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Artigo

Que país é esse?

Bianca Alves de Mesquita

06/06/2021 06h06

Foto: Divulgação

Ao completar 49 anos de criação do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado no dia 5 junho, a Organização das Nações Unidas (ONU) declara o período entre os anos de 2021 - 2030 como sendo a “Década da ONU da Restauração de Ecossistemas”.

Ao instituir um novo foco para os próximos dez anos, a ONU desenvolve a demanda e a oportunidade única para a criação de empregos, segurança alimentar, enfrentamento da mudança do clima, conservação da biodiversidade e fornecimento de água.

Duas agências da ONU lideram a implementação da Década, a ONU Meio Ambiente e a ONU - FAO que são as agências especializadas do Sistema ONU que trabalha no combate à fome e à pobreza por meio da melhoria da segurança alimentar e do desenvolvimento agrícola.

A Restauração de Ecossistemas é considerada vital para reduzir ou reverter os impactos causados pelo ser humano ao meio ambiente. Segundo a ONU, a degradação dos ambientes terrestres e marinhos já compromete o bem-estar de 3,2 bilhões de pessoas e custa cerca de 10% da renda global anual em perda de espécies e serviços ecossistêmicos.

Com de gerar diversos benefícios, a restauração do ecossistema tem como foco a mitigação das mudanças climáticas, da conservação da biodiversidade que, inclusive, apresenta uma importância também econômica. Além da provisão de serviços ecossistêmicos e a melhoria da qualidade de vida do homem.

O objetivo principal da data é de conscientizar as populações ao redor do mundo a respeito da importância de proteger os recursos naturais. Além de adquirirem uma postura consciente sobre a preservação do planeta. O Dia Mundial do Meio Ambiente para nós brasileiros, infelizmente, não tem muito a comemorar e, sim nos indignar, entristecer e envergonhar.

Nos últimos dois anos, o país apresentou os piores níveis de degradação ambiental com fortes impactos ao ecossistema terrestre e marinhos registrados. Desde meados de 2020 ocorrem focos de incêndio florestal em quantidade elevada na região do Pantanal e nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Segundo registros, o fogo já consumiu mais de 10% do Pantanal, além de reduzir espécies da fauna.

Nos últimos 12 meses, a devastação na Amazônia já contabilizou uma área de 6.756,73 km² de florestas. Durante a pandemia do novo coronavírus, o bioma apresentou um aumento de 25% nos alertas de desmatamento, divulgados pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) do Inpe.

Estudos mostram que a perda da biodiversidade, desmatamento e extinções de animais podem acarretar em surtos de doenças. Um dos principais riscos é o surgimento de doenças como as zoonoses (doenças que passam de animais para humanos), podem desencadear novas pandemias como a do novo coronavírus.

Lixo no mar mata por ano 100 mil animais marinhos

Já os impactos no meio ambiente marinho, não são menores. A poluição marinha provocada pelo lixo jogado ao mar leva, a cada ano, oito milhões de toneladas de plástico que vão parar nas águas dos oceanos matando 100 mil animais marinhos.

Segundo o Programa Ambiental das Nações Unidas (PNUMA), 90% de todos os detritos dos oceanos são compostos por plástico. Cerca de 700 espécies marinhas são afetadas pela poluição plástica nos mares, incluindo mais de 260 espécies sob algum grau de ameaça de extinção.

Ecossistema ainda sofre pelos impactos ambientais

O vazamento de cinco mil toneladas de óleo que atingiu o litoral do Nordeste e parte do Sudeste do Brasil em 2019 foi considerado o maior impacto ambiental, por derramamento de óleo, causado no país em termos de extensão.

Os prejuízos ambientais foram muitos: contaminação em estuários, nos rios, nos manguezais, nas praias, nos corais de recifes. As manchas chegaram a comprometer muitos desses ecossistemas que levarão muitos anos para serem restaurados. Mesmo após dois anos do acidente ambiental, ainda há efeitos nocivos à vida de pescadores artesanais e a fauna marinha, principalmente das tartarugas e aves. A informação foi confirmada pelo Ibama, Marinha do Brasil e Projeto Tamar que atua na preservação de espécies marinhas em extinção na região.

Não bastasse os inúmeros acidentes ambientais dos últimos dois anos ocorridos no Brasil, a imagem internacional do país piora a cada dia  com as descobertas de  envolvimento de representantes dos Ministério do Meio Ambiente ( MMA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em esquema de contrabando florestal. Em tese, quem deveria proteger e preservar são apontados como praticantes de crimes contra o meio ambiente brasileiro. Aliás, o Brasil já se tronou preocupação mundial tanto para casos de impactos ambientais, e socioambientais, como também para questão de saúde virando motivo de piada até para o representante do Vaticano. O Papa Francisco confirma que o “Brasil não tem salvação”. Assim como a música do inesquecível Renato Russo, os brasileiros conscientes se perguntam: Que país é esse?! Que ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação...

Bianca Alves de Mesquita é bióloga (PUC-Rio) e mestranda em Biodiversidade em Unidades de Conservação pelo Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro – JBRJ.

Publicado no Portos e Navios

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