19/08/2025 08h25
Décio Lima, presidente do Sebrae Nacional - Foto: Sebrae - Divulgação
O crédito como ferramenta de inclusão social e desenvolvimento econômico foi o eixo central do evento realizado pelo Sebrae nesta segunda-feira (18/8), em Brasília. A celebração dos 30 anos do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe) marcou não apenas a retrospectiva histórica da entidade, mas também o anúncio de novas metas e parcerias para fortalecer a democratização do acesso ao financiamento no país.
Com aporte de R$ 2 bilhões ao Fampe e a previsão de injetar R$ 30 bilhões no mercado nos próximos anos, o Sebrae pretende encerrar 2025 com R$ 12 bilhões em crédito viabilizado para micro e pequenas empresas — um salto expressivo em relação à média de R$ 1 bilhão registrada até poucos anos atrás.
“Hoje já ultrapassamos R$ 6 bilhões e queremos dobrar esse número até dezembro. O crédito é mais do que um instrumento econômico: é a materialização de sonhos e esperança”, afirmou o presidente do Sebrae Nacional, Décio Lima.
Parte central da estratégia é o Programa Acredita Sebrae, sancionado em 2024 pelo governo federal e estruturado em dois pilares: a oferta de garantias complementares via Fampe e o atendimento focado no crédito consciente.
De 2024 a 2025, o programa viabilizou mais de 80 mil operações, além de 606 mil atendimentos, 617 mil horas de capacitação financeira e 200 mil horas de consultoria. A plataforma digital do Acredita registrou 1 milhão de acessos no período. “Não se trata apenas de emprestar dinheiro, mas de orientar os empreendedores para que o crédito seja sustentável e impulsione o crescimento dos negócios”, destacou Lima.
Criado em 1995, no contexto do Plano Real, o Fampe foi pioneiro ao oferecer garantias complementares para micro e pequenas empresas em meio a um cenário de inflação elevada e escassez de crédito. Em 30 anos, o fundo já viabilizou mais de R$ 25 bilhões em financiamentos, consolidando-se como uma das principais políticas de inclusão produtiva no país. Hoje, conta com 33 instituições operadoras, incluindo bancos privados, cooperativas e fintechs.
Crédito digital
Entre os novos parceiros está o Fundo Estímulo, nascido durante a pandemia com foco em crédito digital. Desde 2020, apoiou mais de 5.500 empresas com R$ 360 milhões em empréstimos sem garantias reais. Agora, integrado ao Fampe, deve ampliar sua atuação em regiões de baixa renda e na Amazônia Legal.
“Mais de 90% dos créditos que liberamos foram destinados a áreas vulneráveis, 30% para mulheres empreendedoras e quase 40% para negócios que nunca tinham tido acesso a crédito. Com o Fampe, vamos multiplicar esse impacto”, afirmou o diretor do Estímulo, Lucas Conrado.
O evento recebeu empreendedores que transformaram suas trajetórias com apoio do crédito. Um dos exemplos foi Michel Rocha, 27 anos, dono de uma barbearia em Rio Branco (AC). “Comecei cobrando R$ 5 por um corte. Hoje, o corte custa R$ 70 e consegui empregar meus dois irmãos. O crédito foi a virada de chave que mudou minha vida e a da minha família”, relatou.
Casos como o do Hotel Fazenda Rancho dos Canários e do brechó Roupa Terapia também foram exibidos em vídeos, reforçando a dimensão social do programa. Segundo o Sebrae, as micro e pequenas empresas representam 95% dos negócios no país e foram responsáveis por 1,3 milhão dos 1,7 milhão de empregos criados em 2024. Apenas no primeiro semestre de 2025, 2,6 milhões de novos empreendimentos foram formalizados.
Apesar dos avanços, os desafios persistem. Cerca de 88% das micro e pequenas empresas ainda não conseguem obter crédito no sistema financeiro tradicional. Para o presidente Décio Lima, o papel do Sebrae é justamente “abrir portas” e construir alternativas com bancos, cooperativas e fintechs. “Celebramos 30 anos de vidas transformadas, mas nosso olhar está nos próximos 30, para que cada vez mais empreendedores tenham a chance de crescer com dignidade”, concluiu.