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Sustentabilidade

Redução de gases do efeito estufa refletirá pouco sobre o clima

Relatório do PNUMA mostra queda de 7% das emissões durante a pandemia

10/12/2020 08h03

Foto: Divulgação

A queda de até 7% das emissões de gases do efeito estufa resultantes dos impactos da pandemia da Covid-19 terá um reflexo insignificante sobre o aquecimento global. Para aproximar o mundo do alcance da meta de 2°C do Acordo de Paris sobre Mudança Climática, é preciso que os governos se empenhem numa recuperação verde pós-pandemia cortando até 25% das emissões. É o que aponta um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

O Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2020 constatou que, apesar da queda das emissões de dióxido de carbono causadas pela pandemia de Covid-19, o mundo está caminhando para um aumento de temperatura superior a 3°C ainda neste século.

Entretanto, se os governos investirem na ação climática como parte da recuperação da pandemia e solidificarem os compromissos para zerar as emissões líquidas, com mais comprometimento na próxima reunião sobre o clima — que ocorrerá em Glasgow em novembro de 2021 — podem levar as emissões a níveis amplamente consistentes com a meta de 2°C.

Os governos ainda poderiam alcançar a meta mais ambiciosa de 1,5°C ao combinar uma recuperação verde pós-pandemia com movimentos rápidos para incluir novos compromissos de emissões líquidas zero na atualização de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Acordo de Paris.

Redução devido quarentena

As emissões de dióxido de carbono devem cair até 7% em 2020, segundo estimativas, como reflexo da redução de viagens, menor atividade industrial e menor geração de eletricidade no contexto da pandemia. Entretanto, esta queda se traduz em uma redução de apenas 0,01°C no aquecimento global até 2050. Enquanto isso, as NDCs continuam sendo inadequados.

— A queda nas emissões que presenciamos este ano não foi estrutural. É preciso que seja uma redução gradual, continua, de longo prazo e global. As emissões não caíram porque adotamos medidas de eficiência energética, mudamos nossas tecnologias, ou adotamos combustíveis menos poluentes — explica Joana Portugal Pereira, da Coppe/UFRJ, uma das autoras do relatório que escreveu o capítulo sobre as emissões de gases do efeito estufa.

A cada ano, o Relatório sobre a Lacuna de Emissões avalia a diferença entre as emissões previstas e os níveis consistentes com as metas do Acordo de Paris para limitar o aquecimento global neste século abaixo de 2°C — almejando 1,5°C. O relatório conclui que em 2019 as emissões totais de gases de efeito estufa, incluindo a mudança no uso do solo, atingiram um novo recorde de 59,1 gigatoneladas de CO² equivalente (GtCO2e). As emissões globais de gases de efeito estufa cresceram em média 1,4% ao ano desde 2010, com um aumento veloz de 2,6% em 2019 devido à intensificação dos incêndios florestais.

Uma recuperação verde pós-pandemia poderia reduzir até 25% das emissões esperadas para 2030, se mantidas as políticas em vigor antes da Covid-19. As medidas para priorizar a recuperação fiscal verde incluem apoio direto a tecnologias e infraestrutura de emissões zero, redução dos subsídios aos combustíveis fósseis, barrar novas usinas de carvão e promover soluções baseadas na natureza, incluindo a restauração de paisagens em larga escala e reflorestamento.

Até agora, o relatório conclui que as ações para uma recuperação fiscal verde têm sido limitadas. Cerca de um quarto dos membros do G20 tem dedicado parte de seus gastos, até 3% do PIB, a medidas de baixo carbono.

Consumo crítico

O relatório também constata que o número crescente de países se comprometendo com metas de emissões líquidas zero até meados do século é um "desenvolvimento significativo e encorajador". No momento da conclusão do documento, 126 países, representando 51% das emissões globais de gases de efeito estufa, haviam adotado, anunciado ou estavam considerando metas de emissão zero.

O documentou também analisou soluções para os setores de transporte marítimo e aéreo, que respondem por 5% das emissões globais. Melhorias na tecnologia e nas operações poderiam aumentar a eficiência do combustível, mas o aumento projetado da demanda significa que isto não resultará em descarbonização e reduções absolutas de CO². Ambos os setores precisam combinar a eficiência energética com um rápido abandono dos combustíveis fósseis, concluiu o relatório.

Fonte: O Globo