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Editorial

Recuperação da economia depende da área privada

O Brasil recuperou somente 30% dos cerca de R$ 486 bilhões perdidos durante a última recessão econômica

11/02/2020 10h14

Em meio àquela que alguns estão classificando como a maior crise econômica da história do Brasil, um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), publicado no jornal O Estado de S.Paulo, chegou a uma conclusão que só faz aumentar a preocupação com os rumos futuros da economia nacional. De acordo com os dados divulgados, pela primeira vez o governo não está contribuindo para a recuperação da economia, o que é grave especialmente pela grande dependência que, tradicionalmente, o setor econômico nacional tem das iniciativas e políticas governamentais

Atualmente, sete entre as 12 atividades econômicas estão operando abaixo do período pré-crise: indústria de transformação, comércio, informação e comunicação, construção, transporte e armazenamento, atividades financeiras e outros serviços. E, segundo afirma a economista Juliana Trece, pesquisadora do Ibre/FGV e responsável pelo levantamento, das oito atividades que retraíram na recessão, apenas os serviços imobiliários já se recuperaram após 20 trimestres, o que é muito pouco ante a complexidade e diversidade da economia brasileira.

Depois de mais de dois anos de crescimento, o Brasil recuperou somente 30% dos cerca de R$ 486 bilhões perdidos durante a última recessão econômica, que se entendeu de 2014 a 2016 e o Produto Interno Bruto (PIB) continua 5,3% abaixo do nível pré-recessão, faltando, em valores absolutos, cerca de R$ 338 bilhões para que volte ao patamar pré-crise.

Nas últimas décadas, o Brasil já passou por várias fases recessivas na economia, mas a diferença do momento atual para os anteriores, segundo as análises dos especialistas da FGV, é que a receita que vem sendo aplicada pelo Ministério da Economia, sob a batuta do ministro Paulo Guedes, trocou diretrizes de política econômica muito focadas pelo lado da demanda, como a do governo Dilma Rousseff, por uma agenda muito focada no lado da oferta. E uma das explicações para a lentidão no processo de recuperação é que o baixo consumo do governo, que, desde o término da recessão, teve uma retração de 1,2%, ou seja, a administração pública não está fazendo sua parte para a recuperação econômica.

Diferentemente de administrações anteriores, quando o governo, além de estimular as atividades do setor privado, incrementava investimentos e o seu consumo, aumentando sua participação como forma de buscar meios de ativar a economia, as autoridades da área econômica atualmente estão deixando de fazer sua parte. E, mesmo que isto esteja acontecendo por absoluta falta de recursos para investir, o fato concreto é que a ausência governamental realmente contribui para tornar muito mais lento o processo de recuperação.

De qualquer modo, as perspectivas para 2020 são mais positivas e, segundo resultado do boletim Focus, publicação semanal elaborada pelo Banco Central com base nas perspectivas das cem principais instituições financeiras, a expectativa é que haja um crescimento em torno de 2,20%. O que é bom, mas ainda nos deixa bem distantes do que se possa chamar de um crescimento sustentável.

Resta esperar que tenham razão aqueles que criaram o slogan "Sou brasileiro e não desisto nunca" e que o setor privado nacional possa ter forças e dinamismo suficientes para superar os grandes problemas que a crise lhe proporciona. E o Brasil consiga, assim, acelerar os passos nesta corrida pela recuperação, mesmo sem contar com o "empurrão" da área governamental.