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Transporte Aquaviário

Porto do Mucuripe tem importação recorde de trigo em 5 anos

Processamento da matéria-prima é feita principalmente na orla de Fortaleza

09/09/2024 08h48

Foto: CDC - Divulgação

O Porto do Mucuripe (oficialmente denominado como Porto de Fortaleza) encerrou o primeiro semestre de 2024 batendo o recorde na importação de trigo com o maior valor em 5 anos. Entre janeiro e junho deste ano, o local recebeu 577 mil toneladas do grão, aumento de 7,5% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram importadas 537 mil toneladas.

Os dados são da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e da plataforma Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Desde 2022, o Porto do Mucuripe aparece como o maior polo trigueiro do País, segundo a Companhia Docas do Ceará (CDC), autoridade portuária responsável pelo Mucuripe.

Esse crescimento na importação ainda mantém certa estabilidade na série histórica da Antaq, iniciada em 2019, de chegadas de trigo acima de 500 mil toneladas no local. Apesar disso, o melhor primeiro semestre do polo trigueiro do Mucuripe foi em 2016, quando foram importadas 640 mil toneladas da matéria-prima. 

O trigo chega em Fortaleza para processamento sobretudo nos três dos principais moinhos do País, instalados no bairro Cais do Porto. São eles: Moinho Dias Branco, J. Macêdo — Moinho Dona Benta e Grande Moinho Cearense. Dos locais, saem a farinha de trigo e o farelo para matéria-prima para demais produtos, como massas e biscoitos.

Importação do trigo

Dados da Antaq apontam que o trigo importado que chega ao Mucuripe vem principalmente da América do Sul. Argentina, com 41,4% da fatia, e Uruguai, com 20,3%, são, respectivamente, o primeiro e o terceiro países de onde mais se compra a matéria-primeira. Na segunda posição aparece a Rússia, com 29,3% do mercado.

Para importar o produto, os três moinhos da Capital constituem, desde 1996, uma empresa que se dedica exclusivamente à importação e distribuição de trigo no porto, chamada de Terminal de Grãos de Fortaleza (Tergran). 

A M. Dias Branco, a J. Macêdo e o Grande Moinho Cearense são sócios e detém participações iguais no Tergran: 33,3%. Segundo dados disponibilizados no site da empresa, ela controla desde 2000 "a armazenagem do armazém A-2, funcionando como um tipo de pulmão para a atividade portuária".

Em 2021, o Terminal de Granel Sólido Vegetal (oficialmente denominado MUC01) foi arrendado pela Tergran pelo valor de outorga de R$ 1 milhão, expandindo as atividades e controlando os dois terminais de trigo do porto. O arrendamento do equipamento tem período de 25 anos e contará com investimentos da ordem de R$ 50 milhões.  

Apesar do alto volume de trigo vindo de outros países para o Mucuripe, o produto é somente o segundo mais movimentado no terminal. Conforme a Antaq, no primeiro semestre de 2024, a maior importação foi de petróleo e derivados (sem óleo bruto), com 753 mil toneladas adquiridas.

Impacto no mercado local

De acordo com o economista Alex Araújo, essa alta na importação tem justificativas tanto interna quanto externamente. No mercado brasileiro, as enchentes no Rio Grande do Sul podem ter influência, haja vista o protagonismo daquele estado na produção da matéria-prima.

"Esse trigo importado é essencial para manter a produção industrial local, especialmente em um momento em que o principal produtor nacional, o Rio Grande do Sul, sofreu com enchentes, prejudicando sua colheita. No mercado externo, esse aumento na importação sinaliza uma maior dependência do Brasil das commodities internacionais para atender à demanda local, o que pode influenciar o equilíbrio da balança comercial de produtos agrícolas", classifica.

Com o real valendo menos do que o dólar, o preço de produtos derivados do trigo sobe, como demonstrado em levantamento da Neogrid. Na cesta básica de agosto, o produto que teve a maior alta foi a farinha de trigo, com elevação de 9,5% no preço. 

"O trigo é uma commodity, o que significa que seu preço é definido no mercado global, e flutuações cambiais, especialmente a recente correção do dólar, têm impacto direto sobre o custo de importação. Mesmo com mais trigo entrando no País, o valor pago pelo insumo está mais elevado devido à desvalorização do real frente ao dólar", esclarece.

Alex Araújo ainda atenta que o trigo compõe a base alimentar nacional, e seus derivados, como pães, bolos e massas, devem continuar elevando as importações da matéria-prima nos meses seguintes.

"O trigo importado no Ceará é principalmente utilizado no beneficiamento para a produção de farinha, massas e biscoitos, atividades lideradas por grandes indústrias. Além de ser um insumo essencial para a indústria alimentícia, o trigo é utilizado na produção de pães e produtos panificados, itens essenciais na cesta básica dos brasileiros", diz.

Expertise e união favorecem polo trigueiro em Fortaleza

Augusto Fernandes, CEO da JM Negócios Internacionais, empresa que atua como despachante aduaneiro, recorda que a liderança do Mucuripe na importação de trigo é recente, mas deixou para trás importantes peças do segmento portuário, como o porto de Santos, o maior da América Latina.

Para ele, a consolidação do porto da capital cearense, já associado com a moagem do trigo desde a primeira metade do século XX, além da Tergran, que une os três principais moinhos do Estado, favorecem o cenário positivo.

"A joint venture que existe das três empresas favorece muito a organização, a compra e o desenvolvimento na logística e na aduana do produto. A preservação do dólar no primeiro semestre é outro ponto importante. Tudo isso contribui, já vindo um trabalho desde 2022, em 2023 e agora em 2024, tendo o ápice desse trabalho", analisa.

Outro cenário que contribui para Fortaleza ser o principal importador de trigo é o custo-benefício. Segundo Augusto Fernandes, dos três portos brasileiros com condições de se consolidarem como portos trigueiros, o do Mucuripe é o que reúne os melhores requisitos.

Fonte: Diário do Nordeste