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Editorial

Respeitar a mulher é essencial

Somente quando as mulheres puderem coexistir, de forma respeitosa e igualitária com os homens, será possível considerar o Brasil como um País desenvolvido.

05/03/2020 10h44

Tem sido nítido o crescimento da presença feminina no mercado de trabalho no Brasil, embora ainda em números menores do que se faria necessário em razão da quantidade de mulheres na população. Em 2018, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a divisão do contingente populacional do País era de 48,3 de homens e 51,7% de mulheres. E, mais importante ainda, a participação das mulheres é praticamente a mesma quando se trata do eleitorado nacional, 51,5% do total de eleitores.

As mulheres já representam a maioria absoluta em muitos dos cursos universitários. Nas áreas de Saúde e Ciências Humanas, elas respondem por 66% e 71% de todos os alunos, respectivamente. Além disso, como um todo, 53% de todos os brasileiros que estão nas universidades são mulheres.

No entanto, apesar de tais números, que poderiam induzir ao enganoso pensamento de que também é crescente papel das mulheres nos centros de decisão, apenas 8% dos 513 deputados federais são do gênero feminino. E a pequena presença das mulheres em segmento tão essencial talvez explique porque as políticas públicas voltadas para a proteção do sexo feminino ainda são ignoradas solenemente. Embora existam no papel, tais políticas públicas raramente são aplicadas em sua real dimensão, daí os números crescentes da violência contra as mulheres, nas ruas, em suas casas e até nos locais de trabalho. 

Um exemplo foi a situação encontrada no campo empresarial, no qual, embora existam exceções que devem ser louvadas, poucas ainda são as empresas que realmente aplicam as normas vigentes voltadas para a proteção das mulheres, de acordo com pesquisa patrocinada pelo Instituto Maria da Penha, o Instituto Vasselo Goldoni e o Talenses Group, grupo empresarial de recrutamento profissional. Realizado em 2019, o estudo ouviu 311 empresas para saber como elas abordam o problema em suas unidades. Intitulada Violência e Assédio contra a Mulher no Mundo Corporativo.

Embora um número expressivo dos que responderam aos questionários (68%) tenham mostrado boa intenção, ao considerar necessário dedicar tempo à abordagem da violência doméstica sofrida por funcionárias, apenas 19% das empresas envolvidas desenvolvem políticas e ações de combate ao problema. Daquele total, 11% declararam que esse engajamento se dá por meio de campanhas de sensibilização e conscientização e somente 9% têm um canal de ouvidoria para apoio à mulher.

O estudo também pesquisou sobre como os empreendedores têm atuado em face do assédio sexual e moral contra mulheres e o setor industrial foi o destaque positivo, pois 74% das empresas do setor afirmam desenvolver iniciativas para enfrentar esses crimes. Em relação aos representantes do setor de comércio e serviços, as porcentagens são de 57% e 54%, respectivamente. No caso do assédio, a maior adesão se dá entre as empresas de perfil profissional (66%) e com um quadro de mais de 499 funcionários (77%), formado, majoritariamente, por mulheres (64%). Os dados mostram que 60% das empresas participantes adotam ações de combate ao assédio e que o canal de denúncias é o principal meio (38%).

Outro indicador importante é relativo ao perfil das empresas que mais se empenham em iniciativas desse tipo. As de grande porte são as que mais se comprometem quanto ao enfrentamento à violência doméstica. Ao todo, 25% das empresas com um quadro de 499 funcionários ou mais investem nisso.

Na semana em que se comemora o dia dedicado à mulher (8 de março), é fundamental que não apenas as empresas e os empresários, mas todos os brasileiros passem a dar mais atenção e importância à preservação dos direitos das mulheres, até porque elas têm os mesmos direitos e deveres que os homens, como é claramente expresso no artigo 5º da Constituição de 1988. É preciso ficar claro que a violência não é somente aquela que se expressa em termos físico, como as agressões e o feminicídio, mas também nas tentativas de menosprezar a capacidade de trabalho das mulheres, seja impondo-lhes salários menores que os pagos aos homens no mesmo patamar na empresa, seja com práticas de assédio moral ou de assédio sexual.

Somente quando as mulheres puderem coexistir, de forma respeitosa e igualitária com os homens, sendo respeitadas e tratadas da forma que todos os seres humanos merecem, será possível considerar o Brasil como um País desenvolvido.

Nesse futuro, que esperamos não ser utópico, mas uma realidade cada vez mais próxima, quando a força da mulher será realmente reconhecida, todos só teremos a ganhar.