Utilizamos cookies de terceiros para fins analíticos e para lhe mostrar publicidade personalizada com base num perfil elaborado a partir dos seus hábitos de navegação. Pode obter mais informação e configurar suas preferências AQUI.

Artigo

Reduzindo importações

Adary Oliveira

11/02/2022 06h01

Foto: Divulgação

Comunicado expedido pela Petrobras no final da semana passada (04/02) traz a informação de que a estatal chegou a um acordo para as minutas contratuais de venda de 100% de sua Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN-III) em implantação no município de Três Lagoas, com o grupo russo Acron. A fábrica está em construção tendo avanço físico de cerca de 80% e, quando ficar pronta, poderá produzir 3.600 t/dia de amônia e 2.200 t/dia de ureia. Em 2021 o Brasil importou 7.787 mil toneladas (US$ 3,0 bilhões) de ureia e 534 mil toneladas (US$231 milhões) de amônia, importantes nutrientes usados na formulação de fertilizantes.

O Grupo Acron é o maior grupo russo produtor de adubos da cadeia integrada de NPK, sendo também o maior produtor mundial de minerais usados na fabricação de fertilizantes. A sua vinda para o Brasil atende à política russa de expansão de negócios na América do Sul. A Rússia é o maior fornecedor de gás natural (GN) para a Europa e construiu recentemente um gasoduto de 3.000 km para fornecer GN para a China. O país é um dos maiores produtores mundiais de fertilizantes e um dos principais supridores do adubo usado no agronegócio brasileiro.

O município de Três Lagoas está localizado na região Centro-Oeste, no Estado do Mato Grosso do Sul, por onde passa o Gasbol, gasoduto que leva o GN da Bolívia para São Paulo e Rio Grande do Sul. O GN é a principal matéria-prima da fabricação da ureia e amônia e o MS desponta como o estado brasileiro de maior produção agropecuária e consumidor, portanto, de fertilizantes. O Brasil importou em média 20,04 milhões de m3/dia de GN da Bolívia em 2021 e o consumo da UFN-III está estimado em 2,4 milhões de m3/dia, havendo disponibilidade de GN no país vizinho para esse suprimento. Do ponto de vista do mercado, tanto no que se refere à oferta de matéria-prima, quanto ao consumo de ureia e amônia, tudo contribui favoravelmente.

A produção dos insumos básicos para a indústria de fertilizantes no Brasil vinha se mostrando pouco atrativa para o setor privado por exigir elevados recursos, ser de alto risco e demandar longo período de maturação. A presença predominante de estatais como controladoras das empresas e como operadoras das unidades, inibia a entrada do capital privado nacional. A experiência da Unigel na operação das fábricas de fertilizantes nitrogenados arrendadas da Petrobras, estão demonstrando que existem margens operacionais de manobra que viabilizam o negócio. A vinda da Acron para o Brasil começa a despertar o setor para as possibilidades de ampliação da exploração das jazidas de Carnalita da mina Taquari-Vassouras, em Sergipe e do planejamento para exploração da Silvinita na Bacia do Amazonas, no centro-oeste do Amazonas e do Pará. O Brasil importa 96,5% do Cloreto de Potássio que utiliza para fertilização do solo, ostentando o título de maior importador mundial, com mais de 10 milhões de toneladas.

Na área do aproveitamento da rocha fosfática há inúmeras possibilidades de ampliação da produção nacional, e da mesma forma que o potássio, existem estudos indicando ocorrências. A vinda dos russos poderia ser vista com certa desconfiança por serem fornecedores dos adubos e perderem mercado com aumento da produção nacional. Não creio que isso seja um fator limitativo forte.

O Brasil tem se posicionado como importante produtor de alimentos e dispõe de vastas terras agricultáveis. A pujança do agronegócio e uso de tecnologias de ponta o favorece e o coloca em posição para atender ao crescente consumo mundial.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

O conteúdo dos artigos é de responsabilidade dos seus autores. Não representa exatamente a opinião do MODAIS EM FOCO.