a operação noturna, com trens cargueiros, destinados principalmente à movimentação de contêineres. Numa cidade reconhecidamente pobre, da qual a indústria foi afastada, é de fundamental importância preservar e potencializar as poucas opções econômicas existentes, tão relevantes para a geração de trabalho e renda para a população.

Outra, de caráter cultural. É que a denominação “Parque das Ruínas” atribuída ao equipamento a ser instalado em Plataforma, meritório sob todos os aspectos, parece, no entanto, infeliz, porque projeta uma visão negativa da área. Porque não “Parque São Braz”, para elevar a autoestima local e preservar a memória do passado arquitetônico e industrial da Península de Itapagipe e do Subúrbio?

Em tempo: do outro lado da Enseada dos Tainheiros, na Ribeira, um outro antigo complexo industrial, o da Fábrica de Linhos Fátima, atualmente sede do projeto Fábrica Cultural, saudável iniciativa da artista Margareth Menezes, atual ministra da Cultura, também espera por sua recuperação.

Waldeck Ornélas - especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.

Publicado em CORREIO 24horas

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